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Rio Ipojuca -  Pernambuco

Fundametal à economia local, rio Ipojuca sofre com esgoto doméstico

Eduardo Herrmann, GHX Comunicação
Especial para o TerraM

Um dos rios mais poluídos do Brasil, o Ipojuca cumpre importante papel em Pernambuco. Suas águas atravessam três importantes regiões do Estado desde a sua nascente, no sertão, até sua foz, na zona litorânea, passando por 27 municípios, 12 dos quais em sua bacia hidrográfica. “Sua localização é estratégica porque ele está situado na ligação oeste-leste do território pernambucano e abriga cidades interioranas com grande dinamismo econômico”, explica Marisa Figueiroa, diretora de Gestão de Recursos Hídricos da Agência Pernambucana de Águas e Clima.

Rio Ipojuca -  Pernambuco
Rio Ipojuca -  Pernambuco

Conforme resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente, as águas do rio Ipojuca se enquadram na classe 2, que são aquelas destinadas ao abastecimento para consumo humano, à recreação, à irrigação, à aquicultura e à pesca. Só que a falta de tratamento adequado de efluentes domésticos, industriais e agropastoris levou o rio à terceira posição entre os mais poluídos do País, em ranking do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo a bióloga Valéria Veronica dos Santos, é possível observar “fortes efeitos” da ação antrópica, ou humana, em vários pontos da bacia hidrográfica do rio Ipojuca, como despejo de lixo e lançamento contínuo de produtos de limpeza e excrementos humanos sem qualquer tipo de tratamento. “Além disso, por se tratar de um rio intermitente na maior parte do seu curso, o processo de autodepuração é muito lento”, esclarece Marisa. Isso quer dizer que, como o rio não tem um curso fixo de água durante o ano todo, variando muito a vazão de acordo com o regime de chuvas, o processo de diluição da poluição é mais lento.

Hoje, os municípios onde se observa maior poluição são Tacaimbó, Sanharó, Bezerros e Gravatá, “Vale ressaltar que, em Bezerros, a água do rio está tão suja que causa desconforto nas vias aéreas das pessoas que circulam por suas proximidades”, alerta a bióloga Valéria, que também é mestranda em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e cuja dissertação tratará da distribuição espacial e ecologia de macrófitas, ou plantas aquáticas, no rio Ipojuca. “Além disso, pode ser observada elevada produção de espuma numa queda d’água localizada no centro da cidade”.

Além da poluição, o rio Ipojuca convive com a ocupação irregular de suas margens. Em época de cheia, a situação é mais perigosa. Em uma inundação em 2004, por exemplo, quando o nível das águas chegou subir dois metros, 30 pessoas morreram e três mil ficaram desabrigadas.

“A água do rio está tão suja que causa desconforto nas vias aéreas das pessoas que circulam por suas proximidades”

Projeto de saneamento

Uma notícia no ano passado trouxe alento para a população que depende do rio. Em agosto de 2013, o governo de Pernambuco contraiu um empréstimo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para criar o Programa de Saneamento Ambiental do Rio Ipojuca. O projeto prevê investimentos de R$ 757 milhões, R$ 298 milhões de contrapartida do Estado, dos quais 90% se destinam ao desenvolvimento de esgotamento sanitário em 12 cidades situadas nas margens do rio.

De acordo com Marisa, a implantação do projeto de saneamento começou no final de 2013 e deve ser concluído em 2019. Além do investimento em esgotamento sanitário, o programa terá ações de fiscalização ambiental e de restauração florestal em áreas de preservação nas margens do rio, nascentes e principais reservatórios. “Os resultados obtidos com essas ações terão impacto significativo na despoluição do rio e na melhoria das condições ambientais em toda a bacia hidrográfica”, afirma a diretora de Gestão de Recursos Hídricos da Agência Pernambucana de Águas e Clima.

Segundo Marisa, o projeto ainda irá reduzir a carga orgânica lançada no rio em cerca de 19 toneladas por dia e aumentará o número de residências ligadas à rede de esgoto. “Com isso, serão reduzidos os riscos de contaminação por vetores hídricos, o que contribui para a saúde da população e a melhoria da qualidade da água do rio e dos reservatórios”.

A bióloga da UFPE Valéria elogia a iniciativa, mas defende que todos, e não só os mais poluídos, municípios banhados pelo rio Ipojuca deveriam receber esgotamento sanitário. “Mas parte do problema da poluição do rio deverá ser resolvida, pois o esgoto passará a ser tratado, e nutrientes como nitrogênio e fosfato, encontrados em ecossistemas aquáticos continentais, provavelmente diminuirão”. Esses mesmos nutrientes, porém, que alimentam algas oportunistas e que reduzem a oxigenação da água, não devem desaparecer completamente até que a bacia hidrográfica deixe de receber efluentes industriais e agropastoris.

Valéria reforça o quão importante é manter o ecossistema aquático equilibrado já só assim surgem condições para a vida. O equilíbrio ainda reduz as florações de algas e o crescimento de macrófitas aquáticas, aumenta as taxas de oxigênio dissolvido na água, diminui a produção de gases tóxicos nas camadas do corpo d’água e, com isso, permite uma maior biodiversidade aquática. “Além disso, a água nessas condições não terá seus usos múltiplos comprometidos e a população poderá usufruir desse recurso natural sem nenhum risco à saúde”, conclui.