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Berço da Revolução, Santiago de Cuba dá último adeus a Fidel Castro

3 dez 2016 - 18h58
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Após percorrer quase mil quilômetros e 12 províncias, as cinzas de Fidel Castro receberam neste sábado um último adeus nas ruas lotadas de Santiago de Cuba, berço da revolução liderada pelo ex-presidente do país e onde seus restos mortais descansarão para sempre.

O cortejo fúnebre que leva a urna funerária com as cinzas de Fidel chegou à cidade por volta das 12h locais, fazendo um amplo percurso de quase duas horas que passou pelo Parque Gramados e terminou no Quartel Moncada, palco em 1953 da primeira ação armada dos rebeldes comandados pelo ex-líder contra Fulgencio Batista.

"É histórico que suas cinzas passem justo pelo Moncada, mas também por toda Santiago, que o adora. Fidel não nasceu aqui, mas é um de nós", disse à Agência Efe Ramón Reina, de 73 anos, tenente-coronel aposentado das Forças Armadas de Cuba.

Reina conheceu Fidel quando tinha 16 anos, em 1960, quando era um simples soldado no batalhão de Jiguaní, quando, certo dia, líder cubano apareceu de surpresa com a revolucionária Celia Sánchez.

"É incalculável a impressão que ele provocou em mim. Foi uma pessoa tão nobre, singela, honesta, humana. Tão carinhosa e tão modesta", disse Reina, ao recordar o primeiro encontro com Fidel.

O tenente-coronel reformado esperava a passagem da comitiva em frente ao posto 3 do quartel Moncada, local onde os rebeldes comandados por Fidel atacaram o prédio em 26 de julho de 1953.

O ataque não teve sucesso, provocou a morte de muitos guerrilheiros e os sobreviventes, como Fidel e seu irmão Rául, hoje presidente de Cuba, foram presos, depois anistiados e enviados ao México. No entanto, a data é considerada como o início da Revolução, que finalmente triunfou sobre Batista em janeiro de 1959.

"É importante estar aqui como jovem revolucionário, mostrando patriotismo e rebeldia, que é o que significa o dia 26 de julho, para honrar Fidel, que sempre lutou por seus princípios e nunca os traiu", disse à Efe o juiz Rolando Aroche, de 33 anos.

Para o juiz, Cuba sem Fidel seguirá igual, porque o legado do líder "segue vivo". Em todo caso, acredita Aroche, haverá unidade. "Cuba se uniu, de uma província a outra, para despedir dele".

A comitiva militar que acompanha as cinzas do líder cubano desde o início do cortejo, no dia 30 de novembro, em Havana, faz o percurso inverso da "Caravana da Liberdade", a viagem ao longo de toda ilha feita pelo revolucionários de Sierra Maestra entre os dias 1º e 8 de janeiro de 1959 para derrubar o regime de Batista.

A caravana partiu há quase 58 anos do Parque Gramados de Santiago de Cuba, depois de Fidel ter pronunciado ali, no dia 1º de janeiro de 1959, o primeiro discurso após o triunfo da Revolução. Para lembrar esse momento, o cortejo fez no local a única parada do percurso na cidade. Estavam presentes Fidel Castro Díaz-Balart, o filho mais velho do ex-líder cubano, e vários de seus sobrinhos, filho do presidente da ilha, Raúl Castro.

A organização instalou um telão embaixo da varanda de onde o ex-líder fez o famoso discurso para repeti-lo para as milhares de pessoas que levavam bandeiras cubanas e gritavam "Eu sou Fidel".

Por ocasião do 25º aniversário da Revolução, Fidel declarou Santiago de Cuba como "Cidade Heroica" devido ao protagonismo na luta pela independência e o processo revolucionário, palavras que muitos hoje relembraram às lágrimas na Praça Gramados.

"O comandante era e continua sendo o comandante. Aqui tudo vai seguir como hoje. Ele não está mais entre nós, mas seguimos sentindo como se estivesse", disse Virgem, uma cubana aposentada que carregava consigo um cartaz com uma foto de Fidel jovem.

Marianela, uma oficial do Ministério do Interior já aposentada, disse não ter palavras para definir Fidel, a quem deve tudo. "Fiquei órfã muito pequena. Graças a ele e a uma bolsa de estudos em Havana, estudei e hoje sou o que sou, tenho uma casa digna", afirmou.

"Para mim, Fidel é meu coração! Viva Fidel", completou.

Após o périplo pela cidade de Santiago, onde uma multidão lotou as ruas para se despedir de "El Comandante", as cinzas de Fidel Castro na Praça da Revolução Antonio Macedo, dentro do mausoléu dedicado ao herói independentista, onde passarão a noite.

Nessa praça será realizada hoje, às 19h (22h em Brasília) um grande ato para que os cidadãos de Santiago de Cuba possam prestar uma última homenagem a Fidel, com a presença de personalidades da ilha. Um discurso de Raúl Castro também está previsto.

Os atos fúnebres terminarão amanhã, com uma cerimônia íntima e fechada à imprensa e ao público, no cemitério de Santa Ifigenia, de heróis e mártires cubanos, onde Fidel descansará ao lado do herói nacional José Martí.

EFE   
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