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Wikipédia aposta no professor para se tornar mais confiável no Brasil

Professores de universidades públicas e privadas, como UFRGS, USP e UFRJ, utilizam a ferramenta em sala de aula

24 mai 2013 - 10h07
(atualizado às 10h58)
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Oona Castro é diretora da Wikimedia Foundation no Brasil
Oona Castro é diretora da Wikimedia Foundation no Brasil
Foto: Instituto de Matemática da UFRGS / Divulgação

Durante uma palestra no final da tarde de ontem na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),  a coordenadora da Wikimedia Fundation no Brasil, Oona Castro, perguntou para uma plateia formada por professores e alunos da instituição quem ali usava a Wikipédia como fonte de conhecimento. Ela não esboçou surpresa ao ver que todos os presentes ergueram as mãos para demonstrar que a enciclopédia digital faz parte do cotidiano de quem utiliza a internet. O desafio agora é levar essa cultura para a sala de aula.

A jornalista que deixou a direção do site colaborativo Overmundo no ano passado para se dedicar ao projeto de ampliar a rede de voluntários da Wikipédia no Brasil acredita que o professor, e seus alunos, são a peça chave para garantir que a enciclopédia seja uma fonte de informação mais confiável. E ela não busca, pelo menos neste primeiro momento, parcerias institucionais com reitorias de universidades e governos. 

"Institucionalmente ainda existe uma grande resistência ao nosso trabalho, é uma ideia difícil de ser comprada pelos reitores e pelo Ministério da Educação, por exemplo", disse em entrevista ao Terra antes do evento, em Porto Alegre. Mesmo assim, o trabalho colaborativo com professores vem crescendo. Há dois anos, apenas alguns projetos isolados eram desenvolvidos por docentes de universidades públicas. Hoje, 13 das maiores instituições de ensino do País - como USP, Unesp, UFRJ e Unirio - adotam atividades acadêmicas relacionadas à enciclopédia.

Na UFRGS são dois projetos desenvolvidos por professores que dão aulas para os cursos de engenharia. Rafael Pezzi e Fabio Azevedo começaram a incluir a Wikipédia em sala de aula no segundo semestre do ano passado. Num primeiro momento, os alunos ficaram reticentes e apenas 10% participaram das atividades, que não eram obrigatórias. Mas este ano, Pezzi já comemora a adesão de quase a totalidade dos estudantes. "Quem participou ano passado foi passando adiante a ideia de que era legal. Este ano, dos 40 alunos da disciplina de física, 35 participam do projeto", comemora Rafael Pezzi.

Tanto nas aulas de física de Pezzi, quanto nas de matemática de Azevedo, o desafio para os estudantes é editar verbetes disponíveis na enciclopédia, tentando melhorar os conteúdos. "Cada aluno precisa editar três verbetes, de assuntos relacionados à disciplina. Quem conseguir, ganha um bônus na nota final do semestre", explica o professor. 

Segundo Fabio Azevedo, que já edita artigos da Wikipédia desde 2007, levar a enciclopédia até a sala de aula estimula os alunos a aprender. "Os trabalhos tradicionais são efêmeros. O aluno escreve, o professor lê e eles desaparecem. A única motivação do trabalho é ganhar pontos a mais na nota. Já um verbete na Wikipédia é algo útil, que vai ser lido pelos colegas, que vai servir para outras pessoas. Existe uma motivação diferente além da nota", afirma, ao considerar que o desempenho dos estudantes melhorou com a atividade.

Ele ainda diz que a utilização da Wikipédia em sala de aula não precisa ficar restrita à universidade. "Muitos professores do ensino fundamental e do médio me perguntam como poderiam usar a enciclopédia. Eles dizem que os seus alunos não têm um texto bom para a publicação, mas eu sempre falo que não é somente a edição dos verbetes que faz parte do trabalho do educador. Mostrar ao aluno como utilizar a Wikipédia de forma crítica também é importante", afirma. 

