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Mary McLeod Bethune, a conselheira presidencial filha de escravos

14 fev 2011 - 06h06
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Os Estados Unidos relembram neste mês o legado na história de luta pelos direitos dos negros deixado por Mary McLeod Bethune (1875-1955), que, mesmo tendo sido filha de escravos, chegou a ser conselheira do presidente Franklin D. Roosevelt.

Pode até ser que haja personalidades mais lembradas como a ativista Rosa Parks, que em 1955 se negou a ceder seu assento de ônibus a um branco, ou o reverendo Martin Luther King, cujo discurso "I have a dream" faz parte da história do movimento pelos Direitos Civis nos EUA.

No entanto, todo esse esforço não teria sido possível sem precursores como Mary Jane McLeod Bethune, destaca Jamie Eurken, guia da casa onde a ativista fundou o Conselho Nacional das Mulheres Negras (National Council of Negro Women - NCNW) na capital americana, aberta ao público nestes dias.

"Neste mês, americanos de todo o país celebrarão a criatividade, a determinação e as contribuições que os afro-americanos deixaram à cultura e à identidade de nossa nação", declarou o presidente Barack Obama em mensagem ao público.

Nascida 1875 na plantação de algodão onde seus pais trabalhavam como escravos em Mayesville (Carolina do Sul), Mary McLeod era a 15ª de 17 irmãos e, pioneira em tantas coisas, também foi a primeira da família a nascer livre.

Numa época em que a sociedade era totalmente segregada pela cor da pele e o direito à educação era negado às crianças negras, a pequena Mary teve acesso a estudos primários em uma escola de missionários e, motivada como era, ansiava em continuar sua formação educacional.

Conseguiu uma bolsa de estudos financiada por um mecenas da alta sociedade que decidiu dar oportunidade às meninas do sul e continuou seus estudos em Chicago, graduando-se em 1890 no Instituto Dwight Moody para Missões Domésticas e Internacionais. Ela sonhava em se tornar missionária na África, mas esse era outro direito exclusivo dos brancos.

Frustrada por não atingir seu objetivo, mas centrada na importância da educação num momento em que emergia o sentimento que motivaria o movimento pelos Direitos Civis, Mary, já casada com Albertus Bethune, fundou em 1904 uma escola para meninas negras em Daytona Beach (Flórida).

Esta modesta escola, com seis meninas matriculadas no início, foi adquirindo prestígio, até que, graças a sua determinação para arrecadar fundos entre os brancos que passavam férias nas praias da região, se transformou na Universidade Bethune-Cookman.

Aquele era apenas o início da atividade pública de Mary. Ela passou a fazer parte de organizações de mulheres afro-americanas, como a Federação de Mulheres Negras da Flórida, a Associação Nacional de Mulheres de Cor, que presidiu durante quatro anos, e a Comissão de Bem-Estar Infantil.

Foi neste ambiente onde conheceu Eleanor Roosevelt, esposa do presidente Franklin D. Roosevelt (1933-1945) e de quem recebeu apoio incondicional.

Em 1935, mudou-se para Washington e fundou o NCNW. Nesse mesmo ano, o presidente Roosevelt nomeou-a diretora da Divisão de Assuntos Afro-Americanos da Agência da Juventude, o que fez dela a primeira mulher negra a dirigir uma divisão de uma Agência Federal.

Desde esse cargo, que ocupou entre 1936 e 1943, continuou seu entusiasmo em promover a educação entre os afro-americanos para que eles pudessem ter uma vida melhor e optar pelos mesmos postos de trabalho que os brancos.

Neste período, Roosevelt também contou com ela para o grupo de assessores informal denominado "gabinete negro", ao qual consultava sobre assuntos de minorias e relações inter-raciais.

Mary trabalhou sem descanso para influir nas leis que diziam respeito aos afro-americanos e às mulheres, e continuou sendo uma importante voz na defesa dos direitos humanos até sua morte em 1955.

Seu trabalho na Administração pública lhe trouxe inimigos entre os brancos - recebeu ameaças do grupo racista Ku Klux Klan - e inclusive entre alguns grupos de afro-americanos, que a acusavam de trabalhar para os brancos no Governo.

"A história popular se centra nos líderes que surgem do clamor do público. Ela morreu justo antes da eclosão do movimento dos Direitos Civis", assinalou Eurken, quem destacou o grande legado deixado por ela.

Mary teve um filho e cinco netos, que não seguiram seus passos. No entanto, em seu testamento, ela mencionou "suas filhas", aquelas às quais assumiram seu trabalho.

"Deixo-lhes amor. Deixo-lhes esperança. Deixo-lhes o desafio de desenvolver a confiança entre uns e outros. Deixo-lhes a vontade de continuar educando. Deixo-lhes o respeito ao uso do poder. Deixo-lhes fé. Deixo-lhes dignidade racial. Deixo-lhes o desejo de viver em harmonia com seus cônjuges e, finalmente, deixo-lhes a responsabilidade de nossa gente jovem", escreveu Mary.

EFE   
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