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Ásia

Centenas de pessoas vivem em montanhas de lixo na Indonésia

30 jan 2010 - 06h04
(atualizado às 09h13)
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Centenas de indonésios cavam dia e noite entre as repugnantes montanhas de lixo de um dos maiores lixões da Ásia, procurando sucatas recicláveis entre os restos em decomposição para revendê-los e sobreviver com essa renda.

Catadores vasculham lixo em Bantar Gebang
Catadores vasculham lixo em Bantar Gebang
Foto: EFE

Herianto, 20 anos, tapa seu sorriso infantil com uma camiseta velha quando, ao amanhecer, chega com um cesto nas costas e botas de plástico ao muladar de Bantar Gebang, o único para os 20 milhões de habitantes de Jacarta e arredores, em meio a um cheiro penetrante de putrefação entre ácido e doce enjoativo.

"Venho todos os dias por volta das 7h da manhã e trabalho até as 15h. É melhor chegar cedo, porque depois muita gente se aglomera por aqui. Às vezes somos milhares", afirma o jovem à Agência Efe.

A atividade é frenética: uma dezena de escavadeiras e tratores removem e empilham o lixo que chega diariamente, entre 5 mil e 6 mil toneladas por dia, que não para de chegar em caminhões.

Centenas de pessoas, chamados "pemulung" (literalmente, 'carniceiros'), caminham entre as montanhas de restos de até 20 metros de altura com um gancho na mão e milhares de insetos ao redor.

"Eu recolho plásticos. Ganho umas 50 mil rúpias por dia (US$ 5)", explica Herianto, que considera difícil seu trabalho, mas sempre melhor que ser agricultor.

Este jovem de uma cidade próxima à capital começou a ganhar a vida nos mais de 110 hectares de miséria de Bantar Gebang há oito anos, tendo concluído apenas a educação básica. Ele não tem nenhum plano para mudar de profissão. "Todos meus amigos trabalham aqui", explica o indonésio.

Herianto é apenas um entre os cerca de 600 'carniceiros' que as empresas responsáveis pelo depósito reconhecem oficialmente que vão diariamente a suas instalações, de forma completamente informal, na busca por resíduos.

"Eles vêm e recolhem madeiras, papelões, plásticos e metais para seus chefes, que depois os revende a grandes empresas de reciclagem", afirma Sinaga, diretor da União Temporal de Empresas indonésias que obteve a gestão Bantar Gebang para o período 2008-2023.

A maioria deles são recrutados nas zonas rurais mais pobres da superpopulosa ilha de Java porque aceitam salários inferiores.

Os 'carniceiros' vivem em condições trabalhistas e sanitárias péssimas, expostos a múltiplas doenças pela putrefação da matéria orgânica e os riscos físicos de trabalhar em um entorno perigoso sem nenhum tipo de contrato de trabalho ou seguro.

"Nós não somos responsáveis se algum 'pemulung' sofre um acidente. Estão em nossas instalações, mas não são nossos funcionários", afirma Sinaga. O diretor acrescenta que os compradores de seus restos também não assumirão responsabilidades por eles em alguma emergência.

No entanto, sua situação vai mudar nos próximos anos, porque as empresas que administram o depósito de lixo desenvolvem o primeiro programa integral de reciclagem da Indonésia, um país que aprovou a primeira lei nacional de tratamento de lixo em 2008.

Assim, Bantar Gebang já conta com uma central que aproveita o gás metano, resultante da decomposição, para gerar eletricidade. A cidade também acaba de abrir uma fábrica para produzir "compost" (adubo orgânico) e o ano que vem começará a reciclar plástico, madeira e metal.

A reciclagem de parte do lixo de Jacarta - cerca de mil toneladas diárias em 2023, menos de 20% do total - resultará na criação de 300 postos de trabalho fixos no depósito, mas acabará com o meio de sobrevivência de muitos dos atuais 'carniceiros'.

EFE   
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