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Políticos e familiares homenageiam Saramago em velório

Políticos e familiares homenageiam Saramago em velório

20 jun 2010 - 12h29
(atualizado às 12h47)
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Lúcia Müzell
Direto de Lisboa

O velório do escritor português José Saramago foi pontuado por palavras de reconhecimento ao autor, famoso por obras como "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" e "O Ensaio Sobre a Cegueira". O corpo chegou sábado à tarde na Câmara Municipal de Lisboa e foi velado até às 12h deste domingo (8h em Brasília), quando foi levado ao cemitério Alto do São João e cremado.

Caixão de Saramago é levado para o crematório, no cemitério Alto do São João, em Lisboa
Caixão de Saramago é levado para o crematório, no cemitério Alto do São João, em Lisboa
Foto: Lúcia Müzell Jardim / Especial para Terra

A visitação permaneceu aberta ao público até às 10h30 (6h30 em Brasília). A prefeitura estima que 20 mil pessoas passaram pelo local entre ontem e hoje para prestar uma última homenagem ao polêmico escritor, também conhecido pelas suas posições políticas de esquerda e pelas discordâncias com a Igreja Católica.

Na última hora de velório, do qual participou o primeiro-ministro português, José Sócrates, mas não o presidente do País, Cavaco Silva, quatro personalidades discursaram em homenagem a Saramago. Primeiro, o presidente da Fundação José Saramago, Carlos Reis, leu trechos de livros do autor e disse que "essa é uma despedida sem adeus". Para Reis, a obra do escritor será eternizada na cultura portuguesa.

Depois, o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, lamentou a morte do camarada e afirmou que Saramago foi muito mais do que um escritor, exaltando a sua luta "de uma vida inteira" pelas liberdades e os direitos humanos.

Sousa foi seguido pela vice-presidente do governo espanhol, María Teresa Fernandes de la Vega, que fez um discurso mais emotivo e provocou lágrimas nos familiares e amigos que acompanhavam a cerimônia no Salão Nobre. "Sinto um enorme pesar pela perda de uma pessoa extraordinariamente querida e um escritor extraordinariamente amado", disse a espanhola

Saramago optou por viver na Espanha depois que Portugal impediu a indicação da sua obra mais polêmica, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, a um prêmio literário europeu.

A ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas, foi a última a se pronunciar. "Ele não crê em Deus, mas se ele existe, certamente Deus o defende", disse Gabriela, depois de falar sobre as críticas às quais Saramago foi vítima ao longo de sua vida por defender posições políticas firmes e opiniões contrárias às religiões.

O discursos estavam sendo retransmitidos para a multidão que aguardava na Praça do Município, em frente ao palácio da Câmara. As personalidades que discursavam foram interrompidas em algumas ocasiões pelos aplausos que se ouviam de fora, especialmente durante a fala de María Teresa.

Viúva mantinha conversa silenciosa com Saramago

A viúva, Pilar Del Rio, estava acompanhada da única filha do escritor, Violante, e de seus dois filhos e netos. Muito serena e sem chorar, Pilar em diversos momentos olhava fixamente para o corpo do escritor, ao lado do qual se manteve o tempo todo. Durante vários momentos dos discursos, se direcionada para Saramago e indicava pelas expressões que concordava com o que estava sendo dito. Em outros momentos, sorria discretamente para o corpo do escritor.

A filha Violante também aparentava tranquilidade. Já os netos, mais jovens, estavam bastante emocionados. Depois dos discursos, uma violoncelista tocou duas músicas, encerrando a cerimônia.

Os jornalistas foram convidados a se retirar e, quinze minutos depois, o caixão descia as escadarias da Câmara, fechado e coberto pela bandeira de Portugal. Na rua, o público aplaudiu Saramago até o momento em que o corpo foi colocado em um carro fúnebre, para ser levado ao cemitério Alto do São João. Dois furgões repletos de coroas de flores enviadas pelas mais diversas personalidades, entre elas os irmãos Castro, de Cuba, acompanharam o cortejo até o cemitério.

No local, milhares de pessoas aguardavam pelo caixão com cravos e rosas vermelhas nas mãos. Ainda coberto pela bandeira nacional portuguesa, o caixão levando o corpo do único escritor de Língua Portuguesa que já recebeu um Prêmio Nobel de Literatura foi levado, a pé, até o crematório do cemitério, em respeito ao desejo de Saramago de ser cremado após a sua morte.

No trajeto, as pessoas jogaram as flores sobre o caixão e chamavam pelo seu nome. A cerimônia de cremação foi reservada a parentes e próximos do autor e durou apenas 20 minutos. As cinzas de Saramago deverão permanecer em Portugal.

Fonte: Especial para Terra
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