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Estados Unidos

Confira na íntegra primeiro discurso de Barack Obama na ONU

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Senhor presidente, senhor secretário-geral, delegados, senhoras e senhores: é minha honra dirigir-me a vocês pela primeira vez como o 44º presidente dos Estados Unidos. Venho perante vocês humilde pela responsabilidade que o povo americano depositou em mim; ciente dos enormes desafios de nosso momento na história; e determinado a agir ousada e coletivamente em nome da justiça e da prosperidade em meu país e no exterior.

Nuvem de tags destaca as palavras mais usadas por Obama no seu primeiro discurso na ONU, no dia 23 de setembro
Nuvem de tags destaca as palavras mais usadas por Obama no seu primeiro discurso na ONU, no dia 23 de setembro
Foto: Wordle.net / Reprodução

Estou no poder há apenas nove meses, embora existam dias em que parece ser muito mais tempo. Estou bem consciente das expectativas que acompanham minha presidência ao redor do mundo. Essas expectativas não são sobre mim. Pelo contrário, elas estão arraigadas - acredito eu - no descontentamento com um status quo que permite que sejamos cada vez mais definidos por nossas diferenças e sobrepujados por nossos problemas. Mas elas também estão arraigadas na esperança - a esperança de que a real mudança é possível e a esperança de que a América seja uma liderança na viabilização de tal mudança.

Assumi o poder em uma época na qual muitos ao redor do mundo haviam passado a ver a América com ceticismo e desconfiança. Parte disso deveu-se a impressões e informações equivocadas sobre meu país. Parte disso deveu-se à oposição a políticas específicas e à crença de que em certos assuntos críticos, a América agiu unilateralmente, sem considerar os interesses de terceiros. Isso alimentou um antiamericanismo quase reflexivo, que por muitas vezes serviu como uma desculpa para nossa falta de ação coletiva.

Como todos vocês, minha responsabilidade é agir segundo os interesses da minha nação e do meu povo e nunca me desculparei por defender tais interesses. Mas é minha crença profunda de que no ano de 2009 - mais do que em qualquer outro momento da história humana - os interesses das nações e dos povos são comuns.

As convicções religiosas que guardamos em nossos corações podem produzir novos laços entre os povos, ou rompê-los. A tecnologia que controlamos pode iluminar o caminho para a paz, ou para sempre escurecê-lo. A energia que usamos pode sustentar nosso planeta, ou destruí-lo. O que acontece à esperança de uma só criança - em qualquer lugar - pode enriquecer nosso mundo, ou empobrecê-lo.

Neste espaço, viemos de muitos lugares, mas compartilhamos um futuro em comum. Não podemos mais nos dar ao luxo de ceder às nossas diferenças em detrimento do trabalho que devemos realizar juntos. Carreguei esta mensagem de Londres a Ancara; de Port of Spain a Moscou; de Acra ao Cairo; e é sobre isso que eu falarei hoje. Porque chegou o momento do mundo se mover em uma nova direção. Devemos abraçar uma nova era de engajamento com base em interesses mútuos e respeito mútuo, e nosso trabalho deve começar agora.

Sabemos que o futuro será feito de ações e não apenas palavras. Discursos por si sós não irão resolver nossos problemas - será necessária ação persistente. Por isso, para aqueles que questionam o caráter e a causa de minha nação, peço que olhem para as ações concretas que realizamos em apenas nove meses.

Em meu primeiro dia no poder, proibi - sem exceção ou equívoco - o uso da tortura pelos Estados Unidos da América. Ordenei que a prisão de Guantánamo fosse fechada e estamos trabalhando duro para produzir um marco legal de combate ao extremismo dentro do estado de Direito. Toda nação deve saber: a América viverá sob seus valores e iremos liderar pelo exemplo.

Estabelecemos um objetivo claro e objetivo: trabalhar com todos os membros desta organização para romper, desmantelar e derrotar a Al-Qaeda e seus aliados extremistas - uma rede que matou milhares de pessoas de muitas crenças e nações, e que tramou para explodir este próprio edifício.

No Afeganistão e no Paquistão, nós - e muitas nações aqui - estamos ajudando os governos a desenvolver a capacidade de assumir esse esforço, enquanto trabalham para promover oportunidades e segurança para seu povo.

