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Mundo

Portugueses se despedem de Saramago

19 jun 2010 - 14h23
(atualizado em 21/6/2010 às 10h42)
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Lúcia Müzell
Direto de Lisboa

Debaixo de um forte sol e uma temperatura de 24ºC, os portugueses estão enfrentando cerca de 20 minutos de fila para se despedir pela última vez do escritor José Saramago, que está sendo velado desde às 14h40 (9h30 de Brasília) na Câmara Municipal da cidade. As portas foram abertas ao público apenas às 16h (12h em Brasília).

Morre o escritor português José Saramago:

A organização está deixando as pessoas subirem até o Salão Nobre da Câmara em grupos de 10 pessoas. As coroas de flores em enviadas pelas mais diversas personalidades começam a se acumular desde o hall do prédio.

Na centro do salão, o corpo de Saramago repousa em um caixão aberto, coberto por um tecido branco até o pescoço. Na altura da cintura, apenas duas gérberas vermelhas foram colocadas sobre o escritor. Saramago, que tinha 87 anos, está sem os óculos que utilizava.

Algumas pessoas trazem flores para depositar aos pés do caixão do escritor, o único de língua portuguesa até hoje a conquistar o Prêmio Nobel da Literatura. A maioria dos visitantes presta a última homenagem em silêncio. Os jornalistas estão sendo liberados com restrições para realizarem imagens do velório.

À esquerda do caixão, duas coroas de flores vermelhas e brancas chamam atenção: uma foi enviada pelo líder revolucionário cubano Fidel Castro, e a outra pelo seu irmão, Raúl Castro, que herdou o poder em 2008. Comunista durante toda a sua vida, Saramago manteve uma relação de adoração e rejeição do regime cubano.

Depois de apoiar os irmãos Castro na revolução comunista na ilha, Saramago se opôs à repressão de vozes contrárias ao regime, por parte dos Fidel. Em 2003, após a execução de 75 dissidentes cubanos, declarou que "de agora em diante Cuba segue seu caminho, eu fico aqui". "Cuba perdeu minha confiança e fraudou minhas ilusões", dissera na época.

A única filha do escritor, Violante, e a mulher dele, Pilar Del Rio, chegaram ao velório junto com o corpo, que foi trazido da sua casa na ilha espanhola de Lanzarote pela Força Aérea portuguesa. As duas não quiseram se pronunciar à imprensa. Violante permanece no local e se preserva dos flashs dos fotógrafos com óculos escuros.

"Portugal o acolhe com muito pesar no coração e tristeza por este dia. Foi o nosso maior escritor, tanto pelos seus belos textos como pelas suas posições políticas muito firmes", afirmou a dentista aposentada portuguesa Carmem de Almeida, enquanto aguardava na fila para ver o corpo do intelectual.

"Vai deixar um legado imenso e com muita personalidade, como poucos já fizeram na nossa história. Era um homem de muita coragem", disse o professor José Vitor Cândido, 47 anos.

O caixão chegou à Câmara coberto pela bandeira portuguesa e foi acolhido por uma salva de palmas das pessoas que aguardavam no local. O primeiro-ministro português, José Sócrates, esteve no velório e prestou sua homenagem.

Trinta minutos depois, a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, também esteve no local. "Os grandes escritores são imortais. O que ele fez com a língua portuguesa foi dar a ela uma dimensão global", afirmou, ao deixar o local.

Milhares de pessoas devem passar no velório entre hoje e o meio-dia de amanhã, quando o corpo vai em cortejo até o cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Conforme desejo expressado em vida, Saramago vai ter o corpo cremado e suas cinzas devem ser depositadas no jardim na sua casa, na Espanha.

Fonte: Especial para Terra
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