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Como sem-teto superou 9 overdoses de heroína e se transformou em magnata do suco

27 mar 2017 - 14h33
(atualizado às 14h47)
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Enquanto Khalil Rafati sofria sua nona overdose por uso de heroína, paramédicos tentavam freneticamente salvá-lo da morte.

Após sofrer 9ª overdose, Khalil Rafati se recuperou e montou império de comida saudável
Após sofrer 9ª overdose, Khalil Rafati se recuperou e montou império de comida saudável
Foto: Khali Rafati / BBC News Brasil

Viciado em drogas que dormia nas ruas de Los Angeles, nos Estados Unidos, ele conseguiu recobrar a consciência depois que a equipe médica usou um desfibrilador - aparelho que gera uma descarga elétrica no coração para interromper uma parada cardíaca.

O episódio aconteceu em 2003, quando Rafati tinha 33 anos. Também dependente de cocaína, ele pesava 49 kg. Sua pele estava coberta de úlceras.

"Fui preso mais vezes do que consigo lembrar (por crimes relacionados a drogas)", diz. "Eu estava completamente confuso… sentia sempre muita dor, não conseguia dormir."

Embora tenha tentado se livrar das drogas antes disso, Rafati conta que apenas depois de sua nona overdose percebeu que precisava mudar de vida - caso contrário, morreria.

Vício em drogas destruiu vida de Khalil Rafati
Vício em drogas destruiu vida de Khalil Rafati
Foto: Khalil Rafati / BBC News Brasil

Ele então passou quatro meses em um centro de reabilitação - e está "limpo" desde então.

E Rafati não apenas se afastou das drogas, mas também se tornou um empresário de sucesso.

O ex-dependente químico enveredou-se pelo ramo de comida saudável: criou a marca Sunlife Organics, sediada na Califórnia, e, por causa dela, ficou milionário.

Ele chegou a ser preso
Ele chegou a ser preso
Foto: Khalil Rafati / BBC News Brasil

As receitas anuais superiores a US$ 6 milhões (R$ 18,7 milhões) vêm das seis lojas físicas - que vendem de sucos a cafés, além da linha de roupas da empresa - e do site. Rafati planeja ainda levar a companhia a outros 16 Estados americanos e ao Japão.

Hoje, aos 46 anos, está acostumado a viajar em um jato privado. Para isso, porém, foi necessário pavimentar um longo caminho desde os dias em que dormia nas ruas.

Infância problemática

A história de Rafati daria um filme de Hollywood.

Nascido em Ohio, no meio-oeste americano, ele é filho de uma mãe judia polonesa e um pai muçulmano.

Após ter infância problemática, Khalil Rafati mergulhou nas drogas
Após ter infância problemática, Khalil Rafati mergulhou nas drogas
Foto: Khalil Rafati / BBC News Brasil

Com uma infância problemática, acabou saindo da escola sem nenhuma qualificação e acabou preso por vandalismo e roubo.

Em 1992, aos 21 anos, ele se mudou para Los Angeles com o sonho de se tornar uma estrela do cinema.

Enquanto sua carreira não decolava, Rafati começou a tocar em bandas locais e conseguiu viver confortavelmente ao lavar carros de estrelas de Hollywood como Elizabeth Taylor e Jeff Bridges, além do guitarrista do Guns N' Roses Slash.

Apesar disso, rapidamente caiu no mundo das drogas. Sua vida saiu do controle: Rafati acabou dormindo dentro de caixas de papelão na companhia de outros dependentes químicos e começou a traficar entorpecentes para financiar seu vício.

Mas depois da nona overdose sua vida mudou completamente. Ele conseguiu abandonar as drogas ao conseguir vários trabalhos - por causa disso, não tinha nem tempo de pensar em se drogar, diz.

Empresa especializou-se em sucos
Empresa especializou-se em sucos
Foto: Sunlife Organics / BBC News Brasil

Além disso, começou a trabalhar em dois centros de reabilitação em Malibu (Califórnia) lavando carros, passeando com cachorros e fazendo jardinagem.

"Consegui economizar dinheiro", conta. "Trabalhei duro, sete dias por semana, 16 horas por dia."

Depois de ter encontrar um amigo de longa data de Ohio, Rafati ficou obcecado em fazer seus próprios sucos com frutas, legumes e verduras.

"Ele era meio hippie, e começou a me ensinar sobre vitaminas, comida orgânica, superalimentos", diz. "Naquele momento, eu estava buscando qualquer coisa que fizesse me sentir melhor."

Em 2007, Rafati alugou uma casa e abriu seu próprio centro de reabilitação, o Riviera Recovery, para clientes que podiam pagar até US$ 10 mil (R$ 31,2 mil).

Para esses hóspedes, Rafati fazia misturas exóticas de sucos, como a que chamou de Wolverine - uma combinação de banana, pó de maca peruana (um tipo de tubérculo), geleia real e pólen.

Foto: SunLife Organics / BBC News Brasil
Foto: SunLife Organics / BBC News Brasil
Foto: SunLife Organics / BBC News Brasil
Comida saudável transformou ex-viciado em milionário
Comida saudável transformou ex-viciado em milionário
Foto: SunLife Organics / BBC News Brasil

A fama dessas bebidas se espalhou rapidamente para além dos muros do centro de reabilitação - e ele começou a angariar novos clientes.

Percebendo que havia demanda suficiente para um negócio paralelo, Rafati lançou em 2011 a Sunlife Organics, ao lado de seu melhor amigo e sua então namorada.

A primeira loja foi aberta em Malibu, financiada com suas próprias economias. O empresário diz que foi um sucesso instantâneo, com receita de US$ 1 milhão (R$ 3,1 milhões) no primeiro ano.

Hoje, o negócio emprega mais de 200 pessoas em seis lojas físicas. Além dos sucos, a empresa vende comida e roupas como camisetas e casacos.

Coragem e determinação

Para Rob Nazara, analista do Deutsche Bank em Nova York, a história de Rafati mostra sua força de caráter.

"Não importa o seu nível educacional ou profissional, o sucesso de um empreendedor é movido por coragem, determinação e ambição", diz.

Rafati agora só viaja em seu jatinho privado
Rafati agora só viaja em seu jatinho privado
Foto: Khalil Rafati / BBC News Brasil

Além da Sunlife Organics, Rafati ainda administra a Riviera Recovery e é dono de um estúdio de ioga em Malibu.

Ele quer expandir empresa para 16 Estados americanos e para o Japão
Ele quer expandir empresa para 16 Estados americanos e para o Japão
Foto: SunLife Organics / BBC News Brasil
Khalil Rafati lançou sua autobiografia em 2015
Khalil Rafati lançou sua autobiografia em 2015
Foto: Khalil Rafati / BBC News Brasil

Ele também escreveu sua autobiografia, I Forgot To Die ("Esqueci de morrer", em tradução livre), que foi publicada em 2015.

"Não me considero superinteligente", diz. "Mas tenho fome pela vida, e me dedico 100% a tudo o que decido fazer."

Veja também:

A crise de drogas nos Estados Unidos:
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