A dor pela perda de pessoas próximas ou a lembrança constante das cenas de horror vividas dentro da Boate Kiss levaram parte da população de Santa Maria ao fundo do poço. Com ajuda profissional, os sobreviventes e familiares de vítimas da tragédia encontraram na solidariedade, no amor ao próximo e na luta por justiça uma nova forma de dar significado às suas vidas.

“No início eu queria pegar um e arrancar a cabeça dele, não queria saber quem fosse. Agora, depois de conversa, religião, medicação, o teu coração vai se acalmando”
Sérgio da Silva, pai de Augusto Sérgio, que morreu na Boate Kiss

Rodrigo Moura Ruoso trabalhava como segurança da Boate Kiss na madrugada da tragédia, e poderia ter evitado que as chamas se espalhassem caso o extintor de incêndio usado por ele tivesse funcionado. Após escapar ileso do fogo, o segurança retornou à boate para ajudar no resgate das vítimas e na investigação do incêndio.

Porém, cerca de 72 horas após o incêndio, Rodrigo foi internado às pressas no Hospital de Caridade de Santa Maria, após sofrer insuficiência respiratória em decorrência de intoxicação por cianeto, substância tóxica presente na fumaça liberada na Boate Kiss. Ao acordar, o ex-segurança da Boate Kiss passou a relembrar, aos poucos, o drama que o levou à depressão e tira seu sono até hoje.

“Me deu uma depressão muito profunda, eu cheguei ao ponto de querer cometer suicídio”
Rodrigo Moura Ruoso, ex-segurança da Kiss

Após passar 53 dias internada em hospitais de Santa Maria e Porto Alegre - dois quais 15 ela passou em coma -, a estudante Gabriele Stringari não queria ter contato com qualquer imagem que a remetesse à tragédia, na qual perdeu mais de uma dezena de colegas e amigos.

“No início eu não queria ver vídeo, não queria ouvir falar, quando dava alguma coisa na TV eu mandava desligar”
Gabriele Stringari, sobrevivente da Boate Kiss