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Hillary ganha nomeação, mas não apoio de todos os democratas

27 jul 2016 - 11h42
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Partidários de Sanders protestam durante convenção na Filadélfia e evidenciam que nem todo o partido está satisfeito com opção pela ex-secretária de Estado. Muitos prometem escrever "Bernie" na cédula eleitoral.

Milhares de apoiadores de Bernie Sanders, o senador americano pelo estado de Vermont que foi o principal rival de Hillary Clinton nas primárias do Partido Democrata, protestaram do lado de fora do congresso partidário, nesta terça-feira (27/07) na Filadélfia.

Eles aplaudiram freneticamente quando os estados anunciavam votos a favor do senador e irromperam em vaias no momento em que Hillary conquistou a nomeação como candidata democrata à Casa Branca.

O número de votos necessários era 2.382. Sanders ganhou em 23 estados e territórios, com um total de 1.865 votos, enquanto Hillary granjeou 34 estados e territórios, com 2.842 votos.

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"Quando foi a última vez que tantas pessoas do nosso próprio partido saíram para protestar contra o nosso próprio candidato?", indagou Natalie Salgado, uma fervorosa apoiadora de Sanders, proveniente de Lodi, no estado de New Jersey.

Ela foi de carro até a Filadélfia para protestar contra o Comitê Nacional do Partido Democrata (DNC), junto a seus amigos. Salgado é somente uma dos muitos jovens que se sentiram inspirados pela retórica de Sanders a participar ativamente na política e que estão descontentes com o atual sistema político nos EUA.

"Nós adoramos os ideais de Bernie e nos atemos a esses ideais, mas não necessariamente à pessoa", afirmou Nick Santacroce, de 29 anos, especialista em tecnologia médica e amigo de Salgado.

Desiludido com o fim da campanha de Sanders, nenhum dos dois pretende votar em Hillary nas eleições presidenciais, apesar do recente apoio de Sanders à ex-primeira-dama.

"Eles nos veem como bonecos de Bernie e pensam que vamos seguir cegamente qualquer coisa que ele nos disser - porque eles são fantoches do partido e obedecem a qualquer coisa que o seu presidente lhes diz", afirmou Delgado. "Eu vou escrever Bernie na cédula."

"Vou escrever o nome de Bernie"

O amigo dela, Nick, ainda não se decidiu, mas também está pensando em escrever Bernie em sua cédula eleitoral. "Provavelmente vou escrever o nome de Bernie, mas somente porque vivo num estado democrata", disse Nick.

Morar num "estado democrata" significa que a maioria da população vota nos democratas, o que garante que os votos do estado vão para Hillary no colégio eleitoral, durante a eleição geral, um aspecto da política americana que tem sido criticado por não corresponder a uma democracia direta.

Deborah Kim, de Seattle, também voou até a Filadélfia para protestar e mostrar seu descontentamento com o Partido Democrata. "Eu não votarei nos democratas nesta eleição, queremos marcar presença e mostrar ao partido que não concordamos com suas práticas", disse Kim, explicando que vai votar em Jill Stein, candidato de um terceiro partido.

Kim admite que se sente segura para votar em Stein por também viver num estado democrata. Se ela vivesse num estado indefinido, seu voto iria, relutantemente, para Hillary, já que apoiar um terceiro partido significa ajudar indiretamente os republicanos.

Candidatos filiados a terceiros partidos não conseguiram obter mais que 1% da preferência popular nas três últimas eleições, enquanto os 99% restantes foram divididos entre os tradicionais Partidos Democrata e Republicano.

"Isso não funciona mais para nós. Precisamos nos libertar do sistema bipartidário", argumentou Maria Guido, de Pittsburgh. Ele viajou à maior cidade de seu estado para demonstrar apoio a Sanders.

"Meu respeito por Bernie não diminuiu. Entendo que ele foi forçado a cooperar com os democratas e fez o que podia fazer", disse Guido, ostentando uma camiseta com os dizeres "Bernie or Bust" (Bernie ou fracasso) e buttons com a hashtag #NeverHillary (#NuncaHillary).

"Eu não apoio a corrupção"

Apesar do calor do verão, manifestantes carregando cartazes entoaram em uníssono slogans contra Hillary até o entardecer. Entre eles estava Christopher Norris, ativista do comitê de ação política NextGen Climate. Ele confeccionou buttons azuis com a inscrição Flip-a-delegate (algo como "mude o voto de um candidato"), na esperança de fazer com que delegados mudassem seu voto em prol do senador de Vermont.

"Eu já votei em Bernie", respondeu Norris, orgulhosamente, após ser questionado em quem vai votar nas eleições presidenciais. "Eu não apoio a corrupção", afirmou, referindo-se ao vazamento de e-mails do Comitê Nacional do Partido Democrata no início desta semana.

"Eu sei como podemos derrotar Trump, já expomos isso ao DNC. Michelle Obama afirmou 'quando eles jogam baixo, jogamos alto.' Precisamos subir e ir mais além; temos que combater a corrupção com a integridade. De outra forma, você vai ser o seu próprio inimigo e vai perder", disse Norris.

Trump, de jeito nenhum

Para alguns, votar em Hillary significa ir contra os ideais propostos pela campanha de Sanders, mas a possibilidade de o candidato republicano, Donald Trump, vir a se tornar presidente já basta para ficar do lado da candidata democrata. "Ele fará mais coisas boas do que Trump e causará menos danos", previu Jessica Beaty, uma advogada de 38 anos de Carbondale, Illinois.

Beaty veio para demonstrar seu apoio a Sanders junto com a amiga Erin Funk, que se disse decepcionada com o resultado, mas afirmou que votará em Hillary por temer uma presidência com Trump. "Ou enviamos uma mensagem de que só apoiamos uma agenda progressista ou tentamos evitar um mal presente: essa é uma decisão difícil e eu ainda não a tomei", explicou Beaty.

Os apoiadores de Sanders planejam manifestações para todos os dias da Convenção Nacional Democrata. Hillary terá que usar essa oportunidade para atraí-los para seu lado, um feito que parece impossível para os entusiastas mais fervorosos de Sanders - pelo menos por enquanto.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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