PUBLICIDADE

Europa

"Reichsburger": ultradireitistas alemães que negam existência da Alemanha

24 out 2016 - 10h16
Compartilhar
Exibir comentários

Os "Reichsburger" ou "Cidadãos do Reich" são um grupo heterogêneo de várias centenas de alemães que, em sua esotérica versão das teses ultradireitistas, veem na atual República Federal da Alemanha uma farsa, se recusam a pagar impostos e reivindicam a vigência do Terceiro Reich.

O nome do grupo ganhou as manchetes pelo tiroteio no qual um de seus membros matou um policial e feriu outros três, o que levou ao Ministério do Interior a anunciar um reforço da vigilância sobre este grupo.

Mas todos são desconhecidos. O Escritório Federal de Proteção da Constituição (BfV), os serviços de inteligência de Interior, estão "observando" o grupo e o governo alemão já tinha advertido anteriormente sobre sua periculosidade.

De acordo com um documento do governo alemão, "não há um movimento unitário" dos "Cidadãos do Reich", mas "uma série de pessoas e grupos diversos que, em nome do Reich alemão, com os mais diversos argumentos, negam a existência da República Federal".

Em uma resposta para uma questão submetida ao Parlamento em 2012 e divulgada nesta semana novamente pelo Ministério do Interior, o governo explica que este grupo assegura que todo quadro jurídico da Alemanha é ilegítimo, uma invenção dos aliados após a Segunda Guerra Mundial.

Por isso, os chamados "Cidadãos do Reich" se recusam a pagar impostos para as autoridades fiscais alemãs, não reconhecem as fronteiras atuais de seu país - mas as que tinha no Terceiro Reich, em 1937 - e ignoram os funcionários públicos, incluindo a polícia.

Alguns deles, segundo o relatório, elaboram documentos de identidade fictícios, como "Passaportes do Reich", e outros chegam a se denominar "Chanceler do Reich" ou "ministro do Reich".

Além disso, eles também trabalham para superar a administração alemã e realizam práticas de desobediência civil com sucesso contra as autoridades fiscais e credores.

Entre estas destaca-se, de acordo com a imprensa alemã, retirar seu nome da caixa do correio para dificultar a reivindicação do pagamento de impostos ou dívidas não pagas.

O governo também reconhece que alguns portam suásticas, negam o Holocausto judeu na Segunda Guerra Mundial e defendem tese antissemitas em seus fóruns.

O problema surge quando a realidade paralela que defendem se choca com o mundo real, como no caso do agressor desta semana, que atirou contra alguns policiais que queriam revistar sua casa, após serem alertados que o homem tinha 31 armas e se duvidava de suas faculdades mentais.

No final de agosto, aconteceu outro fato similar quando um membro dos "Cidadãos do Reich", um antigo "Mister Alemanha", feriu dois policiais porque pretendiam despejá-lo da casa que ocupava em Reuden (leste da Alemanha).

Após o tiroteio registrado nesta semana, surgiram informações sobre membros do grupo, um dos quais, segundo denúncia da polícia, agrediu no último dia 20 um agente, após a negativa de deixar uma dependência municipal na cidade de Salzwedel.

Os serviços secretos do estado de Brandemburgo consideram que os "Cidadãos do Reich" são "uma espécie de seita de extrema-direita", porém um "núcleo de extrema-direita não inofensivo".

O governo federal concorda com esta avaliação, embora reconhecendo a dificuldade em quantificar o risco representado por este grupo, completamente desestruturado e sobre o qual atreve-se a dizer que contém "várias centenas" de membros.

No entanto, o governo observa que "ainda há um risco de que um lobo solitário radicalizado possa cometer atos criminosos" semelhante ao atirador norueguês Anders Behring Breivik, que assassinou 77 pessoas em 2011, ou à célula terrorista alemã "Clandestinidade Nacionalsocialista" (NSU), que matou dez pessoas.

O ministro do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, os qualificou, por causa dos últimos acontecimentos, de "extremistas" e "perigosos" e advogou por atuar "de forma consistente" contra eles, tomando as medidas "preventivas e repressivas" necessárias para proteger os cidadãos deste grupo.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade