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Europa

Extrema-direita perde eleições presidenciais na Áustria

4 dez 2016 - 19h01
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A vitória de Alexander Van der Bellen nas eleições presidenciais deste domingo na Áustria interrompeu a onda de recentes triunfos do populismo direitista no Ocidente, apesar de o ultranacionalista Nobert Hofer ter alcançado o melhor desempenho de um candidato do Partido Liberal (FPÖ) na história.

Van de Bellen, professor universitário de 72 anos, ecologista, progressista e intelectual, além de ligado a grande parte da população austríaca, conseguiu melhorar em muito seu resultado nas urnas em relação à maio, quando venceu por uma vantagem mínima Hofer no pleito que foi anulado pela Justiça por irregularidades.

O ecologista venceu a primeira eleição presidencial por 0,6 pontos percentuais de vantagem e 31 mil votos, em um país de 6,4 milhões de eleitores. Na repetição realizada neste domingo, a margem de vitória deve chegar a sete pontos percentuais, segundo projeções.

Por trás dos 53,3% dos votos obtidos por Van der Bellen está principalmente o temor de muitos austríacos a Hofer, que durante a campanha sugeriu fazer um referendo sobre a permanência do país na União Europeia (UE).

"Quero falar de forma ativa aos eleitores da FPÖ: seus medos são genuínos e serão levados a sério", afirmou o presidente eleito em entrevista à emissora pública "ORF".

O veterano político sabe que o país se polarizou durante a campanha de quase um ano, com mensagens especialmente duras por parte do FPÖ, além de muitas discussões nas redes sociais.

A FPÖ acusou Van der Bellen de ter sido espião para a União Soviética. Além disso, disse que o pai do ecologista, um russo de origem holandesa que se refugiou na Áustria fugindo da revolução bolchevique de 1917, era simpatizante do nazismo.

A chegada de refugiados do Oriente Médio - cerca de 90 mil em 2015 e quase 40 mil neste ano - também foi usada por Hofer para alimentar o medo contra o terrorismo e a potencial islamização do país. Van der Bellen, por sua vez, não hesitava em afirmar que o adversário tiraria a Áustria da UE se chegasse ao poder.

"É uma vitória importante, não só para a Áustria, mas para toda a Europa. É a primeira vez em 2016, um ano no qual tivemos o 'Brexit', a vitória de Trump nos Estados Unidos, que eles vivem uma derrota que não esperavam", disse à Agência Efe a vice-presidente do Parlamento Europeu, Ulrike Lunacek.

O certo é que a eleição presidencial da Áustria, um cargo protocolar de um pequeno país da UE, estava há semanas sendo analisado como novo campo de batalha do nacionalismo, após as vitórias do 'Brexit', o referendo que determinou a saída do Reino Unido do bloco europeu, e de Trump nas eleições norte-americanas.

Quase mil jornalistas de todo o mundo se credenciaram para cobrir as eleições na Áustria, um fato que, em circunstâncias normais, não despertaria interesse fora do país.

A vice-presidente do Parlamento Europeu interpreta a vitória de Van der Bellen como um exemplo de que a ideia de "cooperar em vez de confrontar" pode triunfar no continente.

"A derrota do FPÖ me alegra muito porque gente como (Marine) Le Pen, (Geert) Wilders, a Alternativa para a Alemanha (AfD) e Víctor Orban não irão gostar", disse Lunacek em referência a movimentos e líderes populistas e eurocéticos da França, Holanda, Alemanha e Hungria que apoiaram abertamente Hofer.

Já Christian Rainer, diretor do "Profil", revista semanal política de maior prestígio no país, vê menos motivos para celebrar.

"O candidato oficial de um partido da extrema-direita conseguiu quase uma maioria absoluta. Esse partido tem, em todas as pesquisas, uma grande vantagem sobre os dois partidos maiores. Por isso, não há motivos para o otimismo por aqui" analisou.

Rainer não acredita que esse resultado possa ser lido como uma primeira derrota do populismo. Para ele, foram elementos do debate político da própria Áustria, como comentários feitos por Hofer sobre um referendo para instaurar a pena de morte, que decidiram o pleito.

"Todas as barreiras e considerações morais já caíram. Quase a metade dos austríacos não teve problemas em votar na FPÖ, um partido fundado após a guerra por antigos nazistas", afirmou Rainer.

Hofer já anunciou que será candidato à presidência da Áustria em 2022 e disse que o atual governo "não vai aguentar muito mais".

EFE   
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