No Iraque, nós estamos responsavelmente finalizando a guerra. Removemos as brigadas de combate americanas das cidades iraquianas e estabelecemos como prazo agosto do ano que vem para a remoção de todas as nossas brigadas de combate do território iraquiano. E deixei claro que iremos ajudar na transição dos iraquianos para que assumam responsabilidade total por seu futuro, e mantenho nosso comprometimento de remover todas as tropas americanas até o final de 2011.

Tracei um plano abrangente para perseguir o objetivo de um mundo sem armas nucleares. Em Moscou, os Estados Unidos e a Rússia anunciaram que buscaremos reduções substanciais em nossas ogivas e mísseis estratégicos.

Na Conferência sobre Desarmamento, concordamos com um plano de trabalho para negociar um fim na produção de materiais físseis para armas nucleares. E esta semana, minha secretária de Estado irá se tornar a primeira alta representante americana na Conferência Anual das Partes do Tratado de Proibição Completa dos Testes Nucleares.

Ao assumir o poder, designei um enviado especial para a Paz no Oriente Médio, e a América tem trabalhado constante e agressivamente para promover a causa dos dois Estados - Israel e Palestina -, na qual a paz e a segurança lançam raízes e os direitos de israelenses e palestinos são respeitados.

Para combater a mudança climática, investimos US$ 80 bilhões em energia limpa. Aumentamos substancialmente nossos padrões de eficiência de combustíveis. Demos novos incentivos para conservação, lançamos uma parceria energética pelas Américas e passamos de espectadores a líderes nas negociações climáticas internacionais.

Para superar uma crise econômica que atinge cada canto do mundo, trabalhamos com as nações do G20 para produzir uma resposta internacional coordenada de mais de US$ 2 trilhões em estímulos para tirar a economia global do fundo do poço. Mobilizamos recursos que ajudaram a impedir que a crise se espalhasse ainda mais entre os países em desenvolvimento. E nos juntamos a outros para lançar uma iniciativa de segurança alimentar global de US$ 20 bilhões que estenderá a mão àqueles que mais precisam, ajudando-os a construir suas próprias capacidades.

Também nos reengajamos nas Nações Unidas. Pagamos nossas contas. Nos juntamos ao Conselho de Direitos Humanos. Assinamos a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Abraçamos integralmente as Metas de Desenvolvimento do Milênio. E expressamos nossas prioridades aqui, nesta instituição - por exemplo, através da reunião do Conselho de Segurança que irei presidir amanhã sobre não-proliferação nuclear e desarmamento, e através de assuntos que discutirei hoje.

Foi isso que fizemos. Mas isso é só o começo. Algumas de nossas ações tiveram progresso. Algumas prepararam terreno para progresso no futuro. Mas não se enganem: isso não pode ser apenas um esforço da América. Aqueles que costumavam criticar a América por agir sozinha no mundo não podem agora ficar de lado e esperar que a América resolva os problemas do mundo sozinha. Buscamos - em palavra e ação - uma nova era de envolvimento com o mundo. Agora é o momento para todos nós assumirmos nossa parcela de responsabilidade por uma resposta global a desafios globais.

Se formos honestos com nós mesmos, precisamos admitir que não estamos cumprindo nossa responsabilidade. Considerem o curso no qual estaremos se fracassarmos em contestar o status quo. Extremistas semeando terror em bolsões do mundo. Conflitos prolongados que se arrastam. Genocídio e atrocidades em massa. Cada vez mais nações com armas nucleares. Derretimento das calotas glaciais e populações arruinadas. Pobreza persistente e doenças pandêmicas. Digo isso não para semear medo, mas para expressar um fato: a magnitude de nossos desafios ainda deve ser alcançada pelo grau de nossa ação.

Esta organização foi fundada pela crença de que as nações do mundo possam juntas resolver seus problemas. Franklin Roosevelt, que morreu antes de ver sua visão para esta instituição se tornar realidade, colocou da seguinte forma - e eu cito: "A estrutura da paz mundial não pode ser o trabalho de um homem, ou um partido, ou uma Nação... Não pode ser uma paz de grandes nações - ou de pequenas nações. Deve ser uma paz que se apoia no esforço cooperativo do mundo inteiro."

