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Mundo

Imigrantes que vivem em Londres torcem por derrota de Cameron

6 mai 2010 - 07h27
(atualizado às 10h06)
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Lúcia Müzell
Direto de Londres

À medida que a Central Line do metrô londrino vai se distanciando da região central da capital inglesa, os vagões vão sendo invadidos por homens portando longas barbas e túnicas que os cobrem até os pés, e poucas são as mulheres que não usam véu nos cabelos. Na saída da estação de Mile End, que atende ao bairro de Tower Hamlets, as lojas de produtos árabes tomaram conta do comércio, onde as mulheres vestindo burcas vão comprar os mantimentos para suas casas.

Maioria dos imigrantes residentes em Banglatown, periferia de Londres, desaprovam candidato Cameron
Maioria dos imigrantes residentes em Banglatown, periferia de Londres, desaprovam candidato Cameron
Foto: Lúcia Jardim / Especial para Terra

Bem-vindo a Banglatown, região da periferia leste de Londres onde ninguém quer sequer ouvir falar do candidato conservador a primeiro-ministro britânico, David Cameron, que promete reduzir os fluxos migratórios em direção ao Reino Unido como uma das saídas para o Estado retomar o crescimento econômico.

A região ganhou este apelido depois que passou a ser constituída por 65% de imigrantes vindos de Bangladesh, da Índia ou Paquistão, além de asiáticos. No local, apenas 35% da população é formada pelos chamados "britânicos brancos", os britânicos que nasceram no Reino Unido.

"Qualquer um pode vencer a eleição, menos o Cameron. Ele quer colocar a responsabilidade dos problemas do país nos trabalhadores imigrantes", disse Sheewaib Ahmed, que vive há dois anos como feirante no bairro e deixou Bangladesh para tentar melhorar a situação financeira da família, para a qual envia dinheiro mensalmente. "Eles não nos veem como seres humanos que têm dificuldades como qualquer outra pessoa e que lutam para não ver a sua família morrer de fome."

Uma das propostas de campanha de Cameron é fixar metas anuais de trabalhadores estrangeiros permitidos no país como forma de ajudar a restabelecer a situação econômica dos britânicos, cujos índices de desemprego batem recordes após o início da crise econômica global. Seu opositor trabalhista, Gordon Brown, deseja possibilitar direitos limitados aos estrangeiros ilegais - não poderiam trabalhar, por exemplo.

Já o candidato liberal-democrata, Nick Clegg, é o único a ir na contramão. Ele defende que o tempo de residência exigido para a naturalização de um imigrante ilegal seja reduzido de 14 para 10 anos. Por conta disso, a preferência dos eleitores ouvidos pelo Terra em Banglatown é incontestável: todos manifestaram a intenção de votar em Clegg.

Os imigrantes originários de países signatários do Commonwealth - comunidade formada pelo Reino Unido e 54 de suas ex-colônias - têm direito a voto na eleição de amanhã. "Não acredito muito na boa vontade dos políticos, mas acho que o Clegg é o único que teve coragem de apresentar propostas diferentes neste quesito", afirmou Micha Azan, 23 anos, estudante bangladeshiana de filosofia na Universidade de Londres.

Micha, como os demais entrevistados, não aceitou ser fotografada pelo Terra. "A gente prefere manter a discrição, porque já tem muita gente que apoia o Cameron e suas ideias anti-imigração. Vamos tentar combatê-lo pelas urnas, mas não alardeando nossa insatisfação na imprensa", alegou a estudante indiana Ishwari, 22 anos.

Anti-imigração moderada

Apesar de o discurso pela redução da imigração no Reino Unido estar em alta, na prática o trabalho realizado por boa parte dos imigrantes é essencial para a retomada do crescimento da Grã-Bretanha. Por essa razão, especialistas não acreditam que o Estado vá reforçar o controle das suas fronteiras. A tendência é a de que, independente de quem seja o vencedor do pleito, os partidos encontrem uma saída moderada para solucionar a questão, já que os "britânicos brancos" vão continuar rejeitando empregos na construção civil ou em serviços como limpeza - ao contrário da mão de obra estrangeira, que preenche essas vagas.

"Existe uma contradição entre o discurso político e a necessidade do cotidiano. Se a Inglaterra fecha as fronteiras, tudo pararia no país", explica o professor de Relações Internacionais da Universidade de Oxford, Christopher Bickerton. "As pessoas não são contra os imigrantes, só não querem que a própria situação piore. Na medida em que a economia for retomando o seu curso, essa questão voltará a ter pouca importância."

A proposta do candidato liberal-democrata, de aumentar o número de legalizações e facilitar o procedimento de naturalização não parece ser um caminho viável na sociedade britânica. Para Valetino Larcinese, professor do Departamento de governo da London School of Economics (LSE), a medida seria de tal forma impopular que poderia acabar com a carreira política de Clegg - e o candidato está ciente disso.

"Eu acho que ele sequer tentaria, porque em nenhuma condição isso seria aceito pelo britânicos", afirmou Duch. "Ele está dizendo isso agora para agradar o eleitorado que julga a política atual muito rigorosa, mas na realidade ele sabe que não existe a menor chance de colocar isso em prática."

Fonte: Especial para Terra
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