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Mundo

Campanha aponta presidencialização da política britânica

2 mai 2010 - 18h39
(atualizado em 3/5/2010 às 10h51)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

Nunca uma monarquia se pareceu tanto quanto um regime presidencialista como o Reino Unido nesta campanha eleitoral, que na próxima quinta-feira vai eleger o seu novo primeiro-ministro. Especialistas ouvidos pelo Terra apontam que a política do reino passa por um claro processo de "presidencialização", resultado de uma mudança que os britânicos já desejavam há muito tempo.

O primeiro-ministro Gordon Brown (no centro) conversa com eleitores em bar de Londres
O primeiro-ministro Gordon Brown (no centro) conversa com eleitores em bar de Londres
Foto: AP

Dois pontos principais anunciam essa modernização. Nunca existiu um terceiro nome forte na disputa pelo cargo de primeiro-ministro, como acontece agora. Devido ao sistema de governo adotado na Grã-Bretanha, apenas as duas principais siglas, o Partido Trabalhista e o Partido Conservador, conseguem ter peso o suficiente para concorrer ao mais alto posto do governo. Desta vez, o líder do Partido Liberal Democrata, Nick Clegg, não apenas está participando do páreo como não para de subir nas pesquisas de intenções de voto.

O outro fator que leva a crer na modernização da política no reino da rainha Elizabeth II é que, pela primeira na sua história, os britânicos estão realizando debates eleitorais entre os candidatos na televisão. O fato levou parte da imprensa americana - como a revista New Yorker - a ironicamente dizer que, na realidade, está acontecendo a "americanização" da política no Reino Unido, já que nos Estados Unidos o primeiro debate foi realizado há meio século.

Em Londres, os embates entre o atual primeiro-ministro trabalhista, Gordon Brown, seu principal rival, o conservador David Cameron, e o novato Nick Clegg foram realizados semanalmente com toda a pompa pelas redes de televisão IDTV, Sky News e BBC. Todos os programas tiveram plateias, numa aproximação entre eleitor e candidato também rara na política britânica, marcada pelo tom polido e distante entre as duas partes. Resultado da repercussão dos debates, o aumento da personalização da campanha nas ruas denota que algo está diferente na política sempre tão tradicional do Reino Unido.

"A emergência do Nick Clegg e do seu partido são coisas novas na política britânica, que refletem uma abertura e uma necessidade de renovar os quadros. Faz décadas que o Parlamento vive numa bolha fechada em si e bastante tempo que os britânicos queriam ver as coisas evoluírem", analisa Christopher Bickerton, professor de Relações Internacionais de Oxford.Para George Jones, professor emérito de Governo da London School of Economics (LSE), a questão dos debates é um marco neste modelo mais presidencialista de exercer a política na Grã-Bretanha. "Os debates marcam um passo importante na presidencialização da política britânica. A mídia, por consequência, está menos focada nos partidos políticos e nos programas do que nas personalidades dos candidatos e na suas capacidades de se apresentarem superficialmente", alega Jones.

Conforme o especialista, a realização dos debates mostra uma abertura, mas também implica em uma exposição muito maior dos candidatos, algo que Cameron e Brown não souberam melhor avaliar com antecedência. Para Jones, Brown só aceitou participar "porque estava desesperado" para conquistar votos, já que a sua derrota no pleito parece cada vez mais certa. "O mais curioso é que tanto Cameron quanto Brown ambos acabaram beneficiando Clegg, porque tiveram performances ruins nos debates, ao contrário do candidato liberal-democrata. Hoje, devem estar arrependidos de ter participado."

Andrew Denham, vice-diretor do Centro de Política Britânica da Universidade de Nottingham, concorda que o terceiro candidato desta eleição é incontestavelmente o maior beneficiado deste momento. "Além de conseguir apoiadores para a reforma do sistema eleitoral britânico, algo que se arrasta há anos, Clegg está podendo desfrutar de um tempo igual na televisão ao dos outros dois candidatos, considerados inicialmente como principais", explica. "Não existe nada melhor do que isso para se projetar nacionalmente".

Fonte: Especial para Terra
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