O esforço cooperativo do mundo inteiro. Essas palavras ecoam de forma mais verdadeira hoje, quando não é apenas a paz - mas nossa própria saúde e prosperidade que temos em comum. Contudo, também sei que esta organização é composta de Estados soberanos. E, infelizmente, mas não surpreendentemente, esta organização muitas vezes se tornou um fórum para a semeação da discórdia ao invés da formação de um denominador comum; um local para fazer política e explorar injustiças ao invés de resolver problemas. Afinal, é fácil subir neste púlpito e apontar dedos e fomentar a divisão. Nada é mais fácil do que culpar os outros por nossos problemas e nos absolver da responsabilidade de nossas escolhas e ações. Qualquer um pode fazer isso.

Responsabilidade e liderança no século XXI exigem mais. Em uma era na qual nosso destino é partilhado, o poder não é mais um jogo de soma zero. Nenhuma nação pode ou deve tentar dominar outra. Nenhuma ordem mundial que eleve uma nação ou grupo de pessoas sobre outro irá ter sucesso. Nenhuma balança de poder entre nações irá se sustentar. A tradicional divisão entre nações do sul e do norte não faz sentido em um mundo interconectado. Nem os alinhamentos de nações arraigados em separações de uma Guerra Fria há muito terminada.

Chegou o momento de perceber que hábitos e argumentos antigos são irrelevantes para os desafios enfrentados por nosso povo. Eles levam nações a agir em oposição aos próprios objetivos que alegam perseguir, e a votar - muitas vezes nesta organização - contra os interesses de seu próprio povo. Eles constroem muros entre nós e o futuro que nosso povo busca e chegou o momento desses muros caírem. Juntos, devemos construir novas coalizões que sejam pontes entre antigas divisões - coalizões de fés e credos diferentes; de norte e sul, leste e oeste; negro, branco e mulato.

A escolha é nossa. Podemos ser lembrados como a geração que escolheu arrastar os argumentos do século 20 para o século 21; que adiou as escolhas difíceis, se recusou a olhar para frente e não conseguiu acompanhar o ritmo porque nos definimos pelo que somos contra ao invés do que somos a favor. Ou, podemos ser a geração que escolhe ver a linha costeira além das águas brutas adiante; que se junta para servir aos interesses comuns dos seres humanos e finalmente dá sentido à promessa embutida no nome dado a esta instituição: as Nações Unidas.

Esse é o futuro que a América quer - um futuro de paz e prosperidade que nós podemos apenas alcançar se reconhecermos que todas as nações têm direitos, mas que todas as nações também têm responsabilidades. Esse é o acordo que faz isso funcionar. Esse deve ser o princípio orientador da cooperação internacional.

Hoje, proponho quatro pilares que são fundamentais ao futuro que queremos para nossos filhos: não-proliferação e desarmamento; promoção de paz e segurança; preservação do nosso planeta; e uma economia global que promova oportunidades para todas as pessoas.

Primeiro, devemos interromper a proliferação de armas nucleares e perseguir o objetivo de um mundo sem elas.

Esta instituição foi fundada na aurora da era atômica, em parte porque a capacidade do homem de matar tinha de ser contida. Por décadas, evitamos desastres, mesmo sob a sombra de um impasse de super potências. Mas hoje, a ameaça da proliferação nuclear está crescendo em escopo e complexidade. Se deixarmos de agir, faremos um convite para corridas armamentistas nucleares em todas as regiões e para a perspectiva de guerras e atos de terror em uma escala que nem podemos imaginar.

Um consenso frágil se coloca no caminho desse resultado assustador - o acordo básico que molda o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Ele diz que todas as nações têm o direito de produzir energia nuclear pacificamente; que as nações com armas nucleares têm a responsabilidade de caminhar em direção ao desarmamento; e que aquelas sem tais armas têm a responsabilidade de abrir mão das mesmas. Os próximos doze meses podem ser essenciais para determinar se essa aliança será fortalecida ou lentamente se dissolver.

A América manterá sua parte do acordo. Buscaremos um novo acordo com a Rússia para reduzir substancialmente nossas ogivas e mísseis estratégicos. Avançaremos na ratificação do Tratado de Proibição dos Testes Nucleares e trabalharemos com outros para que o tratado entre em vigor de modo que os testes nucleares sejam permanentemente proibidos. Completaremos uma Revisão da Postura Nuclear que abre a porta para cortes mais profundos e reduz o papel das armas nucleares. E apelaremos para que países comecem negociações em janeiro sobre um tratado para terminar a produção de materiais físseis para armas.