Segundo ele, um dos maiores problemas enfrentados pelos docentes hoje é o "copia e cola" de textos da internet. Para resolver isso, o professor precisa saber usar a internet e ensinar seus alunos a pesquisar na rede. "Acredito que seja papel do professor mostrar aos alunos como lidar com essa informação. Não pode dizer 'esqueçam a Wikipédia', porque os alunos vão usar ela, então precisa ensinar a ter espírito crítico. Verificar se a informação se confirma em outras fontes, mostrar que não dá para confiar cegamente em tudo que está ali, mas que esse conteúdo serve sim como uma fonte de informação". 

Como exemplos de atividades, ele sugere organizar gincanas cobrando conteúdos que podem ser consultados na rede. "O aluno vai precisar pesquisar e se certificar que o que aparece na Wikipédia é mesmo verdadeiro. Assim ele aprende a usar a ferramenta e ainda assimila o conteúdo", completa.

Não somos 100% confiáveis

Apesar de acreditar que por meio da ação dos professores a Wikipédia vai ganhar mais credibilidade, Oona Castro não vislumbra tornar a ferramenta uma fonte 100% confiável. "Queremos estimular um uso crítico da ferramenta. A Wikipédia não pode servir para um simples 'copia e cola', mas como uma fonte de referência para aprofundar o conhecimento", analisa. Segundo ela, a enciclopédia é um meio de se alcançar o conhecimento, pode ser o primeiro, mas não o único, nem o último. "Isso não vale somente para nós, qualquer fonte, seja um livro, um jornal, não deve servir como uma verdade absoluta".

A Wikipédia existe desde 2001, mas dois anos depois foi criada a Wikimedia Foundation, uma instituição que nasceu nos Estados Unidos com a missão de organizar o trabalho dos voluntários e captar doações em todo o mundo para expandir o volume de conteúdo produzido e disponibilizado gratuitamente na rede. Segundo Oona, no Brasil a enciclopédia já é o décimo site mais acessado na rede, e a meta é crescer ainda mais.

Rafael Pezzi (esq.), Oona e Fabio Azevedo explicaram o programa Wikipedia na Universidade para alunos e professores da UFRGS
Rafael Pezzi (esq.), Oona e Fabio Azevedo explicaram o programa Wikipedia na Universidade para alunos e professores da UFRGS
Foto: Instituto de Matemática da UFRGS / Divulgação

Ela explica que o foco hoje é investir em quatro mercados: Brasil, Índia, Oriente Médio e norte da África. Quando Oona foi contratada, no começo do ano passado, a ideia era gerenciar um escritório da fundação no País, mas a proposta foi logo abandonada porque, segundo a jornalista, percebeu-se que seria muito mais produtivo usar todo o recurso necessário para montar essa estrutura em parcerias com instituições educacionais. Assim, ela conta que no segundo semestre deste ano deve ser anunciada a parceria com uma grande entidade focada em educação para tentar dissiminar a enciclopédia nas comunidades brasileiras.

"Nós queremos que o movimento local assuma o protagonismo das ações", afirma. Ela diz ainda que a Wikimedia vai disponibilizar recursos, tanto para universidades quanto escolas, que queiram desenvolver projetos na área. "Nossa meta é criar uma rede de professores e alunos que vão contribuir para tornar a enciclopédia cada vez melhor", completa. Informações adicionais sobre como os educadores podem participar do projeto estão disponível na página da Wikipédia na Universidade

Mitos e verdades sobre a Wikipédia

- Não há editores e revisores contratados, todos são voluntários;

- Qualquer um pode editar os conteúdos, basta criar uma conta na ferramenta. Mas os conteúdos são verificados pela rede de volunários da Wikipédia;

- No Brasil, embora alguns artigos tenham sido traduzidos do inglês, boa parte do conteúdo já é produção própria de voluntários brasileiros;

- Nem todas as informações são confiáveis. Voluntários monitoram e vigiam páginas para retirar informações que não são seguras, mas é preciso ter visão crítica sobre o que está disponibilizado na ferramenta.

- A Wikipédia pode ser usada como fonte em trabalhos, mas é preciso cuidados. Oona Castro lembra que é uma excelente ferramenta para começar uma pesquisa, mas não para se aprofundar num assunto. Além disso, as informações devem ser checadas nas referências indicadas em cada artigo disponível na página. 

Fonte: Terra
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