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Ásia

Testemunhas de Jeová entram na mira do governo russo

19 mar 2017 - 10h07
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O governo da Rússia pôs em seu ponto de mira as testemunhas de Jeová e pediu à Justiça que proíba toda a atividade desta organização religiosa que conta com 175.000 seguidores no país.

O Ministério da Justiça solicitou ao Supremo Tribunal a proibição do Centro de Direção das Testemunhas de Jeová na Rússia após investigar sua atividade, que considera "contrária às leis russas e aos próprios estatutos da organização".

"Não entendemos que objetivo perseguem as autoridades. Se olhar por onde olham, nos parece um sem sentido. Achamos que se trata de uma equivocação que finalmente ficará nisso, e o Ministério da Justiça retirará sua ação", disse à Agência Efe o porta-voz da comunidade religiosa na Rússia, Ivan Belenko.

As testemunhas de Jeová temem que o governo tenha se colocado como objetivo liquidar a totalidade de seus 2.200 grupos religiosos e 400 organizações locais.

Tudo indica, no entanto, que eles já têm os dias contados neste país, uma vez que o Supremo já respaldou no passado sua proibição em várias regiões e cidades.

Em todos os processos judiciais contra a organização, as autoridades lhe incriminaram pelo armazenamento e difusão de literatura religiosa de caráter extremista.

"Todas as decisões judiciais contra nós se baseiam em uma única acusação: que alguns de nossos livros e discursos estão na lista de literatura extremista que existe neste país", explicou Belenko.

O porta-voz denunciou que as decisões de incluir umas ou outras publicações na lista negra "foram tomadas com base em opiniões de falsos analistas e sentenças judiciais foram ditadas pelas costas dos crentes".

Uma citação do filósofo espanhol Miguel de Unamuno esteve a ponto de se transformar em motivo legal para proibir uma de suas organizações territoriais, segundo o porta-voz das testemunhas de Jeová.

"Unamuno escreveu que para crer na imortalidade da alma é preciso desejá-la, e o desejo deve ser forte o bastante para silenciar a voz da razão. Incluímos a citação em discurso e a procuradoria nos acusou de extremistas. Só na última hora alguém parou a denúncia, seguramente por respeito ao filósofo", lembrou Belenko.

A notícia, no entanto, chegou aos veículos de comunicação oficiais, que nos últimos anos embarcaram na onda propagandística que elogia a Igreja ortodoxa russa e critica movimentos religiosos minoritários como as testemunhas de Jeová e os mórmons.

"Cada vez que os veículos de comunicação informam que algumas de nossas publicações foram incluídas nas listas de literatura extremista, nossos crentes são vítimas de atos violentos por parte de radicais", se queixou Belenko.

O presidente da Associação Russa para o Estudo de Religiões e Seitas, Aleksandr Dvorkin, considera que as testemunhas de Jeová são uma seita que cria em torno de seus seguidores seu próprio mundo, um entorno isolado do resto da sociedade.

Dvorkin também criticou e tachou como seitas os mórmons e a Igreja da Cientologia, proibida pela Justiça russa em novembro de 2015.

A campanha contra as seitas coincide com um aumento sem precedentes em mais de um século da religiosidade entre os russos, embora menos de 10% dos cidadãos frequente regularmente a igreja, segundo estudos do prestigiado Centro Levada.

Agora que os ortodoxos devem observar o grande jejum da Quaresma, apenas 3% dos russos seguem com rigor as restrições na alimentação prévias ao Domingo da Ressurreição.

Há muitos anos que o Kremlin anda de mãos dadas com a Igreja ortodoxa russa na defesa dos valores tradicionais, enquanto acusa o Ocidente de ser uma sociedade depravada que perdeu sua identidade por tolerar os casamentos gays e por permitir a entrada descontrolada de imigrantes que professam outras crenças.

EFE   
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