Também receberei uma Cúpula em abril que reafirma a responsabilidade de cada nação de proteger material nuclear em seu território e de ajudar aquelas que não podem fazê-lo - porque nunca devemos permitir que sequer uma arma nuclear caia nas mãos de um extremista violento. E trabalharemos para fortalecer as instituições e iniciativas que combatem o contrabando e roubo nucleares.

Tudo isso deve apoiar os esforços para fortalecer o TNP. As nações que se recusarem a cumprir suas obrigações devem enfrentar as consequências. Não se trata de isolar nações específicas - se trata de defender os direitos de todas as nações que de fato cumprem suas responsabilidades. Porque um mundo no qual inspeções da AIEA são evitadas e as exigências das Nações Unidas são ignoradas deixará todas as pessoas e todas as nações menos seguras.

Em suas ações até hoje, os governos da Coreia do Norte e do Irã ameaçaram nos colocar nesse declive perigoso. Respeitamos seus direitos como membros da comunidade das nações. Estou comprometido com a diplomacia que abre um caminho para maior prosperidade e uma paz mais segura para ambas as nações se elas cumprirem suas obrigações.

Mas se os governos do Irã e da Coreia do Norte escolherem ignorar os padrões internacionais; se eles colocarem a busca de armas nucleares à frente da estabilidade regional, segurança e oportunidade de seu próprio povo; se eles forem indiferentes aos perigos da expansão de corridas por armas nucleares tanto no Leste Asiático quanto no Oriente Médio - então eles deverão ser responsabilizados. O mundo deve ficar unido para demonstrar que o direito internacional não é uma promessa vazia e que os tratados serão impostos. Devemos insistir que o futuro não pertence ao medo.

Isso me leva ao segundo pilar de nosso futuro: a busca da paz.

As Nações Unidas nasceram da crença de que as pessoas do mundo podem viver suas vidas, criar suas famílias e resolver suas diferenças pacificamente. E, contudo, sabemos que em muitas partes do mundo, esse ideal continua sendo uma abstração. Podemos aceitar que esse resultado é inevitável e tolerar o conflito constante e paralisante. Ou podemos reconhecer que o desejo pela paz é universal e reafirmar nossa resolução de por um fim aos conflitos ao redor do mundo.

Esse esforço precisa começar com a determinação inabalável de que o assassinato de homens, mulheres e crianças inocentes jamais será tolerado. Sobre isso, não pode haver disputa. Os extremistas violentos que promovem o conflito distorcendo a fé perderam crédito e se isolaram. Eles não oferecem nada além de ódio e destruição. Ao confrontá-los, a América vai criar parcerias duradouras para identificar terroristas, compartilhar inteligência, coordenar o cumprimento da lei e proteger nosso povo. Não permitiremos nenhum porto seguro para a Al-Qaeda lançar ataques a partir do Afeganistão ou qualquer outra nação. Ficaremos ao lado de nossos amigos na linha de frente, como nós e muitas nações o farão ao se comprometer a apoiar o povo paquistanês amanhã. E buscaremos um empenho positivo que construa pontes entre credos e novas parcerias para oportunidades.

Mas nossos esforços para promover a paz não podem ser limitados a derrotar extremistas violentos. Pois a arma mais poderosa do nosso arsenal é a esperança dos seres humanos - a crença de que o futuro pertence àqueles que constroem, não que destroem; a confiança de que conflitos podem terminar e um novo dia começar.

É por isso que vamos fortalecer nosso apoio à manutenção efetiva da paz, ao mesmo tempo que potencializamos nossos esforços para prevenir conflitos antes que eles aconteçam. Buscaremos uma paz duradoura no Sudão através do apoio ao povo de Darfur e da implantação do Acordo de Paz Ampla, de forma a assegurar a paz que o povo sudanês merece. E em países devastados pela violência - do Haiti ao Congo e ao Timor Leste - vamos trabalhar com a ONU e outros parceiros para apoiar uma paz duradoura.

