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Lagoa da Conceição - Santa Catarina

Encanto da lagoa da Conceição se esvai com o mau cheiro da poluição

Fabricio Escandiuzzi / Especial para o Terra
Direto de Florianópolis

Poucas coisas dão a verdadeira dimensão de quão poluído é um corpo de água quanto o número dos chamados pontos monitorados poluídos que ele tem. Em um dos principais destinos turísticos de Florianópolis, a lagoa da Conceição, cinco dos nove pontos monitorados apresentam problemas. Nesses locais – todos pré-determinados pela Fundação do Meio Ambiente (Fatma), que acompanha, entre outras coisas, a balneabilidade de locais como a lagoa – se extrai água sistematicamente para acompanhar a evolução em sua qualidade.

Lagoa da Conceição - Santa Catarina
Lagoa da Conceição - Santa Catarina

E os dados dos relatórios para esses cinco pontos na lagoa da Conceição não são nada animadores. Pelo conjunto de documentos produzidos no início de 2014 e divulgados semanalmente durante a alta temporada, as amostras coletadas revelaram ser imprópria para banho a água naquela porção da lagoa.

Entre os locais analisados, três são em pontos notoriamente frequentados: um em frente ao acesso à praia da Joaquina, que reúne bares e praticantes de esporte náuticos, e dois na rua Manuel Isidro de Oliveira, o chamado “centrinho” da lagoa. Outros locais onde levantamento revelou problemas ficam diante de um movimentado posto de saúde da região e da rua Canto da Amizade.

“É um local de pouca circulação de água e baixos índices oxigenação, em função, principalmente, do grande número de ligações clandestinas de esgoto”

Algas

A lagoa da Conceição vem sofrendo há anos com a proliferação de algas. Na última década, o fenômeno aumentou consideravelmente em parte por causa do boom imobiliário na região e o crescente número de construções clandestinas. Hoje, em toda Florianópolis, 20 dos 66 pontos avaliados pela Fatma estão com problemas, como alto índice de coliformes fecais na água.

Mas a situação da lagoa da Conceição é uma das que mais preocupa os órgãos de fiscalização. “É um local de pouca circulação de água e baixos índices oxigenação, em função, principalmente, do grande número de ligações clandestinas de esgoto”, afirma o gerente de Pesquisa e Análise da Qualidade Ambiental da Fatma, Haroldo Tavares Elias. Lançado sem qualquer tratamento na lagoa, o esgoto alimenta algas e dá potência a um mau cheiro que compromete a vocação turística do local.

De acordo com Haroldo Tavares Elias, não é só a ligação incorreta na rede de esgoto, com o lançar de seus efluentes domésticos sem tratamento na água, que contribuem para a piora na qualidade da água tanto da lagoa quanto das praias da região – para Haroldo, aliás, a poluição nas praias é reflexo direto da poluição em locais como a lagoa da Conceição. "Outros fatores que pesam são as chuvas intensas e as ressacas, que aumentam a quantidade de esgoto que chega às praias" afirma.

Mutirões e medidas governamentais

Nos últimos anos, a prefeitura vem realizando mutirões de limpeza antes do início da alta temporada para a retirada das algas. Funcionários da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap), órgão municipal responsável pela limpeza pública, fazem a limpeza com pás e caminhões, um trabalho que leva cerca de uma semana. Mas sem a interrupção do lançamento de esgoto in natura nas águas, o problema deve continuar. Em 2013, pelo menos três condomínios localizados no canto da lagoa passaram a dar um fim correto e legal aos dejetos sanitários que produziam depois de uma intervenção do Ministério Público.

“Tem dias que o cheiro é insuportável. Não dá para ficar em casa”, afirma o empresário Daniel Henrique Scarton, 46 anos, morador em um condomínio às margens da lagoa desde 2005. “Todo ano é a mesma coisa. Quando chove, tudo é lançado na lagoa. Aí a água fica preta e depois aparecem as algas e o mau cheiro”. Sem uma mudança cultural e um incremento na fiscalização, esta realidade não deve mudar tão cedo.

“Todo ano é a mesma coisa. Quando chove, tudo é lançado na lagoa. Aí a água fica preta e depois aparecem as algas e o mau cheiro”