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Mundo

Impopular, Brown simboliza a crise do trabalhismo britânico

3 mai 2010 - 16h52
(atualizado em 14/5/2010 às 09h30)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

Não é de hoje que os britânicos estão insatisfeitos com o governo trabalhista no Reino Unido, mas havia muito tempo que ninguém representava tão bem a crise do trabalhismo quanto o atual primeiro-ministro, Gordon Brown. Desde o início das pesquisas de intenções de votos para as eleições da próxima quinta-feira, o líder do Partido Trabalhista ainda não conseguiu melhorar sua popularidade e agora ainda se vê emparedado de perto pelo liberal-democrata Nick Clegg, a grande surpresa da campanha britânica.

Na reta final da campanha, Gordon Brown, tenta reverter desvantagem apontada em pesquisas eleitorais
Na reta final da campanha, Gordon Brown, tenta reverter desvantagem apontada em pesquisas eleitorais
Foto: Reuters

Diante da subida repentina de Clegg nas pesquisas - ele agora se encontra tecnicamente empatado com Brown -, até o ex-primeiro-ministro trabalhista Tony Blair reapareceu nesta reta final de conquista dos votos. Desaparecido da política desde que deixou o governo, em 2007, na sexta-feira Blair deu uma entrevista para declarar apoio ao seu parceiro de partido, apesar de os dois não nutrirem o que se poderia chamar de uma relação de amizade. O ex-ocupante durante 10 anos do célebre apartamento em 10 Downing Street - onde moram os primeiros-ministros britânicos - veio a público defender o trabalho desenvolvido por colega trabalhista nos últimos três anos.

No caso de uma derrota do partido, Brown colocaria fim a uma série de quatro mandatos trabalhistas consecutivos - num total de 13 anos, o maior período de um governo trabalhista da história da monarquia parlamentar. A culpa, no entanto, não pode ser totalmente atribuída a ele - embora a ausência de carisma do atual primeiro-ministro e seu jeito desajeitado diante do público o tenham afastado cada vez mais dos eleitores. A causa para a crise trabalhista, alegam especialistas, se deve sobretudo a como o partido administrou a crise econômica global eclodida em 2008 - Brown, que fora ministro das Finanças durante toda a gestão Blair, nacionalizou os bancos em falência, medida que acabou quase duplicando o déficit fiscal da Grã-Bretanha.

"As pessoas estão muito desapontadas com o estado em que os trabalhistas deixaram as finanças do governo. Mas além disso, Brown não é nem um pouco popular, o que piora ainda mais a situação para o Partido Trabalhista", explicou ao Terra o diretor do Centro de Ciências Sociais da Universidade de Oxford, Raymond Duch. Na opinião do analista político, é essa insatisfação generalizada com o partido que está levando o eleitorado a procurar por outros nomes e inclusive a abrir o caminho para o liberal-democrata Nick Clegg.

Duch afirma que somente uma improvável vitória nas eleições faria o Partido Trabalhista escapar de uma profunda reforma interna. Essa remodelação deve abranger diversos aspectos e implica inclusive que o partido se posicione mais ao centro do espectro político, em uma sociedade que não aprecia extremos na esquerda ou na direita. "Se os trabalhistas perderem esta eleição, haverá uma verdadeira guerra interna no dia seguinte à votação", resumiu o diretor. "Terão de encontrar um novo líder - cujo nome hoje em dia não é tão claro -, reformar a sua estratégia política, o seu programa, tudo. Senão fizerem isso, darão de graça cada vez mais espaço para o LibDem."

Entre os nomes especulados para assumir a liderança do partido no lugar de Brown, o do atual ministro das Relações Exteriores, David Milliband, tem sido apontado como o mais plausível, porém os nomes dos veteranos Alan Johnson e Jack Straw também são cogitados para assumir o barco em deriva em que se transformou o partido.

Cameron poderá ser o mais jovem primeiro-ministro em 200 anos

Em meio a essa crise, a vitória do conservador David Cameron - que desde o início parecia certa -, hoje se tornou uma incógnita. Cameron, 43 anos, poderia se tornar o mais jovem primeiro-ministro desde o início do século XIX. Clegg, seu adversário liberal, tem a mesma idade, mas não tem chances de se tornar primeiro-ministro em decorrência do sistema eleitoral britânico, que tende ao bipartidarismo.

Mas o aparente rejuvenescimento dos líderes políticos britânicos, alertam especialistas ouvidos pelo Terra, não significa que os eleitores queiram renovar a política em si. "Os britânicos não se importam com a idade dos políticos. Eles querem competência no governo, não importa a idade", afirmou o professor emérito de Governo da London School of Economics (LSE), George Jones. "Se não fosse assim, dois dos nossos maiores líderes de guerra, Pitt (Willian Pitt the Younger, primeiro-ministro aos 24 anos em 1783) e Churchill (Winston Churchill, que, eleito aos 66 anos, comandou o Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial) jamais teriam chegado ao poder."

Duch, de Oxford, lembra que, se a renovação dos líderes políticos fosse algo importante para o eleitorado, seria um elemento que estaria sendo mais utilizado na campanha eleitoral. "Os britânicos não se importam com o quanto Cameron ou Clegg são jovens. Estamos em vias de ter um primeiro-ministro muito jovem, mas isso não está sendo usado de forma alguma na campanha."

Fonte: Especial para Terra
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