Também continuarei a procurar uma paz justa e derradeira entre Israel, Palestina e o mundo árabe. Ontem, tive um encontro produtivo com o primeiro-ministro Netanyahu e o presidente Abbas. Fizemos algum progresso. Os palestinos aumentaram seus esforços de segurança. Os israelenses promoveram maior liberdade de movimento para os palestinos. Como resultado do esforço dos dois lados, a economia da Cisjordânia começa a crescer. Porém, mais avanços são necessários. Continuamos a apelar para que os palestinos acabem com o incitamento contra Israel e continuamos a enfatizar que a América não aceita a legitimidade dos persistentes assentamentos israelenses.

Chegou a hora de recomeçar negociações - sem pré-condições - que tratem das questões de status permanente: segurança para israelenses e palestinos; fronteiras, refugiados e Jerusalém. O objetivo é claro: dois Estados vivendo lado a lado em paz e segurança - um Estado judaico de Israel, com segurança adequada para todos os israelenses; e um Estado palestino viável e independente com território contíguo, que encerre a ocupação iniciada em 1967 e que realize o potencial do povo palestino. Enquanto buscamos esse objetivo, também buscaremos a paz entre Israel e Líbano, Israel e Síria e uma paz mais ampla entre Israel e seus muitos vizinhos. Na busca por esse objetivo, desenvolveremos iniciativas regionais com participação multilateral, ao lado de negociações bilaterais.

Não sou ingênuo. Sei que isso será difícil. Mas todos nós precisamos decidir se estamos falando sério sobre a paz ou apenas da boca para fora. Para romper antigos padrões - para romper o ciclo de insegurança e desespero -, todos nós precisamos dizer publicamente o que admitiríamos reservadamente. Os Estados Unidos não fazem nenhum favor a Israel quando falhamos em combinar um compromisso robusto por sua segurança com a insistência de que Israel respeite as reivindicações e direitos legítimos dos palestinos. E nações neste órgão não fazem nenhum favor aos palestinos quando preferem ataques corrosivos à disposição construtiva de reconhecer a legitimidade de Israel e seu direito de existir em paz e segurança.

Precisamos lembrar que o preço mais alto desse conflito não é pago por nós. Ele é pago pela menina israelense em Sderot que fecha seus olhos temendo que um foguete tire sua vida à noite. Ele é pago pelo menino palestino em Gaza que não tem água limpa e nenhum país para chamar de seu. Esses são filhos de Deus. E, depois de toda a política e de todo o exibicionismo, estamos falando do direito de todo ser humano viver com dignidade e segurança. Essa é uma lição incrustada nas três grandes crenças que chamam uma pequena porção da Terra de Terra Santa. E é por isso - mesmo que haja retrocessos, falsos começos e dias difíceis - que não vou renunciar à minha busca pela paz.

Terceiro, precisamos reconhecer que no século XXI não haverá paz a menos que assumamos a responsabilidade pela preservação de nosso planeta.

O perigo posto pela mudança climática não pode ser negado e nossa responsabilidade em fazer frente a ela não deve ser preterida. Se continuarmos no curso atual, todos os membros desta Assembleia verão mudanças irreversíveis dentro de suas fronteiras. Nossos esforços para encerrar conflitos serão ofuscados pelas guerras por refugiados e recursos. O desenvolvimento será arrasado pela seca e a fome. A terra na qual seres humanos vivem há milênios desaparecerá. Gerações futuras vão olhar para trás e se perguntar por que nos recusamos a agir - por que falhamos em repassar intacto o meio ambiente que era nossa herança.

É por isso que os dias de resistência da América a esse assunto terminaram. Iremos adiante com investimentos para transformar nossa economia energética, ao mesmo tempo que propiciamos incentivos para tornar a energia limpa o tipo rentável de energia. Prosseguiremos com profundas reduções nas emissões para cumprir as metas que estabelecemos para 2020 e, mais além, 2050. Continuaremos a promover a energia renovável e a eficiência energética - e a compartilhar novas tecnologias - com países ao redor do mundo. E agarraremos toda oportunidade de progresso para lidar com essa ameaça em um esforço cooperativo com o mundo inteiro.

Aquelas nações ricas que causaram tanto dano ao meio ambiente no século XX devem aceitar a obrigação da liderança. Mas a responsabilidade não termina aí. Embora devamos reconhecer a necessidade de respostas diferenciadas, qualquer esforço para conter emissões de carbono precisa incluir os emissores de carbono em rápido crescimento, que podem fazer mais para reduzir sua poluição do ar sem inibir o crescimento. E qualquer esforço que falhe em ajudar as nações mais pobres a se adaptar aos problemas que a mudança climática já acarretou - e a seguir um caminho de desenvolvimento limpo - não funcionará.

