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Ásia

Fundamentalismo budista encurrala muçulmanos em Mianmar antes das eleições

6 nov 2015 - 20h26
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A explosiva mistura de nacionalismo e fundamentalismo budista encarnada por organizações como Ma Ba Tha contribuiu para encurralar os muçulmanos às vésperas das históricas eleições de domingo em Mianmar.

O monge Wirathu, membro mais popular da Ma Ba Tha (Associação para a Proteção da Raça e da Religião) fez campanha nos últimos anos contra os muçulmanos, especialmente os da minoria étnica Rohingya no estado de Arracão.

Através de suas páginas no Facebook e no YouTube, onde conta com milhares de seguidores, o religioso ataca com regularidade os muçulmanos, chegando a acusá-los de terroristas, estupradores e de querer transformar Mianmar em um país islâmico.

"Podemos estar cheios de compaixão e amor, mas não podemos dormir junto com um cachorro louco. Se formos frágeis, nossa pátria será muçulmana", afirmou ele em uma entrevista à revista "Time" em 2013.

Em janeiro deste ano, Wirathu chamou a relatora especial da ONU para os direitos humanos em Mianmar, Yanghee Lee, de "cadela" e "prostituta" por utilizar a palavra "rohingya", que muitos birmaneses rejeitam porque consideram que os membros desta minoria são imigrantes ilegais de Bangladesh.

O monge também é um proeminente membro do grupo 969 (números que provêm dos nove atributos de Buda, os seis atributos de suas doutrinas e os nove atributos do monaquismo), que defende a expulsão dos rohingyas do país.

A ONU criticou em várias ocasiões a discriminação desta minoria muçulmana, à qual o governo tirou o direito ao voto após retirar o "cartão branco", um carteira de identidade temporária que concede alguns direitos.

Entre 800 mil e 1,5 milhão de rohingyas vivem em Arracão, onde muitos necessitam de permissões especiais para viajar e até para se casar ou ter filhos.

Mais de 120 mil membros desta minoria vivem amontoados em campos de deslocados desde o início dos conflitos entre muçulmanos e budistas, que em 2012 deixou mais de 160 mortos, em sua maioria rohingyas.

Devido à perseguição à qual estão submetidos, milhares de membros desta minoria embarcam todos os anos em perigosas viagens por mar a fim de chegar até Tailândia, Malásia ou Indonésia, onde são extorquidos pelas máfias de traficantes humanos.

Muitos dos candidatos que continuam sem poder concorrer ao pleito são rohingyas, como Shwe Maung, que ocupava uma cadeira na câmara baixa pelo governante Partido da União Solidariedade e desenvolvimento (USDP, na sigla em inglês).

O deputado, que desta vez queria concorrer como independente, afirmou que seus pais tinham a nacionalidade e que tudo foi uma estratégia da Comissão Eleitoral contra os muçulmanos.

"A razão é que sou rohingya", disse o político em uma conferência em Bangcoc da qual participou via Skype.

Fontes da organização Parlamentares da Associação de Nações do Sudeste Asiático pelos Direitos Humanos disseram à Agência Efe que suspeitam que as autoridades também queiram retirar a cidadania de Shwe Maung, um dos poucos rohingyas com passaporte birmanês.

Nem o USDP ou a Liga Nacional para a Democracia, dirigida pela Nobel da Paz e líder opositora Aung San Suu Kyi incluíram um candidato muçulmano devido às pressões de Ma Ba Tha e outros coletivos fundamentalistas.

Ma Ba Tha participou da redação das leis conhecidas como "proteção da raça e a religião", criticadas por várias ONGs como a Anistia Internacional por discriminar as minorias, especialmente os muçulmanos. As leis, aprovadas neste ano, regulam, por exemplo, os casamentos entre pessoas de fé diferente.

EFE   
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