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A ajudante de dentista que largou a carreira para capturar jacarés

23 jan 2017 - 16h47
(atualizado às 17h36)
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Christy Kroboth abandonou a carreira de assistente odontológica para cuidar de criaturas com muito mais dentes - jacarés. Quando começou o treinamento, era a única mulher de sua turma. Mas isso, como conta no depoimento abaixo, fez com ficasse ainda mais determinada a mostrar que poderia saltar sobre um animal muitas vezes maior do que ela e amordaçá-lo. Confira:

Christy Kroboth até beija animais capturados
Christy Kroboth até beija animais capturados
Foto: Christy Kroboth

Quando consegui minha licença para capturar jacarés, tudo era apenas um hobby. Ia trabalhar como assistente odontológica e vez ou outra ir atrás dos meus jacarés nas horas vagas.

Mas fiquei conhecida por pegá-los vivos, e agora isso virou meu emprego.

Sempre gostei muito de animais, a culpa é da minha mãe. Quando era pequena, a via parar o carrro para ajudar tartarugas e patos a atravessar a rua. Levávamos para casa todos os bichos abandonados - gatos, cachorros e quem mais precisasse de um lar.

Vivo em uma parte do sul do Texas em que há muitos jacarés e muitas comunidades planejadas, em que há lagos artificiais nos quais os bichos vivem.

Os moradores morrem de medo de que os jacarés comam suas crianças e cachorros, mas nos últimos cem anos tivemos apenas um caso de pessoa morta por jacarés - então é tudo superstição.

Jacarés habitam a Terra desde o tempo dos dinossauros e são ótimos para o ecossistema porque mantêm o equilíbrio na vida aquática. São, na verdade, animais muito tímidos, não querem machucar ninguém.

Mas as pessoas pensam que eles são monstros. Percebi isso e comecei a pensar em como poderia ajudar a mudar essa opinião.

Ninguém pode simplesmente sair e pegar um jacaré no Texas porque eles contam com a proteção da lei. Você precisa de licença e permissão. Eu tive que fazer um curso e me registrar junto ao Departamento de Parques e Vida Selvagem.

Era a única mulher da turma e a pessoa mais nova. Depois de estudarmos toda a parte teórica, nosso instrutor disse "OK, vamos agora à parte prática".

Kroboth é uma defensora dos direitos dos répteis
Kroboth é uma defensora dos direitos dos répteis
Foto: Christy Kroboth

Eu nunca tinha nem sequer tocado em um jacaré antes. Liguei para a minha mãe e disse que não ia conseguir. Ela me disse para voltar para casa. Mas algo dentro de mim disse que eu tinha que fazê-lo, não apenas pelos jacarés, mas para provar para os homens que eu podia.

Corri até o lago, peguei o jacaré e o amordacei para passar no teste. Foi um dos momentos mais felizes da minha vida, e a adrenalina durou o dia inteiro.

O maior bicho que já peguei media 4 metros e pesava mais de 400 kg. Eu peso 54 kg, então ele era bem mais robusto do que eu. O jacaré era cego e estava perdido em um estacionamento.

Geralmente pegamos jacarés dessa maneira: seguramos suas mandíbulas com as duas mãos e, quando você se sente confortável, você busca usa uma das mãos para pegar a fita isolante no bolso e amordaçar. Você precisa ser rápido.

Bem, esse jacaré era tão grande que minhas mãos não cabiam em volta de suas mandíbulas. Tentei telefonar para colegas, mas eram seis da manhã e nenhum deles atendeu.

Consegui que um policial tentasse me ajudar, mas ele não queria pôr suas mãos perto da boca do jacaré, o que era compreensível.

Outra maneira de capturar um jacaré é pular em suas costas, então convenci o policial a fazer isso comigo.

O segredo é sentar-se completamente sobre o bicho. O policial não fez isso - ficou meio que dançando em volta dele, o que qualquer pessoa sem treinamento provavelmente faria.

O jacaré não gostou muito e começou a se sacudir para tentar escapar. Na hora eu vi que não ia dar certo, então eu me levantei para me afastar, mas o jacaré me derrubou com sua cauda - caí sobre meu traseiro.

Jacarés podem chegar a 4 metros de comprimento
Jacarés podem chegar a 4 metros de comprimento
Foto: Getty Images

Depois de quatro horas de tentativas, estávamos todos cansados. E o estacionamento estava começando a encher, então acionei um guarda florestal. Fiquei triste, pois normalmente eles matam os jacarés em vez de capturá-los.

Eu chorava muito, e o guarda me disse para esperar sua chegada. Mas quando ele falou isso, recuperei minhas energias. De alguma forma, consegui segurar as mandíbulas do jacaré e tapar sua boca com minha mão direita. Corri até uma loja próxima e comprei lacres de plástico para "algemar" suas patas.

Tivemos usar uma empilhadeira para colocar o jacaré no caminhão de um amigo. Animais potencialmente perigosos não podem ser soltos novamente, então normalmente são enviados para uma fazenda com bastante espaço e muitos lagos.

Descobri que deixar o carro bem frio acalma os jacarés, então mesmo nos meses de verão eu preciso dirigir com luvas, cachecol e um cobertor, porque deixo o ar-condicionado ligado no máximo.

O pior é quando eles fazem suas necessidades no carro. O cheiro não é nada bom.

É importante educarmos as pessoas sobre os animais que vivem perto delas e ajudá-las a entender que todos podemos conviver. Tenho três jacarés - Cam, Taylor e Halo -, que levo para escolas para dar dicas de segurança.

Jacaré no carro de Kroboth
Jacaré no carro de Kroboth
Foto: Christy Kroboth

Trabalho com eles diariamente e eles estão tão acostumados que já não me veem como uma ameaça. Até se sentam no sofá comigo para assistir TV.

Quando faço captura, às vezes pessoas que têm muito medo acabam mudando de ideia e até sugerindo um nome para o jacaré.

Essa mudança é o que me faz acordar todos os dias para trabalhar.

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Jacaré gigante é filmado durante passeio na Flórida:
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