É difícil mudar algo tão fundamental como a maneira que usamos a energia. É ainda mais difícil fazê-lo em meio a uma recessão global. Certamente, será tentador sentar e esperar que outros deem o primeiro passo. Mas não podemos seguir nesta jornada a menos que todos nós avancemos juntos. Com a aproximação de Copenhague, que nossa decisão seja focar no que cada um de nós pode fazer pelo nosso futuro comum.

Isso me leva ao pilar final que deve fortificar nosso futuro: uma economia global que promova oportunidade a todas as pessoas.

O mundo ainda está se recuperando da pior crise econômica desde a Grande Depressão. Na América, vemos o motor do crescimento começar a girar, mas muitos ainda batalham para encontrar um emprego ou pagar suas contas. Ao redor do mundo, encontramos sinais promissores, mas há pouca certeza do que está por vir. E pessoas demais em lugares demais vivem crises diárias que desafiam nossa humanidade comum - o desespero de um estômago vazio; a sede provocada pela água minguante; a injustiça de uma criança morrendo por uma doença tratável, ou uma mãe perdendo sua vida ao dar à luz.

Em Pittsburgh, vamos trabalhar com as maiores economias do mundo para traçar um curso de crescimento que seja equilibrado e sustentável. Isso significa vigilância para garantir que não daremos trégua até que nosso povo esteja de volta ao trabalho. Isso significa dar passos para reerguer a demanda, para que a recuperação global possa ser sustentável. E isso significa estabelecer novas regras do jogo e fortalecer a regulação de todos os centros financeiros, para que possamos acabar com a ganância, excesso e abuso que nos levaram ao desastre e impedir que crises como esta voltem a acontecer.

Em uma época de tamanha interdependência, temos um interesse moral e pragmático em questões mais amplas de desenvolvimento. Então, continuaremos nosso esforço histórico para ajudar as pessoas a se alimentarem. Reservamos US$ 63 bilhões para o avanço no combate ao HIV/aids; o fim das mortes por tuberculose e malária; a erradicação da poliomielite; e o fortalecimento dos sistemas públicos de saúde. Estamos nos juntando a outros países para contribuir com vacinas contra o H1N1 para a Organização Mundial de Saúde. Integraremos mais economias a um sistema de comércio global. Apoiaremos as Metas de Desenvolvimento do Milênio e chegaremos à Cúpula do ano que vem com um plano global para torná-las realidade. E orientaremos nossos objetivos para a erradicação da pobreza extrema em nosso tempo.

Agora é a hora de todos nós fazermos nossa parte. O crescimento não será sustentável ou partilhado a menos que todas as nações cumpram suas responsabilidades. Nações ricas devem abrir seus mercados para mais produtos e estender a mão àquelas com menos, enquanto reformam as instituições internacionais para dar mais voz a mais nações. Nações em desenvolvimento devem erradicar a corrupção, que é um obstáculo para o progresso - pois a oportunidade não pode prosperar onde indivíduos são oprimidos e negócios devem pagar propina. É por isso que apoiaremos uma polícia honesta e juízes independentes; uma sociedade civil e um setor privado vibrante. Nosso objetivo é simples: uma economia global em que o crescimento seja sustentável e a oportunidade esteja disponível a todos.

As mudanças de que falei hoje não serão fáceis de realizar. E não serão realizadas simplesmente com líderes como nós se reunindo em fóruns como este. Pois, como qualquer assembleia, a mudança real pode apenas se cumprir por meio das pessoas que representamos. É por isso que devemos fazer o trabalho duro para lançar as bases do progresso em nossas capitais. É lá onde construiremos o consenso para acabar com conflitos e usar a tecnologia para propósitos pacíficos; para mudar a forma que usamos energia e para promover um crescimento que possa ser sustentável e partilhável.

