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A polêmica 'embaixada' que as Farc mantinham no México

26 set 2016 - 20h41
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Durante mais de dez anos, no México, eles participaram abertamente de reuniões, compartilharam livros e revistas, debateram em encontros acadêmicos.

Tudo isso enquanto seus colegas na Colômbia protagonizavam a guerra mais longa da América Latina - que caminha para um fim com o acordo de paz assinado nesta segunda e que irá a referendo popular no domingo.

Mesmo a presença deles no México não sendo clandestina, pouco se fala sobre o escritório que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) mantiveram no país por mais de uma década.

O escritório, que começou a funcionar oficialmente em 1992, fazia parte da estrutura da Confederação dos Partidos Políticos da América Latina e Caribe (Coppal) - ainda que trabalhasse de maneira relativamente independente da organização.

Além disso, o grupo tinha o reconhecimento do governo mexicano e seu número constava da lista telefônica.

O jornalista e escritor Alejandro Jiménez - coautor juntamente com Laura Castellanos do livro México Armado, sobre a história dos grupos armados no país - afirma que o ativismo não era segredo.

"Eram dez pessoas na delegação, que trabalhavam com uma estrutura parecida com a de uma embaixada", disse Alejandro à BBC Mundo.

"Diziam que eram a embaixada real da Colômbia no México, tinham um encarregado de relações; não o chamava de embaixador, mas ele agia como tal."

Esse representante foi, durante alguns anos, Marco León Calarcá, que agora integra a equipe que negocia o processo de paz com o governo colombiano.

O escritório foi fechado oficialmente em 2002, após várias polêmicas e indicações de supostos vínculos do grupo armado com cartéis mexicanos de tráfico de drogas.

Ainda que sua representação oficial tenha permanecido aberta somente por dez anos, as Farc permaneceram presentes no México durante quase quatro décadas.

Um exemplo é o fato de o governo do então presidente José López (1976-1982) reconheceu o grupo como uma força beligerante, assim como fez com outras organizações como a Frente Sandinista de Liberação Nacional e a Organização para a Liberação da Palestina (OLP).

Essa classificação é parte do Direito Internacional no que diz respeita a conflitos armados e faz com que o grupo tenha reconhecido seu direito de uma parte do território em disputa, assim como obrigações legais.

Segundo o escritor, houve um consentimento tácito: "Era como dizer: pode ficar, te tolero e farei vistas grossas".

O "acordo" era semelhante ao que existiu entre Fidel Castro e Che Guevara nos anos 50. O grupo podia fazer seu trabalho político e, somente no caso dos cubanos, podia treinar e recrutar pessoas.

"(No caso das Farc), cuidavam muita da maneira como isso era colocado, para não apoiar a guerrilha mexicana. Faziam um discurso revolucionário, mas sem apoiar ninguém claramente", afirma o escritor.

Oficialmente, os representantes das Farc faziam apenas um trabalho de promoção política. Eram particularmente ativos em universidade - algo que se manteve depois de 2002 - e costumavam dar bolsas para visitar a Colômbia.

A relação ganhou força após um ataque em que morreu um dos líderes das Farc, Raúl Reyes, e quatro estudantes mexicanos que estavam com ele no Equador.

"Suas atividades oficiais eram culturais, de promoção política. Queriam se distanciar do paramilitarismo, criticar seu governo e dizer 'não somos deliquentes'."

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