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Ásia

Mulheres reivindicam seu lugar em processo de paz e reconciliação de Mianmar

11 fev 2017 - 10h05
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Com somente uma mulher no Executivo e apenas dez entre 440 parlamentares, organizações de defesa dos direitos humanos reivindicam o lugar das mulheres no processo de paz e de reconciliação na Mianmar democrática.

Por tradição, Mianmar privilegiou a educação das mulheres e respeitou seus direitos, mas a história mudou completamente com a chegada dos militares, em 1962, que governaram com mãos de ferro durante quase meio século.

Essa situação continuou durante a breve transição e não evoluiu muito desde a chegada da Liga Nacional para a Democracia (LND) ao poder, em março de 2015, apesar de o partido ser encabeçado por uma mulher, a Nobel da Paz Aung San Suu Kyi, considerada a primeira governante democrática da história do país.

"A agenda (do governo) para os direitos das mulheres foi esquecida. A participação na política ou nas tomada de decisão, por exemplo, é muito pequena e nos últimos meses foi registrado um aumento da violência contra a mulher, especialmente em regiões de conflito e contra aquelas pertencentes a grupos minoritários", explicou à Agência Efe a ativista Wai Wai Nu.

A fundadora da Rede de Mulheres pela Paz de Arakan atua na "preocupante" situação e destaca o crescimento de grupos extremistas budistas, como a seita Ma Ba Tha (Associação para a Proteção da Raça e da Religião) e a "impunidade" perante os abusos do exército, entre os principais responsáveis.

Além disso, o país tem leis que restringem os casamentos inter-religiosos, proíbem o aborto e a prostituição e contam com uma controversa definição de estupro.

"Existem muitos problemas em termos sociais para a mulher, que pode ser mandada para a prisão ainda à revelia de preceitos legais", declarou Wai Wai Nu.

Ela, que passou sete anos presa durante os últimos anos da junta militar por causa das atividades de oposição política de seu pai, trabalha em programas que promovem a capacitação de mulheres como líderes políticas, comunitárias e sociais e luta para derrubar as "barreiras" impostas ao gênero.

"É muito importante que as birmanesas, especialmente aquelas de zonas remotas, deslocadas pelos conflitos bélicos e que foram sistematicamente discriminadas, se unam para ter uma posição forte perante a violência contra a mulher, com principal ênfase na violência organizada pelo Estado", destacou a fundadora da organização Altsean-Burma, Debbie Stothard, em entrevista à Efe.

Em 2013, ela esteve no Brasil para falar sobre direitos humanos em uma palestra em São Paulo.

Durante alguns meses, algumas das ativistas birmanesas da Rede formada por Wai Wai Nu vão a Bangcoc (Tailândia), onde, na sede da Altsean-Burma, fazem cursos de direitos humanos e direito internacional das mulheres, entre outros temas.

"Não formamos alunos, estamos formando líderes do futuro, nossas futuras chefas. Algumas destas mulheres são refugiadas ou deslocadas internas, foram impedidas de ir à escola ou à universidade e superaram tudo isto para representar suas organizações e comunidades para a comunidade internacional ou nas Nações Unidas", contou Debbie, que estima que desde a inauguração, em 1997, o projeto já formou 200 líderes.

No entanto, a presença feminina ainda se limita aos cargos de observadora durante as atuais conversas de paz entre o governo central e uma dezena de minorias étnicas com o objetivo de fechar acordos duráveis após décadas de conflito armado, cuja próxima rodada está prevista para o final deste mês.

"Existe um claro sentimento de decepção com o governo porque ele não contribuiu para que a atuação feminina fosse maior, nem se comprometeu com a proteção dos direitos da mulher", disse Debbie sobre a Administração de Suu Kyi.

A opinião dela é semelhante à de Wai Wai Nu. "Embora seja muito complicado afirmar, não vi qualquer melhora em termos de direitos da mulher durante o atual mandato. Vamos ter que esperar um longo período para falar de igualdade", lamentou.

EFE   
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