Eu acredito que as pessoas do mundo queiram esse futuro para seus filhos. E é por isso que devemos lutar por aqueles princípios que asseguram que governos reflitam a vontade do povo. Esses princípios não podem ficar para depois - democracia e direitos humanos são essenciais para cumprir cada um dos objetivos que discuti hoje. Porque governos do povo e pelo povo são mais inclinados a agir em nome do interesse mais amplo de seu próprio povo do que em nome do interesse estreito daqueles no poder.

O teste de nossa liderança não será o quanto alimentamos os medos e ódios históricos de nosso povo. A verdadeira liderança não será medida pela capacidade de amordaçar o dissenso ou de intimidar e fustigar oponentes políticos em casa. As pessoas do mundo querem mudança. Elas não vão mais tolerar aqueles que estão do lado errado da história.

A Carta desta Assembleia compromete cada um de nós, e eu cito - "a reafirmar a fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres". Entre esses direitos está a liberdade de expressão e culto; a promessa de igualdade das raças e a oportunidade de mulheres e garotas alcançarem seu potencial; a possibilidade de cidadãos terem voz em como querem ser governados e terem confiança na administração da justiça. Pois, assim como nenhuma nação deve ser forçada a aceitar a tirania de outra nação, nenhum indivíduo deve ser forçado a aceitar a tirania de seu próprio governo.

Como um afro-americano, nunca me esquecerei de que não estaria aqui hoje sem a firme luta por uma união mais perfeita em meu país. Isso orienta minha crença de que não importa quão sombrio o dia possa parecer, a mudança transformadora pode ser realizada por aqueles que escolhem o lado da justiça. E eu prometo que a América vai sempre estar do lado daqueles que lutam por sua dignidade e seus direitos - pelo estudante que procura aprender; o eleitor que exige ser ouvido; o inocente que quer ser libertado; e o oprimido que anseia por igualdade.

A democracia não pode ser imposta de fora a nenhuma nação. Cada sociedade deve buscar seu próprio caminho e nenhum caminho é perfeito. Cada país buscará um caminho enraizado na cultura de seu povo, e - no passado - a América também foi muitas vezes seletiva na promoção da democracia. Mas isso não enfraquece nosso compromisso, apenas o reforça. Existem princípios básicos que são universais; existem algumas certezas que são em si evidentes - e os Estados Unidos da América nunca abdicarão dos esforços de defender o direito das pessoas de determinar seu próprio destino em todos os lugares.

Há 65 anos, um cansado Franklin Roosevelt falou ao povo americano em seu quarto e último discurso de posse. Depois de anos de guerra, ele procurou recapitular as lições que puderam ser tiradas do terrível sofrimento e enorme sacrifício que haviam ocorrido. "Nós aprendemos", ele disse, "a ser cidadãos do mundo, membros da comunidade humana".

As Nações Unidas foram construídas por homens e mulheres como Roosevelt de cada canto do planeta - da África e da Ásia; da Europa às Américas. Esses arquitetos da cooperação internacional tinham um idealismo que não era nem um pouco ingênuo - ele estava enraizado nas difíceis lições da guerra e na sabedoria de que nações podem buscar seus interesses agindo em conjunto ao invés de separadas.

Agora cabe a nós - porque esta instituição será o que nós fizermos dela. As Nações Unidas fazem um bem extraordinário ao redor do mundo alimentando os famintos, cuidando dos doentes e reparando lugares que foram destruídos. Mas ela também luta para fortalecer sua vontade e para viver à altura dos ideais de sua fundação.

Eu acredito que essas imperfeições não sejam motivo para se afastar desta instituição - elas são um pedido para redobrar nossos esforços. As Nações Unidas podem tanto ser o lugar em que discutimos sobre ressentimentos ultrapassados, quanto onde criamos um denominador comum; um lugar em que focamos no que nos separa ou no que nos une; um lugar que favorece a tirania ou uma fonte de autoridade moral. Em resumo, as Nações Unidas podem ser uma instituição que está desconectada do que importa na vida de nossos cidadãos ou podem ser indispensáveis no avanço dos interesses das pessoas a que servimos.

Chegamos a um momento crucial. Os Estados Unidos estão prontos para começar um novo capítulo na cooperação internacional - um que reconhece os direitos e responsabilidades de todas as nações. Confiantes de nossa causa e comprometidos com nossos valores, pedimos a todas as nações que se unam a nós na construção do futuro que nossos povos merecem. Obrigado.

Tradução: Amy Traduções

Fonte: Redação Terra
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