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Amiga “brasileira” relembra último encontro com Anne Frank

Nanette Konig, companheira de sala de aula da escritora, conta ao Terra como foi o reencontro no campo de concentração de Bergen-Belsen, há 70 anos, pouco antes dela sucumbir à epidemia de tifo. “Nossa situação era horrível”

12 mar 2015 - 08h13
(atualizado em 21/6/2018 às 11h19)
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Nanette Konig estudou com Anne Frank em Amesterdã, antes de sofrer na mão dos nazistas e migrar para o Brasil
Nanette Konig estudou com Anne Frank em Amesterdã, antes de sofrer na mão dos nazistas e migrar para o Brasil
Foto: André Naddeo / Terra

De todas as amigas, parentes, pai e mãe de Anne Frank, Nanette Konig teve o “privilégio”, digamos assim, entre aspas, de poder se despedir da do pai para fugir dos alemães.

Radicada no Brasil desde que se recuperou das atrocidades do Holocausto após o fim da Segunda Guerra Mundial, Nanette conversou com reportagem do Terra na ocasião da cerimônia da queda do campo de concentração de Auschwitz – talvez o símbolo maior da crueldade imposta aos judeus pelo regime de Adolf Hitler. Em bom português, e com uma riqueza de detalhes impressionante, Nanette contou sobre o seu “adeus” a Anne Frank.

As duas se reencontraram no campo de concentração alemão de Bergen-Belsen, cerca de sete meses após o “anexo secreto” do Diário de Anne Frank ter sido descoberto pela Gestapo. “Meu pai já tinha morrido, meu irmão e minha mãe já tinham sido deportados e eu estava sozinha. Eu estava num campo pequeno de mulheres, que estava ao lado de um, explicou.

Nanette, a única sobrevivente de sua família – para se ter uma ideia, de tão subnutrida, ela só voltou a mastigar um sólido um ano após ser salva pelos aliados.

“Foi então que eu vi ela andando nesse de mulheres. Foi quando conseguimos nos reencontrar”, contou.

Nanette revela que, além da “situação horrível” em que ambas se reencontravam, Anne, por sorte, estava acompanhada da irmã, Margot – outra que não resistiria ao campo de concentração. “Foi algo, mas emocionante. Nossa situação era horrível. Ela me contou sobre (o campo de) Auschwitz (para onde ela havia sido enviada anteriormente), sobre o que tinha acontecido, e sobre o esconderijo. E ela tinha esperança que a mãe ainda estava viva. E não sabia nada do pai”.

Existem relatos que dão conta de que o pai de Anne, Otto Frank, teria publicado o diário da filha, muito embora esta não fosse a sua vontade uma vez que era algo pessoal. Jacqueline van Maarsen, outra amiga bastante próxima da escritora, confirmou ao Terra que “ninguém podia ler o diário” dela, quando as duas ainda nem sonhavam que teriam a adolescência tão precocemente interrompida.

A ainda pré-adolescente Anne Frank: a talentosa escritora não resistiu ao campo de concentração de Bergen-Belsen e morreu há 70 anos
A ainda pré-adolescente Anne Frank: a talentosa escritora não resistiu ao campo de concentração de Bergen-Belsen e morreu há 70 anos
Foto: Photo Collection Anne Frank House, Amsterdam

No entanto, Anne teria mudado de ideia depois que, já no “anexo secreto”, em 1944, ouviu na rádio britânica BBC que sobreviventes deveriam relatar as atrocidades e tudo o que haviam presenciado do regime nazista para posteriori. Nanette confirma que, neste reencontro, a amiga mencionou, sim, que queria publicar seus relatos dentro do “armário-esconderijo” como forma de registro histórico assim que a Segunda Guerra Mundial chegasse ao fim.

“Ela me contou detalhes desse esconderijo, e de tudo o que passou lá. Aí me disse também sobre o fato que ela queria usar esse diário como base de um livro depois da guerra. Era um alívio abraça-la, conversar, mas a verdade era que no fundo dos nossos olhos uma percebia na outra que estávamos numa situação que estávamos perdidas. Duas alunas, com 15 anos, perdidas”, lembrou.

Nanette explicou ainda que “por mais que imaginasse que tudo poderia acontecer naquele inferno”, não imaginaria que aquela conversa depois de anos, seria a última entre as amigas de adolescência. “Foi pouco tempo antes de ela ser encaminhada para a barraca dos doentes. E lá ela morreu”. “A gente nunca sabia quando seria a última vez que veríamos as pessoas naquela época”. 

O relato exclusivo da melhor amiga da Anne Frank:
Fonte: Terra
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