PUBLICIDADE

Estados Unidos

Caminhada pelo deserto simula rota de imigrantes do México aos EUA

Calcula-se que pelo menos seis mil pessoas morreram desde 1990 tentando atravessar a fronteira pelo deserto

27 mai 2013 - 20h34
(atualizado às 21h16)
Compartilhar
Exibir comentários

Um grupo de ativistas iniciou nesta segunda-feira uma caminhada de uma semana pelo deserto do Arizona para simular a rota que milhares de pessoas fazem a cada ano, ao sair do México com a intenção de entrar clandestinamente nos Estados Unidos e iniciar uma nova vida.

Os participantes desta iniciativa, que este ano chega à sua décima edição, partiram da cidade de Tucson e dali foram transferidos em veículos até a cidade fronteiriça de Sasabe, em Sonora (México).

Com uma oração e com a esperança que algum dia não morram mais imigrantes ilegais no deserto do Arizona começou a caminhada que deve se prolongar até o próximo dia 2 de junho.

Entre os 53 participantes há cidadãos americanos e imigrantes provenientes de México, Peru e Guatemala, acompanhados muitos deles de filhos e netos. Todos dispostos a percorrer a pé os 120 quilômetros que separam Sasabe e Tucson, em homenagem aos que fazem este caminho de forma clandestina.

"Para mim é uma oferenda que eu posso dar, sacrificando um pouquinho do meu esforço e meu tempo para lembrar todas essas pessoas que morreram na fronteira", contou à Agência Efe Marisol Flores, que participa há três anos desta iniciativa.

Em sua opinião, "como cidadãos deste país, devemos ter consciência suficiente para lembrar nossos irmãos que cruzam todos os dias" e que cada vez mais frequentemente morrem na tentativa.

Calcula-se que pelo menos seis mil pessoas morreram desde 1990 tentando atravessar a fronteira pelo deserto, mas a clandestinidade desta prática não permite a apuração de números concretos.

Além disso, o fato de as autoridades americanas terem aumentado a vigilância obrigou os imigrantes a recorrerem a vias cada vez mais remotas e perigosas, o que fez com que agora seja oito vezes mais provável morrer na tentativa que há uma década.

O cálculo é da Fundação Nacional para a Política Americana (NFAP) e, segundo seus dados, só entre 2011 e 2012 as mortes de imigrantes ilegais na fronteira sudoeste com o México aumentaram em 27%, ao passar de 375 a 477 o número de mortos.

Segundo a Patrulha Fronteiriça no setor de Tucson, nos sete meses compreendidos desde que começou o ano fiscal de 2013, no último dia 1º de outubro, até o dia 1º de maio se contabilizou a morte de 64 imigrantes ilegais nesta rota.

"Não é um, mas são centenas de mortos a cada ano", lamentou Marisol, acrescentando que "desde que esta caminhada foi criada morreram 2.500 migrantes", o que é "uma tragédia, uma verdadeira injustiça".

Os participantes veem nesta iniciativa não só um esforço físico, mas também emocional e espiritual, já que durante os dias de caminhada - nos quais arrastam uma grande cruz de madeira - lembram constantemente os que morreram nesta rota e cujos corpos nunca foram encontrados.

"Não pode deixar de pensar no que sofreram em seus últimos momentos e, ao ver pelo caminho essas cruzes que dizem 'desconhecido', sabe que em algum lugar há uma mãe, esposa ou alguém ainda esperado por um familiar", disse Marisol.

Muitos dos participantes, como Raúl Aguirre, optaram por empreender a caminhada junto com seus filhos.

"Acho que é importante preparar a nossa juventude para que se oponha a este tipo de lei que marginaliza nossos irmãos mexicanos e centro-americanos enquanto cruzam este perigoso deserto", declarou Aguirre, acompanhado de quatro de suas filhas e uma neta de sete anos.

Nesse sentido, criticou que "o Governo Federal estabeleça leis e operações para empurrá-los até as áreas mais remotas e pressione as tribos indígenas a cooperar com a Patrulha Fronteiriça".

Antes de partir, vários dos participantes expressaram certo otimismo em relação à reforma migratória que tramita no Congresso dos EUA, mas também disseram estar preocupados pelo efeito que a nova legislação terá na fronteira, já que previsivelmente aumentará o orçamento que anualmente se destina à segurança.

Lupe Castillo, membro da Coalizão de Direitos Humanos, lembrou que o aumento da militarização na fronteira é uma das principais causas das contínuas mortes de imigrantes ao longo da fronteira com o México.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade