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Europa

Jovens radicais, mas bem formados, são os "herdeiros" de Marine Le Pen

18 abr 2017 - 06h03
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São jovens, provenientes das melhores universidades francesas e acreditam que o programa do partido ultradireitista Frente Nacional (FN) é o único que pode "mudar radicalmente o país": assim é ala jovem "de elite" que apoia Marine Le Pen.

As novas gerações estão cansadas de "não serem donas de seu país", explicou à Agência Efe o candidato do FN às legislativas francesas Antoine Chudzik, de 24 anos, que acredita que os jovens esperam da política "um pouco mais do que aumentar e diminuir impostos".

Diplomado pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, onde estudaram quatro dos sete presidentes da 5ª República, entre eles François Hollande, Chudzik é um dos perfis brilhantes que lideram a substituição geracional do partido de Le Pen.

"O bipartidarismo prefere ignorar os problemas da globalização", afirmou o jovem, que vê em medidas como o "protecionismo inteligente", o abandono do euro e a saída da União Europeia as "verdadeiras apostas" da campanha presidencial da candidata.

Com 25 mil filiados, a juventude do FN é a maior da França graças a um discurso "revolucionário" que abraça cada vez mais os universitários e deixa para trás conservadores, como François Fillon, e socialistas, como Benoît Hamon.

O próprio Chudzik, filho de operários da zona rural da Borgonha, decidiu trair sua antiga militância no Partido Socialista para trabalhar com a candidata ultradireitista depois de ficar "horrorizado" com como Hollande "quebrou todas as suas promessas eleitorais".

Algo parecido aconteceu com o ex-militante do partido comunista e agora vice-presidente da juventude da FN, Davy Rodríguez, de 23 anos. Para ele, o fato de formações tradicionais quererem "fechar os olhos" é a causa da "fuga de jovens" para o partido.

Recentemente, Rodríguez concluiu mestrado em Direito Público e, com o domínio de quatro idiomas, o jovem líder lepenista concilia o trabalho para o partido com as provas de acesso à Escola Normal de Administração (ENA), a antessala ao alto conjunto de funcionários francês.

Filho de mãe portuguesa e pai espanhol - e neto de comunista trabalhador nas minas do El Bierzo -, ele não vê contradição entre suas raízes e a firmeza em matéria de imigração da candidata ultradireitista.

"O problema é a falta de assimilação. Um processo que se não for bem feito pode acabar em 'terrorismo' em uma França que, com nove milhões de pobres - muitos deles jovens , não está preparada para acolher mais ninguém", defendeu.

Embora os franceses não tenham que ser "brancos, católicos e heterossexuais", insistiu Rodríguez, existem grupos que assimilam melhor as questões do que outros. Segundo ele, isso deveria ser levado em conta na hora de desenvolver políticas migratórias.

Curiosamente, Rodríguez se declara fã do partido espanhol Podemos e garantiu que, se não fosse por sua "equivocada abertura em matéria migratória e europeia", ambos as legendas seriam parecidas.

Embora tenha reconhecido ser seguidor do FN em ambientes acadêmicos elitistas, Rodríguez afirmou que é difícil defender sua visão entre professores e os demais estudantes, porém, quanto mais os problemas ligados à globalização aumentarem, mais jovens preparados "abrirão os olhos" e aceitarão o programa de Le Pen.

Uma reticência que, para a candidata na segunda circunscrição de Paris para as legislativas, Manon Bouquin, de 23 anos e com um mestrado em História, na Sorbonne, se deve a uma "formatação ideológica das universidades" que é cada vez "menos efetiva".

Bouquin considerou normal que o partido, que viveu "um boom" nos últimos anos, tenha uma "profissionalização" cada vez maior, que se traduz na "captação de jovens talentos".

Um grupo "de elite" que não deve ser confundido com sua base eleitoral, que continua caracterizada por "pessoas de baixa instrução e de zonas rurais", advertiu a especialista em extrema-direita Anne Muxel, do Centro de Investigações Científicas (CNRS).

Por outro lado, explicou Muxel, a ultradireita não pode dar a batalha pela juventude como vencida. Seu nacionalismo compete com o desejo de regenerar a vida política do social-liberal Emmanuel Macron e do candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, que ganham apoio entre os jovens, de acordo com as últimas pesquisas.

EFE   
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