Hoje não é Fernando Lugo que recebe um golpe. Hoje não é Fernando Lugo que é destituído. É a história paraguaia, sua democracia, que foi ferida profundamente. Foram transgredidas todos os princípios da defesa, de maneira covarde, de maneira traiçoeira, e espero que seus executores tenham em conta a gravidade de seus feitos.
Paraguai vota impeachment de Fernando Lugo; entenda a crise:
Como sempre atuei no marco da lei, embora essa lei tenha sido torcida como um frágil ramo ao vento, me submeto à decisão do Congresso e estou disposto a responder sempre por meus atos como ex-mandatário nacional.
Aos concidadãos e concidadãs: que não se negue o direito a manifestar sua opinião - e faço um chamado a que qualquer manifestação seja pacífica. Que o sangue dos justos não se derrame nunca mais por causa de interesses mesquinhos em nosso país.
Quase quatro anos depois de exercer a presidência da República do Paraguai, hoje me despeço como presidente da República. Mas não me despeço como cidadão paraguaio, e hei de servir a esta nação onde necessitem, como na área rural.
Fernando Lugo não responde a classes políticas, nem à máfia, nem ao narcotráfico. Este cidadão respondeu e seguirá respondendo ontem, agora e sempre ao chamado dos compatriotas, dos mais humildes e excluídos - e dos que, gozando de bom viver e inclusos da abundância, sabem que temos um dever de solidariedade por nossa pátria, por nossa história.
Depois de quase quatro anos, este cidadão paraguaio quer agradecer profundamente a todos os paraguaios e paraguaias que puseram seu ombro, seu tempo, seu valor para consolidar esta democracia que se vive neste país.
Em primeiro lugar, aos companheiros e companheiras colaboradores deste governo. Não quero esquecer das forças militares, dos comandantes, dos oficiais, da força pública, de todos. Aos movimentos sociais, aos campesinos, indígenas, líderes, homens e mulheres que sustentaram e vão continuar sustentando este país.
Não quero deixar de agradecer, sinceramente, aos companheiros da imprensa. Independentemente de compartilhar ideias, projetos, estamos consolidando a democracia da história paraguaia.
Nesta noite saio pela maior porta da pátria, pela porta do coração de meus compatriotas. Aos companheiros, companheiras, cidadãos, cidadãs, que hoje estão nas praças, nos caminhos, nos assentamentos, nas campinas, nas cidades, nos sindicatos. Aos paraguaios e paraguaias de bom coração que sonham com um Paraguai diferente, simplesmente lhes digo que sempre podem seguir contando com Fernando Lugo.
Muito obrigado a todos e a todas por seu apoio, e muita força, muita força, muita força. Viva o Paraguai!
A reação da polícia provocou a morte de 11 camponeses e a consequente crise política e o pedido de impeachment do presidente. Ao aprovar o início do processo político, a Câmara dos Deputados alegou "mau desempenho de funções", um dos motivos pelos quais o presidente pode ser processado, de acordo com a Constituição do Paraguai
Foto: AFP
Fazendeiros e políticos de oposição denunciaram esses procedimentos violentos, próximos à ilegalidade. Na sexta-feira, 15 de junho, seis policiais desarmados foram mortos durante a desocupação de uma propriedade em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, possivelmente por franco-atiradores que estavam ao lado dos camponeses
Foto: AFP
Conduzido à política por seu trabalho entre os camponeses, Lugo afirmava, ao assumir a Presidência, que faria uma reforma agrária pacífica. Mas foi abalado por invasões de grupos de camponeses ligados ao governo em propriedades de ricos produtores no leste, região agrícola mais rica do país na fronteira com Brasil e Argentina, onde milhares de colonos "brasiguaios" prosperam
Foto: AFP
Em agosto de 2010, seus médicos anunciaram que ele sofria de câncer linfático, mas afirmaram que ele poderia ser curado. Lugo se submeteu a seis sessões de quimioterapia, reduzindo consideravelmente suas aparições públicas. Ele foi tratado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por uma equipe de médicos brasileiros e paraguaios
Foto: AFP
A existência de diversos filhos do ex-bispo católico abalaria o apoio popular. Sua popularidade de 93% no momento de sua posse como chefe de Estado caiu para 30% depois dos escândalos em abril de 2009, quando foi obrigado a reconhecer um filho de 2 anos, Guillermo Armindo, de Viviana Carrillo, 24 anos (na foto)
Foto: AFP
A presidência de Lugo foi sacudida por reiteradas denúncias de paternidade feitas por várias mulheres, que pediam exames de DNA por filhos que, segundo elas, tiveram com o mandatário enquanto era bispo de San Pedro, Departamento mais pobre do país
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Lugo venceu as eleições presidenciais de 20 de abril de 2008 à frente de uma coalizão de partidos de direita e esquerda, a Aliança Patriótica para a Mudança (APC, sigla em espanhol) pondo fim ao partido Colorado, que se confundiu durante seis décadas com o Estado paraguaio
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Fernando Lugo se reúne com se reúne com o monsenhor Orlando Antonini, representante do Vaticano, em 2008, depois de a Igreja Católica dispensá-lo das funções eclesiásticas do cargo de bispo, o que permitiu a Lugo se candidatar à presidência do Paraguai - que ele acabaria vencendo em 20 de abril
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Ex-bispo católico, Fernando Lugo foi eleito há quatro anos no Paraguai com promessas de defender as necessidades dos pobres e obteve grande aceitação por parte dos movimentos sociais, especialmente dos camponeses. Defendeu a reforma agrária, questão conflituosa que acabaria levando seu governo a sofrer grandes abalos
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Nesta sexta-feira, 22 de junho, o Senado paraguaio aprovou o processo de impeachment do presidente Fernando Lugo, que foi destituído do cargo. A votação obteve a maioria absoluta, com 39 votos a favor da condenação, quatro contra e duas abstenções. Trinta votos eram necessários para aprovar o impeachment de Lugo, que agora deve deixar o poder e ser substituído pelo vice-presidente, Federico Franco