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Mundo

Reforma eleitoral pode dar peso a pequenos partidos britânicos

2 mai 2010 - 09h26
(atualizado em 3/5/2010 às 10h47)
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Lúcia Müzell
Direto de Paris

O Reino Unido pode estar às vésperas de uma mudança histórica no seu sistema eleitoral, que poderá dar voz aos partidos pequenos, praticamente excluídos das eleições parlamentares em decorrência do voto por turno único e da escolha do vencedor sem maioria absoluta. Isso significa que, até agora, o eleito de cada pleito é decidido por maioria simples, mesmo que não obtenha mais do que 50% dos votos.

Em meio à campanha eleitoral mais concorrida dos últimos tempos, os britânicos parecem cada vez mais longe de escapar da reforma eleitoral que vai mexer com as tradições da mais moderna entre as monarquias do planeta. Por conta da sua peculiaridade eleitoral, o sistema favorece uma configuração eleitoral bipartidária em que há quase 100 anos o poder se alterna nas mãos de apenas dois partidos, os Conservador e o Trabalhista.

Na situação atual, como a votação é separada pelas porcentagens de cada partido em cada distrito, os partidos que possuem um eleitorado muito disperso pelo país - e não concentrados em certas regiões, como é o caso dos Conservadores e os Trabalhistas - nunca conseguem atingir a maioria simples dos votos, condição para a vitória. Por consequência, mesmo que, numa suposição, o LibDem atingisse o maior número de votos em termos globais, isso de nada serviria se a sigla não vencesse separadamente nos distritos - tudo porque é o partido com maior distritos ganhos que tem o seu representante nacional eleito ao cargo.

O Partido Liberal-Democrata (LibDem), o terceiro de maior peso do Reino Unido, agora aposta como nunca na possibilidade de modernizar a votação e poder chegar ao posto de primeiro-ministro britânico, algo que hoje é estatisticamente impossível. Com a reforma desejada pelo presidente dos LibDem, Nick Clegg, e apoiada igualmente pelo trabalhista Gordon Brown - mas rejeitada pelo conservador David Cameron -, a votação passaria a ser proporcional aos votos recebidos globalmente por cada partido.

"O avanço da reforma poderá ser uma moeda de troca muito valiosa no caso de nenhum partido obter a maioria no Parlamento. Isso levaria os pequenos partidos exigirem a reforma como condicionante para apoiar os grandes partidos, o que seria uma situação no mínimo irônica", explicou ao Terra George Jones, professor emérito de Governo da London School of Economics (LSE).

De acordo com o especialista, a sociedade britânica vem se desapegando à tradição bipartidária do Reino Unido desde os anos 50, mas nunca se esteve tão próxima de uma mudança efetiva no sistema eleitoral do Estado. "Hoje em dia, nós já podemos falar em sistema pluripartidário, com a emergência não apenas do LibDem, mas do Partido Nacional Escocês, do Nacionalistas Galeses, do Independência do Reino Unido, entre outros."

A evolução é tamanha que somente uma maioria conservadora consolidada poderia barrar a reforma do sistema eleitoral, na opinião de Jones. No caso de uma maioria trabalhista frágil, o quem mais vai sair ganhando são os liberais-democráticos.

O Lib Dem vai desfrutar de uma posição estratégica tão favorável que já condicionou um futuro apoio aos trabalhistas ao avanço da reforma, prometida por Brown mas que em três anos de mandato não saiu do papel - ou seja, vai obrigar os trabalhistas a abrir as portas para uma concorrência até então inexpressiva, mas que se mostra ameaçadora. Desde que os debates eleitorais se iniciaram, Clegg não para de subir nas pesquisas de intenções de votos, chegando a ficar em primeiro lugar em dois institutos, YouGov e BPIX, e empatado com Cameron, o favorito, na sondagem realizada por um terceiro órgão, Ipsos-MORI.

"Clegg quer fazer o país refém somente para conseguir o que é melhor para os liberais-democratas", contra-atacou Cameron, pouco antes de afirmar que os conservadores poderiam rever as suas posições contrárias às alterações no sistema em caso de vitória.

Fonte: Especial para Terra
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