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Criticado por conservadores, amado pelos russos: Quem é Rex Tillerson, diplomata número 1 de Trump

16 fev 2017 - 20h19
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Um executivo famoso por ter dirigido a petrolífera mais valiosa do mundo - e alguém que tem laços com o presidente russo, Vladimir Putin.

Assim costuma ser definido Rex Tillerson, escolhido por Donald Trump para ser seu secretário de Estado, um dos cargos mais importantes do governo americano.

O ex-chefe da Exxon Mobil, de 64 anos, trabalhou para a empresa nos EUA e em países como o Iêmen e a Rússia antes de assumir seu controle.

Ao ser confirmado no governo Trump pelo Senado no início do mês, ele obteve o suporte em massa dos republicanos, como era o esperado. Mas pouquíssimos democratas cruzaram os limites partidários para apoiá-lo.

Enquanto críticos levantaram preocupações sobre sua capacidade de fazer acordos comerciais mais em prol do país do que em favor de seu interesse corporativo, apoiadores sugeriram que sua experiência como um negociador global pode trazer uma nova perspectiva para o cargo máximo da diplomacia americana.

Mas um dos pontos mais controversos entre os congressistas foi mesmo a sua ligação com o Kremlin, que lhe concedeu a Ordem da Amizade em 2013.

Na carteira de Putin?

A nomeação de Tillerson foi acompanhada das revelações de agências de inteligência dos EUA, que acreditam que a Rússia agiu secretamente para ajudar Trump a derrotar Hillary Clinton nas eleições de novembro, deixando alguns críticos desconfiados sobre suas relações com Moscou.

Durante seu tempo na Exxon, o executivo fez acordos bilionários com a petrolífera russa Rosneft. Um deles previa a exploração de recursos subterrâneos na Sibéria, que poderiam valer bilhões de dólares.

Ele também é conhecido por ser amigo de Igor Sechin, presidente-executivo da Rosneft, que anteriormente era vice-primeiro-ministro de Putin.

Sechin já foi chamado de o segundo homem mais poderoso da Rússia.

Antes de ser secretário, ele se manifestou publicamente contra as sanções internacionais impostas à Rússia depois da anexação da Crimeia
Antes de ser secretário, ele se manifestou publicamente contra as sanções internacionais impostas à Rússia depois da anexação da Crimeia
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Além disso, Tillerson se manifestou publicamente contra as sanções internacionais impostas à Rússia depois da anexação da Crimeia.

Em 2014, a Exxon apresentou um relatório dizendo que as penalidades aplicadas pelos EUA e pela União Europeia custaram à empresa cerca de US$ 1 bilhão em prejuízos.

Diante de tudo isso, os senadores republicanos Marco Rubio e John McCain expressaram sérias preocupações sobre as conexões russas de Tillerson. Mas depois as deixaram de lado.

McCain disse que, após ter conversas particulares com o executivo, estava tranquilo sobre suas opiniões em relação à Rússia.

Político outsider

Tillerson passou toda a sua carreira, iniciada há mais de 40 anos, trabalhando para a Exxon.

Ele entrou na empresa como engenheiro de produção após se formar na Universidade do Texas em Austin. Galgou posições até assumir o cargo máximo, em 2006.

O executivo, que poderia se aposentar por tempo de trabalho no ano que vem, bateu uma longa lista de candidatos experientes na corrida pela Secretaria de Estado, incluindo o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, o senador Bob Corker e presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado e o ex-chefe da CIA (polícia federal americana) David Petraeus.

Para rebater os argumentos sobre sua falta de experiência, o ex-secretário de Defesa Robert Gates saudou Tillerson como "um campeão mundial dos melhores valores do nosso país". A ex-secretária de Estado Condoleezza Rice compartilhou sentimento semelhante.

Tillerson foi criticado por sua proximidade de Vladimir Putin
Tillerson foi criticado por sua proximidade de Vladimir Putin
Foto: EPA / BBC News Brasil

Mas, como Gates mesmo observou, Exxon é um cliente de sua firma de consultoria e de Rice, a RiceHadleyGates.

Embora pareça se encaixar como uma luva no gabinete de direita de Trump, Tillerson também provocou polêmica entre alguns conservadores, que condenam suas políticas mais liberais.

Como presidente dos Escoteiros da América de 2010 a 2012, ele fez parte do movimento que permitiu que gays participassem da organização, embora houvesse uma proibição explícita para homossexuais até 2015.

Um exemplo dessa rejeição foi que o líder evangélico Tony Perkins, presidente do Conselho de Pesquisa da Família, criticou sua nomeação lembrando o histórico de doações da Exxon para a organização de planejamento familiar Planned Parenthood, que tem o aborto entre seus serviços.

Tillerson é também ex-diretor do United Negro College Fund, uma organização americana que financia bolsas de estudo para estudantes negros e apoia faculdades e universidades que sempre aceitaram alunos afro-americanos.

Defensor dos combustíveis fósseis

A Exxon, que tem cerca de 75 mil funcionários em todo o mundo, foi acusada de tentar encobrir os riscos das mudanças climáticas e mentir ao público.

A companhia lidou com uma série de investigações estatais sobre o quanto sabia sobre ciência climática, o que deixou muitos ativistas ambientais preocupados com a nomeação de Tillerson.

"Ele e outros executivos da empresa fizeram a Exxon Mobil financiar grupos externos para criar uma ilusão de incerteza científica em torno do esmagador consenso científico sobre a mudança climática", disse Neera Tanden, presidente do Centro para o Progresso Americano e aliada de Clinton.

O secretário de Estado, no entanto, já admitiu publicamente que a mudança climática é real - falou inclusive das consequências "catastróficas" caso ela não seja controlada.

"Durante muitos anos, a Exxon Mobil considerou que os riscos das mudanças climáticas são sérios e justificam agir. Acreditamos que enfrentar o risco da mudança climática é uma questão global", disse ele em maio de 2016.

Mas embora seja até agora o único membro do gabinete de Trump a reconhecer essa ameaça, Tillerson continua comprometido com o uso contínuo de combustíveis fósseis.

"A realidade é que não há nenhuma fonte de energia alternativa conhecida no planeta ou disponível para substituir hoje a preponderância dos combustíveis fósseis em nossa economia global, em nossa própria qualidade de vida. E eu iria além disso, diria nossa própria sobrevivência", disse.

Ele está, no entanto, aberto para a ideia de implantar um imposto sobre o carbono produzido como forma de reduzir as emissões. Uma visão que provavelmente se chocará a de seus colegas de governo.

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