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Rio Caí - Rio Grande do Sul

Poluído, rio Caí só não está pior graças à topografia da região por onde passa

Eduardo Herrmann, GHX Comunicação
Especial para o Terra

Com nascente na região mais alta do Rio Grande do Sul, em São Francisco de Paula, nos campos de cima da serra, o rio Caí percorre cerca de 280 quilômetros e deságua no delta do Jacuí, divisa entre os municípios de Canoas e Porto Alegre. Nesse trajeto, passa por regiões de colonização italiana e alemã e com alto índice de desenvolvimento humano. Muitos desses municípios, entretanto, são displicentes na hora de cuidar de sua maior fonte de recursos hídricos. De acordo com os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Caí é o oitavo rio mais poluído do País

Rio Caí - Rio Grande do Sul
Rio Caí - Rio Grande do Sul

Dimensão

Os principais municípios por onde passa o rio Caí, seja na zona rural ou na urbana, são Canela, Gramado, Caxias do Sul e Montenegro. Além das cidades menores banhadas pelo próprio Caí, rios, pequenos cursos de água e afluentes que formam a bacia do Caí, que tem de 5 mil km², banham outros 41 municípios. A população abastecida pelo curso de água gira em torno de 400 mil pessoas. Ela só não é maior porque Caxias do Sul, com 441 mil habitantes, integra também, ao norte, a bacia do rio Taquari. O Caí passa ao sul, afastado da zona urbana.

O rio Caí é o 8º rio mais poluído País, segundo ranking do IBGE

Equação da poluição

Embora nenhum dos outros 41 municípios da bacia trate tanto esgoto doméstico quanto Caxias, a cidade, por ser a segunda mais populosa do Rio Grande do Sul, acaba sendo a maior contribuinte de poluição ao rio. “Em Caxias e em grande parte da região, o rio é avaliado como de classe 4”, conta a engenheira química Tânia Regina Molina Zoppas, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do rio Caí. Ela se refere à avaliação que consta no Plano de Bacia de 2006, que utiliza os parâmetros do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Segundo resolução do órgão, um rio pode ter seus trechos classificados entre 1 e 4, sendo que, quanto maior o número, pior o estado e mais impróprias para uso são as suas águas. Na classe 4, a pior classificação, o rio é próprio apenas para navegação e apreciação visual.

Além do esgoto residencial, a indústria e agricultura também poluem o rio Caí. Apesar da existência de uma legislação rígida, que pode sujeitar empresários e agricultores a pesadas autuações e processos criminais, o monitoramento das águas do Caí e seus arroios revela a presença de uma quantidade considerável de metais pesados e outros componentes na água. Isto sugere o descarte irregular de resíduos industriais. Pudera, na região, além da forte presença de metalúrgicas, os arroios Candeia a Feitoria trazem águas que passam pelos municípios de Dois Irmãos, Ivoti e Lindolfo Collor. Essas cidades são conhecidas pela forte atividade de curtumes, que tem grande potencial poluidor.

Já em Caxias do Sul, por ser um importante polo econômico do Estado, há indústrias de diversos setores. “É bastante frequente recebermos relatos de falhas no sistema de tratamento ou de descarte irregular de efluentes de algumas indústrias”, revela Janaina de Carli dos Santos, 1ª promotora da Promotoria de Justiça Especializada de Caxias do Sul. Os resíduos não tratados e descartados irregularmente acabam drenados pelos arroios, que os levam até o curso principal da bacia, seja do Caí ou Taquari. “Chegam a nós relatórios da polícia ambiental ou secretaria de meio ambiente, então o Ministério Público dá prosseguimento civil e criminal. Nosso papel é verificar se realmente houve falha e responsabilizar civil ou criminalmente a empresa ou as pessoas físicas. Com isso elas devem recuperar ou compensar o dano ambiental”, acrescenta.

Para Tânia Zoppas, presidente do Comitê Caí, o esgoto doméstico não tratado é o maior responsável pela poluição do rio. “Isso foi identificado no Plano de Bacia. Bem ou mal, Caxias do Sul ainda trata uma parte, mas a maioria dos municípios, por serem pequenos, não tem recursos para montar e encaminhar seus projetos”, afirma. Para ela, as grandes indústrias poluidoras são mais fáceis de fiscalizar e autuar, o que agiliza o processo nesse segmento.

Topografia favorável

Embora complicada, a situação do Rio Caí não gera consequências mais graves para a população graças a peculiaridades topográficas da região por onde ele corre. Além de ter suas margens distantes dos municípios mais populosos, o Caí é um rio com águas de baixa temperatura e repletas de corredeiras, principalmente em sua parte superior. Isto contribui para a melhora da qualidade das águas e viabiliza a oxigenação, que permite a vida dos peixes.

Nas partes saudáveis do rio, principalmente em sua parte superior, os benefícios são muitos. Além de abastecer a população, indústria e agricultura, o rio é usado para fins recreativos, como banho e pesca artesanal. Em São Francisco de Paula o curso ainda provê energia elétrica graças a uma barragem instalada no município de Salto. O mesmo sistema transpõe uma quantidade razoável de sua água, proporcionando um respiro diário ao rio mais poluído do Rio Grande do Sul e oitavo mais poluído do Brasil.