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Mundo

Com escândalos e país em crise, Berlusconi dá seu terceiro adeus

12 nov 2011 - 18h52
(atualizado em 7/12/2011 às 16h37)
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Felipe Schroeder Franke

Em 2006, Silvio Berlusconi fazia campanha para ser reeleito primeiro-ministro da Itália. Ele estava então no seu segundo mandato. Durante a campanha, que acabaria perdendo para só retornar a Roma dois anos depois, em 2008, declarou: "Eu sou o Jesus Cristo da política. Sou uma vítima paciente, sacrifico a mim mesmo por todos os outros".

Terceiro adeus do premiê: o fim de uma era?
Terceiro adeus do premiê: o fim de uma era?
Foto: Getty Images

O ano agora é 2011, e Berlusconi mais uma vez dá a prova do auto-proclamado sacrifício: renunciou assim que os partidos italianos acordaram o pacote de medidas econômicas exigido pela União Europeia (UE) para salvar a Itália da falência.

Para o mundo, no entanto, o sacrifício de Berlusconi pode ser uma interpretação um tanto quanto distante da protagonizada pelo filho de Deus, segundo reza a tradição cristã. Pois Berlusconi deixa para Mario Monti, seu provável sucessor, uma Itália endividada para além do permitido pela UE, numa situação tão ou pior que aquela encontrada quando o premiê iniciou seu terceiro mandato, pouco mais de três anos atrás.

E, para além do abismo econômico a ser herdado por Monti e pelo novo governo que deve ser eleito em fevereiro nas eleições legislativas antecipadas para 2012, o dito Jesus Cristo milanês viveu seu último mandato longe das agruras do filho de Maria.

Pelo contrário, Berlusconi envolveu-se em inúmeras polêmicas sexuais, dos quais o mais emblemático é o affaire com Karima el-Mahroug, uma mítica e jovem marroquina de olhos coloridos com quem Il Cavaliere teria mantido relações sexuais profissionais. Há também histórias não confirmadas de orgias envolvendo o premiê, que nega tudo. Uma de suas explicações é que jamais pagou ou pagaria qualquer mulher por sexo.

Além das desaventuras amorosas, o premiê também parece longe do sacrifício. Em contraste com a crise italiana, Berlusconi descansará tranquilamente sobre seu reino de empresas e ações. Como a rádio ESPN noticiou, citando a imprensa italiana, o agora ex-premiê cogita retornar à presidência do Milan F.C., e, com isso, investir milhões no clube, atualmente em terceiro no Calcio e bem encaminhado na primeira fase da Champions League.

Em 2008, quando Berlusconi assumiu, a taxa de crescimento do PIB italiano era de -1%, que caiu para -5,1% em 2009 para se recuperar no ano passado para 1,3%. O dado positivo reflete a leve recuperação mundial da economia, mas é afugentado por outros números. O tempo se esgota para resolver a dívida italiana, que passa hoje dos US$ 2,2 trilhões - o equivalente a 120% do produto interno bruto (PIB). O rombo fez com que os juros de venda de títulos públicos passassem dos 7%, patamar visto por especialistas como insustentável.

Como diriam os ancestrais romanos de Berlusconi, tempus fugit: o tempo se esgota para que a União Europeia, através de seu embaixador italiano Mario Monti, faça aquilo que Berlusconi não conseguiu.

Para Il Cavaliere, tempus fugit também. Após governo entre 1994-95, 2001-06 e 2008-11, são 17 anos no qual, como apontou uma matéria recente do New York Times, Berlusconi não apenas mudou a política italiana, como a tornou exageradamente personalizada.

Em 2008, a volta do já contestado Berlusconi surpreendeu. Agora, o legado do seu último mandato sugere que talvez não haja mais volta para ele.

Fonte: Terra
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