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Lagoa da Pampulha - Belo horizonte - Minas Gerais

Lagoa da Pampulha recebe maquiagem para a Copa, diz ambientalista

Ney Rubens / Especial para o Terra
Direto de Belo Horizonte

Cartão postal de Belo Horizonte, a Lagoa da Pampulha, criada artificialmente na década de 40 do século passado pelo ex-presidente Juscelino Kubitscheck, então prefeito da capital mineira, é tão famosa por sua beleza quanto por sua poluição. E, ao que tudo indica, este cenário, se mudar, mudará pouco até o começo da Copa do Mundo. “O problema [da poluição] não vai ser resolvido da forma que a gente gostaria”, diz Nirma Damas, uma das coordenadoras do programa Pampulha Viva, sobre o mais recente projeto de revitalização da lagoa. “É mais uma maquiagem para a Copa do Mundo”, afirma. “O esgoto não vai deixar de cair na lagoa por completo e a contenção de encostas também não será feita, então o assoreamento vai permanecer”, diz.

As promessas de revitalização da lagoa se arrastam há décadas. E embora perspectiva de resolução completa dos problemas de poluição não seja boa, a melhora de alguns aspectos já é realidade. Com a proximidade da Copa do Mundo, as prefeituras de Belo Horizonte e Contagem, na região metropolitana, além da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), tem se mexido num esforço para poupar os turistas do Mundial do mau cheiro e dos insetos característicos do entorno da lagoa.

Lagoa da Pampulha - Belo horizonte - Minas Gerais
Lagoa da Pampulha - Belo horizonte - Minas Gerais

Revitalização

A Copasa, por exemplo, informa que 28 das 37 obras do projeto de revitalização da lagoa, orçado em R$ 102 milhões e financiados pela Caixa Econômica Federal, já foram executados. Quando ele estiver concluído, 80 mil metros de rede coletora de esgoto nas ruas dos bairros de Belo Horizonte e de Contagem – onde está localizada boa parte dos oito córregos que desaguam na Pampulha – estarão prontos. Serão feitos ainda 20 mil metros de rede interceptora de esgoto nas margens desses córregos e urbanizados 13 mil metros de fundos de vales em vilas e aglomerados, com a remoção dos moradores.

“Se tudo correr bem, na Copa do Mundo, o esgoto não cai mais na lagoa,” prometeu Walter Vilela Cunha, gestor da meta 2014 de um outro projeto encabeçado pela Copasa para despoluir a bacia do rio das Velhas e da Pampulha. Mas para garantir que a meta seja atingida, o cidadão terá de fazer a sua parte. “É necessário que a população faça as ligações da rede das casas à rede da rua,” afirma.

Em paralelo ao projeto de construção das redes de esgoto em Belo Horizonte e Contagem, está previsto ainda o desassoreamento da Pampulha, com a retirada de 800 mil metros cúbicos de terra ao custo de R$ 109 milhões. Além disso, se prevê a execução do projeto de recuperação da qualidade da água por R$ 30 milhões, ainda em fase de licitação. Estes dois projetos serão executados com recursos da própria prefeitura de Belo Horizonte, do Banco do Brasil e do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). “A ideia é que, até 2015, a lagoa passe para a chamada ‘classe 3’, que permite seu uso para a prática de esportes náuticos com o uso de barcos e pedalinhos”, explicou Cunha. Não há previsão, porém, para que a lagoa chegue à classe 2, que permite contato primário, como a natação.

Ceticismo

Nirma Damas, do Pampulha Viva, não se anima com a perspectiva colocada por Cunha. Segundo ela, a primeira data estabelecida para a entrega da despoluição da lagoa foi 2010, depois 2014 e agora, 2015. E mais, segundo ela, mesmo que a limpeza seja entregue em 2015, ela não resolve o grande problema da poluição. “Tem muita ligação clandestina e o esgoto vai continuar a cair na lagoa”, lamenta.

De acordo com levantamento do Programa de Recuperação e Desenvolvimento Ambiental da Bacia da Pampulha (Propam), a lagoa da Pampulha perdeu a metade do volume original com o assoreamento. Parte da terra e sedimentos foram carregados pelos córregos que deságuam no lago.

No início da década passada, o processo de assoreamento provocou o surgimento de verdadeiras montanhas de terra que tomaram o espelho d´água na área próxima ao Jardim Zoológico de Belo Horizonte e à Toca da Raposa I, centro de treinamento do Cruzeiro Esporte Clube. Em uma das montanhas, a prefeitura de Belo Horizonte construiu o Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego, conhecido como Parque Ecológico da Pampulha, com 30 hectares de área verde aberta ao público.

A lagoa da Pampulha hoje

Segundo os dados mais recentes da pesquisa do Instituto de Gestão das Águas de Minas Gerais (IGAM), no segundo semestre de 2013 verificou-se uma melhoria na qualidade das águas da lagoa da Pampulha em relação ao ano anterior. Houve queda na qualificação “muito ruim” do Índice de Qualidade da Água (IQA) no período (de 52% em 2012 para 45% em 2013) e alta nas qualificações “bom” (de 0% em 2012 para 5% em 2013). O IQA “excelente”, porém, continua inobservável. A esperança é que, em breve e com os investimentos previstos, esse quadro mude. Mas não há garantias.