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Mundo

Política externa britânica muda pouco, mas pode beneficiar o Brasil

4 mai 2010 - 10h31
(atualizado às 10h34)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

Não se pode esperar muito engajamento do Reino Unido no cenário externo logo depois que o eleito nas eleições desta quinta-feira tomar posse. A avaliação, feita por analistas ouvidos pelo Terra, é a de que o Estado vai concentrar suas energias para restabelecer as contas públicas - ou ao menos reduzir o maior déficit fiscal interno dos últimos 14 anos. Por isso a Grã-Bretanha deve se afastar das grandes questões internacionais neste ano e no próximo. Entretanto, caso o conservador David Cameron vença, o Brasil pode ser beneficiado indiretamente.

Segundo analistas, se David Cameron vencer, a política externa britânica pode beneficiar o Brasil
Segundo analistas, se David Cameron vencer, a política externa britânica pode beneficiar o Brasil
Foto: Reuters

"A médio prazo, os britânicos vão reduzir o engajamento internacional por causa do estado deteriorado das finanças do governo. Essa redução é inclusive esperada pelos britânicos, já que é caro manter os níveis atuais", explica o diretor do Centro de Ciências Sociais de Oxford, Raymond Duch. O Reino Unido enfrenta atualmente o maior déficit dos últimos tempos - a dívida fiscal pulou de 571 bilhões de libras (R$ 1,5 trilhões), em 2006, para 800 bilhões de libras (R$ 2,1 trilhões) no ano passado, equivalente a 57,5% do PIB do Estado.

A campanha eleitoral vem sendo marcada por um reforço da ideia de que o foco é a política interna, já que o país tem pressa para equilibrar a balança financeira. "Sequer existem determinações muito fixas para cada partido em relação à política externa. Eles propõem muita coisa, mas, francamente, faz muito tempo que a política estrangeira britânica é a mesma coisa e não consigo imaginar o que poderia mudar repentinamente, ainda mais em um momento econômico tão delicado", analisa o professor de Relações Internacionais de Oxford, Christopher Bickerton. De acordo com o especialista, os britânicos devem continuar alimentando a sua relação muito próxima com os Estados Unidos, o que se traduz na manutenção do apoio às guerras no Afeganistão e no Iraque "até fim". O envolvimento das tropas britânicas, apesar de sofrer críticas cada vez mais fortes da população, não deve ser alterado.

Outro ponto em que a política externa britânica não deve sofrer alterações é em relação ao distanciamento da União Europeia (UE). Embora faça parte do bloco, a Grã-Bretanha não adota o euro e nem pretende adotá-lo tão cedo, assim como também não participa do Espaço Schengen que liberou o trânsito entre as fronteiras da UE. Neste sentido, o Partido Liberal Democrata (LibDem) - cujo líder Nick Clegg é deputado europeu e abertamente pró-Europa - é o único a propor o aumento do engajamento dos britânicos na UE. Porém, ressalta Bickerton, com a aproximação das eleições, Clegg tem fugido cada vez de reafirmar suas posições sobre o assunto, impopular entre o eleitorado.

"Desde que Clegg subiu nas pesquisas, ele se tornou bem mais equilibrado sobre a Europa, e tem até evitado o assunto. É um ponto ainda muito complexo para grandes mudanças, porque os britânicos são muito ligados à soberania nacional", afirmou o pesquisador, lembrando que outra proposta dos liberais-democratas, a de acabar com as armas nucleares a longo prazo, também não conta com apoio popular e muito dificilmente conseguiria ser posta em prática.

Cameron melhor para o Brasil?
A mesma política de fazer propostas ao vento, sem obrigação de cumprimento no futuro, está sendo adotada pelos candidatos no que diz respeito a pontos de interesse do Brasil, lembram os especialistas. "Agora, eles dizem uma coisa, sem qualquer custo ou consequência. Mas até eles cumprirem, é outra história", disse Bickerton, em relação a questões como o apoio ao alargamento do G8 para o G20 - que adicionaria os países em desenvolvimento ao grupo de oito países mais ricos do mundo - e à suposta aprovação do candidato conservador, David Cameron, à entrada do Brasil como membro permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Já Duch destaca que um ponto relativo ao plano econômico do candidato conservador pode levar os britânicos a favorecer os interesses do Brasil: para colocar as contas em dia, Cameron conta com o reforço do comércio internacional, inclusive na América Latina, algo que poderá se traduzir também em apoio político aos anseios dos brasileiros.

"O Cameron vai ser muito incisivo no incentivo do comércio e da indústria britânicos no mundo todo, o que inclui certamente os países em desenvolvimento como o Brasil", explica Duch. "Se o Reino Unido consegue aumentar os acordos com o Brasil, provavelmente vai aumentar também o apoio político aos brasileiros, e Cameron é o candidato que está muito mais interessado em promover esse tipo de aproximação."

Fonte: Especial para Terra
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