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De escudos humanos a carros-bomba: as 4 táticas do EI na disputa por cidade-chave

25 out 2016 - 17h54
(atualizado às 18h00)
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Após mais de uma semana de ofensiva, forças iraquianas e curdas estão se aproximando na periferia ao leste de Mossul, a última grande cidade iraquiana ainda sob controle do grupo autodenominado Estado Islâmico.

Combatentes do Estado Islâmico lançaram ataques em cidades do Iraque
Combatentes do Estado Islâmico lançaram ataques em cidades do Iraque
Foto: Getty Images

Autoridades iraquianas esperam conseguir afastar o EI da cidade - o que seria considerada uma grande vitória e deixaria os extremistas com muito pouco território no Iraque.

Cerca de 30 mil combatentes participam da ofensiva, entre eles forças do Exército iraquiano, combatentes curdos, tribos sunitas e milicianos xiítas. Eles recebem o apoio aéreo de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.

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A campanha militar deve durar semanas ou mesmo meses. Isso vai depender de quanta resistência o EI oferecerá - estima-se que os extremistas tenham entre 3 mil e 5 mil combatentes na cidade.

Além disso, o Estado Islâmico está contra-atacando com força em diversas cidades - o que revela um plano de batalha que pode estar sendo elaborado desde que os extremistas conquistaram Mossul, em 2014.

Ataques diversos

Essa é a última estratégia desenvolvida pelos extremistas islâmicos desde que a ofensiva começou. Eles realizaram uma onda de ataques pelo país, iniciados com um levante na cidade de Kirkuk, atualmente controlada pelos curdos.

Ao menos 100 combatentes e homens-bomba, inclusive integrantes de células adormecidas instaladas dentro da cidade, tentaram assumir o controle de prédios importantes do governo e da polícia - além de atacarem uma central elétrica em construção.

Durante o levante, eles conclamaram muçulmanos sunitas a sair de suas casas para lutar. Muitos atenderam ao chamado, segundo uma fonte afirmou à BBC.

Ao menos 98 pessoas foram mortas no ataque, a maioria delas civis.

Fontes no campo de batalha afirmaram que 2 mil combatentes curdos (conhecidos como Peshmerga) foram retirados da linha de frente em Mossul para ajudar a controlar a situação em Kirkuk.

O comandante das forças de segurança de Kirkuk, Halo Najat, disse à BBC acreditar que os extremistas também planejaram tentar controlar as estradas entre Bagdá e Kirkuk e entre Kirkuk e Mossul.

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O objetivo era cortar linhas de suprimentos para tropas iraquianas e curdas envolvidas na ofensiva de Mossul.

No entanto, as unidades do Estado Islâmico que fariam isso foram destruídas antes de atingir o objetivo.

Desde os combates em Kirkuk, ocorreram também ataques nas vilas de Rutba, no oeste do Iraque, e Sinjar, situada a oeste de Mossul.

Frotas de carros-bomba suicidas

O avistamento de um grupo de carros ou caminhões acelerando em direção à sua linha de frente deixou alguns dos combatentes iraquianos e curdos em pânico. Isso porque é altamente provável que os veículos estavam cheios de explosivos e eram conduzidos por motoristas suicidas.

Essa é uma nova tática usada pelo Estado Islâmico para tornar mais difícil atingir e parar diversos veículos atacando ao mesmo tempo.

Disparos de armas leves não fazem efeito contra esses veículos, que normalmente são equipados com chapas para blindagem.

Para destruir todos, é preciso disparar rapidamente diversos foguetes antitanque. Outra alternativa é pedir ataques aéreos, mas nem sempre há tempo para isso.

Os extremistas costumam manter esses carros escondidos antes dos ataques.

Túneis

Enquanto forças iraquianas e curdas avançavam em direção a Mosul, reconquistaram vilas e pequenas cidades, descobrindo assim uma rede de túneis característicos de táticas de guerras de guerrilha.

Esses túneis aparentavam ser primariamente defensivos, com o objetivo de proteger combatentes contra ataques aéreos e de artilharia - foram encontrados dentro deles sacos de dormir, suprimentos de comida e cabos elétricos usados para iluminá-los.

Os túneis geralmente são escavados abaixo de construções - inclusive de mesquitas - para que isso não seja detectado.

Mas, além de oferecer proteção, também podem ser usados em ataques surpresa.

Em um dos momentos mais dramáticos registrados em vídeo desde o início da ofensiva, um militante do Estado Islâmico sai de um túnel em uma área rural e abre fogo contra um grupo de soldados que aparentemente presumiam estar em uma área segura.

O homem então explode a si mesmo antes que os soldados consigam reagir.

Acredita-se que haja uma rede similar de túneis na cidade de Mossul, que poderia servir de esconderijo durante o assalto contra a cidade e ajudar os extremistas islâmicos a escapar.

Mas ao abandonar os túneis, eles costumam miná-los. Os explosivos improvisados são uma tática comum do Estado Islâmico, que os espalha em áreas que é obrigado a deixar.

Escudos humanos

Muita preocupação já foi expressada em relação à possibilidade do EI usar civis como escudos humanos - especialmente em Mossul.

Um alto oficial da inteligência curda disse recentemente à BBC que os extremistas já teriam começado a fazer isso, o que foi classificado por ele como um sinal de fraqueza e desespero.

O oficial não apontou onde isso teria acontecido. Mas se ocorrer em Mossul, tornará o assalto por forças curdas e iraquianas ainda mais complicado.

Generais iraquianos afirmaram que sua principal preocupação na ofensiva é evitar mortes de civis - estima-se que a população de Mossul seja de cerca de um milhão de pessoas.

Segundo as Nações Unidas, um forte indício de que a população pode ser usada como escudo são relatos de atrocidades sendo praticadas ali.

Em um dos casos mais notórios, três mulheres e três crianças teriam sido mortas ao ficarem para trás quando um grupo de civis foi obrigado a se deslocar de uma vila para outra. As vítimas estavam se atrasando porque uma das crianças seria deficiente.

Em outro caso, extremistas teriam matado 15 civis e jogado seus corpos em um rio com o objetivo de espalhar terror em uma comunidade próxima a Mossul.

O porta-voz do Alto Comissariado da ONU de Direitos Humanos, Rupert Colville, disse que o órgão está recebendo diversas denúncias, mas ainda não é possível comprová-las definitivamente.

"É difícil verificar imediatamente todos os relatos que estamos recebendo, então esses exemplos têm que ser tratados como preliminares e não definitivos."

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