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Depois de Aleppo, o que acontece com a Guerra na Síria?

14 dez 2016 - 20h48
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A batalha por Aleppo pode estar terminando, mas a luta pelo futuro da Síria continua indefinida. De fato, ela pode ficar ainda mais caótica e sangrenta.

O ataque ao enclave rebelde no leste de Aleppo representa uma grande vitória de propaganda para o presidente Bashar Al-Assad, que atualmente controla os maiores centros populacionais do país.

E Aleppo é o maior desses centros e o maior prêmio para o governo.

O conflito na Síria chegou à cidade em 2012, e desde então ela tem sido palco de grandes batalhas entre rebeldes e soldados leais a Assad. Mas desde novembro, as forças governistas iniciaram uma ofensiva que empurrou os rebeldes para uma pequena área de 2,5 quilômetros quadrados.

Os últimos combatentes rebeldes negociam agora com o governo sírio um cessar-fogo para eventualmente deixar a cidade de forma pacífica. A trégua está prevista para ocorrer nesta quinta-feira.

A captura da cidade representa uma vitória não só para Assad como para seus aliados iranianos e russos.

Aleppo em si pode não ser tão importante no tabuleiro de xadrez de Moscou, mas a derrota das forças rebeldes na cidade destaca a extraordinária maré de sorte do presidente Assad. Antes da intervenção russa, seu poderio militar desmoronava.

A Rússia e o Irã apoiaram seu governo em grande parte devido a seus próprios interesses estratégicos. E essas aspirações vão ter um papel importante na decisão do que acontecerá em seguida na Síria.

Se o governo consolidar seu controle sobre Aleppo, terá o domínio de uma parte significativa do que pode ser chamado de "Síria essencial" - o oeste do país, suas principais cidades e a costa do mar Mediterrâneo.

Uma opção possível para Assad seria trabalhar para consolidar essas posições.

Ofensiva

Assad sempre insistiu que suas tropas continuarão na ofensiva até que todo o território controlado pelos rebeldes seja recapturado, mas esse dicurso pode ser apenas uma bravata.

O Exército dele está sobrecarregado e representa apenas uma sombra do que era quando o conflito começou.

A perda da cidade de Palmira para o grupo autodenominado "Estado Islâmico" mostra que o governo sírio terá dificuldades para manter tudo o que conquistou. As forças armadas de Assad estão fracas, e a vitória em Aleppo não deve mascarar esse fato.

Uma grande parte do Exército regular da Síria se desintegrou - transformando-se em uma gama de milícias governistas muitas vezes mais comprometidas com interesses locais ou regionais.

Além disso, diversas batalhas foram travadas por forças apoiadas pelo Irã, como o grupo libanês Hezbollah e outras milícias muçulmanas xiìtas.

Muitos combatentes rebeldes escaparam da cidade para se refugiar na província de Idlib, a sudoeste de Aleppo. O local pode se tornar o próximo grande campo de batalha se o governo e seus aliados russos decidirem manter a ofensiva.

Ou seja, a opinião da Rússia sobre a melhor estratégia a seguir terá uma importância crítica. Moscou não pode dar ordens a Assad, mas influenciar suas decisões a partir dos meios que possui: armamentos e poder aéreo.

Os russos têm interesse na guerra se perpetuar na região? Ou decidirão que a queda de Aleppo deve ser o limite para o conflito e tentarão negociar um acordo com a futura administração de Donald Trump, nos Estados Unidos?

Mas qualquer acordo desse tipo significaria que Washington teria de aceitar o aumento da importância do Irã para a Síria.

A administração de Trump terá membros mais inclinados à Rússia, mas também terá, nas áreas da segurança e defesa, figuras declaradamente contrárias ao Irã.

Porém, as opções de Washington estão ficando limitadas. A queda de Aleppo foi o último golpe na estratégia da administração Obama de ajudar a chamada oposição moderada da Síria.

Washington quer que os rebeldes moderados combatam o "Estado Islâmico", mas eles sofrerão uma pressão ainda maior das forças do governo sírio.

Reconstrução

Os rebeldes contrários a Assad estão enfrentando momentos difíceis. Com a perda de Aleppo, eles perderam mais que uma simples batalha.

Eles podem não ter sido derrotados na guerra - pelo menos não até agora -, mas estão muito mais longe de vencê-la.

A relação que estes grupos terão com a nova administração americana é incerta. Ninguém sabe o que Trump fará. Muitos analistas temem que grupos rebeldes moderados sejam inevitavelmente forçados a abraçar facções islâmicas extremistas.

Mas para além da geopolítica e das campanhas militares, há a devastadora tragédia humana que recaiu sobre a cidade.

Quando a batalha acabar, a verdadeira escala da calamidade será revelada. Aleppo - como outros lugares na Síria - precisa de assistência rápida e em larga escala.

A longo prazo, será necessário um enorme esforço para reconstruir a cidade.

No entanto, com a continuidade dos combates em outros locais, com tantas pessoas mortas, mutiladas e deslocadas e com as pesadas sanções internacionais que o país enfrenta não deve haver recursos financeiros e capital humano para realizar essa tarefa.

Após a queda de Aleppo, todos os atores - internos e externos - terão que rever suas estratégias.

Mas essa guerra brutal e multifacetada não perderá sua complexidade.

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