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Como é criada a moeda virtual Bitcoin?

Para garantir a segurança das operações, há um código de criptografia que certifica que as bitcoins sejam usadas apenas pelo seu dono e evita gastos duplos e fraudes

3 nov 2013 - 11h24
(atualizado em 6/11/2013 às 18h54)
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<p>Atualmente, há 11,7 milhões de Bitcoins em circulação </p>
Atualmente, há 11,7 milhões de Bitcoins em circulação
Foto: Divulgação

O maior site anônimo de comércio de drogas foi retirado do ar no início de outubro. Como se previa, a cotação da Bitcoin, única forma de pagamento aceita nas transações, caiu vertiginosamente. Mas, nos dias seguintes, a cotação voltou a subir e encostar no patamar anterior. É difícil explicar todas as oscilações dessa moeda virtual. Até porque seu conceito, sua criação e sua aplicação diferem de qualquer outra.

O conceito da Bitcoin foi criado por Satoshi Nakamoto. Na verdade, trata-se de um pseudônimo, provavelmente inventado por um grupo de programadores que desenvolveram o projeto – até hoje, anônimos. A história começou em 2008, com a publicação de um artigo científico que descrevia o protocolo da moeda virtual como um sistema de pagamento peer to peer (P2P). Ou seja, uma rede que oferece a possibilidade de usuários efetuarem transferências de valores horizontalmente, sem a regulação de um órgão centralizador.

Para garantir a segurança das operações, há um código de criptografia que certifica que as bitcoins sejam usadas apenas pelo seu dono e evita gastos duplos e fraudes. Tudo isso com a transparência do código aberto. “É uma vasta rede de computadores pelo mundo todo que trabalham juntos para processar as transações, manter e atualizar seu histórico e controlar a emissão da moeda. Esse registro de transações é chamado de Blockchain”, explica Adam Stradling, fundador e CEO da Coin4ce, empresa situada em Santiago, no Chile, especializada em soluções para a tecnologia Bitcoin e cofundador da Tradehill.com, bolsa eletrônica para bitcoins localizada em São Francisto, na Califórnia.

Descentralizada, a Bitcoin está imune a pressões governamentais. Um exemplo são políticas econômicas que geram medidas inflacionárias, como a impressão de moeda para aumentar o dinheiro em circulação e, assim, desvalorizá-lo. Atualmente, há 11,7 milhões de Bitcoins em circulação, e o limite pré-definido de moedas é de 21 milhões. Depois disso, nada de “imprimir” mais.

De usuário para usuário, as transações podem ser feitas sem o pagamento de taxas. As comissões só existem caso seja utilizado um serviço de mediação. Mesmo assim, atualmente, são valores bem abaixo das taxas administrativas que um correntista paga para o banco, por exemplo. Segundo Stradling, as taxas reduzidas e a não sujeição a caprichos políticos são apenas algumas das inovações do sistema. “Outras vantagens são a velocidade de execução e irreversibilidade, segurança de recursos e possibilidade de pequenas transações, que antes da Bitcoin tinham preços proibitivos”, pontua.

Essas inovações já expuseram seus usuários a problemas. Em 2010, um ano depois de as primeiras Bitcoins começaram a circular, uma grande falha de segurança foi descoberta, e alguns usuários a aproveitaram emitindo bilhões de Bitcoins para si. Em pouco tempo, o problema foi corrigido, e as operações clandestinas, canceladas. De lá para cá, a aceitação da moeda digital tem sido gradual e, hoje, cada vez mais estabelecimentos oferecem essa forma de pagamento.

Mineração

Qualquer usuário pode criar Bitcoins. Por meio de um aplicativo, os computadores agem tentando quebrar chaves criptográficas e, na tentativa e erro, é formado um novo bloco de transações. Esse processo se chama de Bitcoin mining, ou mineração. Como o número de computadores que integram a rede P2P vem aumentando, fica cada vez mais difícil quebrar essas chaves. Isso quer dizer que, para minerar, o usuário precisa de uma grande quantidade de computadores, o que exige um consumo significativo de energia e traz pequeno lucro ao minerador.

“Manter a rede exige muito esforço dos computadores. Por que alguém contribuiria com o seu para mantê-la? Porque a rede recompensa dando bitcoins de volta”, explica Adam Stradling. A atividade, aliás, deve acabar assim que a quantidade de bitcoins circulando chegar ao teto de 21 milhões, o que deve acontecer em menos de 20 anos.

Mas é claro que, para conseguir Bitcoins, você não precisa minerar. Pode  apenas trocá-las por seu dinheiro usual. É possível fazer isso de “wallet para wallet”, ou seja, diretamente com outro usuário, sem intermediários, com valor negociado entre os dois. Mas há também sites que fazem essa mediação e estabelecem uma cotação para a moeda – definida a partir de cálculos matemáticos e pela oferta e procura. No Brasil, o mais aceito é o Mercado Bitcoin; mundialmente, o MtGox constitui-se do maior centro de troca da moeda. Até a segunda semana de outubro, um Bitcoin valia no Brasil R$ 313,32, de acordo com o Mercado Bitcoin. No MtGox, o preço era de US$ 137.

A Coin4ce, dirigida por Adam Stradling, auxilia pessoas e empresas com pouca familiaridade ao sistema. “Fornecemos aos usuários a capacidade de rapidamente comprar e vender bitcoins usando métodos de pagamento baratos e convenientes, armazenar a moeda de forma segura e aceitá-la como forma de pagamento em sua empresa”, conta Stradling, que ainda considera pouco simples a utilização da rede, o que breca a sua popularização. “Os maiores desafios são educação e facilidade de uso. Quanto mais fácil for o uso para usuários não técnicos e quanto mais gente souber o quão grande a Bitcoin é, mais pessoas vão começar a usar a rede.”

Como usar

No momento, são poucas lojas no Brasil que aceitam essas moedas virtuais. Aos poucos, porém, o sistema está se tornando mais conhecido no País. Há três meses, compras online de produtos da Terra Brasilis, empresa de distribuição de bebidas de alto padrão, situada em Pelotas-RS, podem ser feitas com Bitcoins.

Hoje, de acordo com José Artur Sedrez, sócio da empresa, as transações na moeda digital representam 10 a 15% do total de vendas. “Ainda é uma coisa muito nova, vista com algum receio por quem não conhece o procedimento. Acham que é complexo, mas é mais simples, seguro e rápido do que a maneira convencional”, afirma.

O comprador informa que está interessado no produto e recebe o código da carteira virtual da empresa. Após encaminhar a transação, o valor fica bloqueado até que seja confirmado o envio do produto. O processo todo demora apenas algumas horas, conferindo agilidade à compra virtual. O preço que a empresa cobra pelo produto em reais é convertido para a moeda digital de acordo com a cotação do Mercado Bitcoin. “Tem valido a pena. Uma coisa interessante é que a Bitcoin funciona como um produto que se troca por outro produto”, diz Sedrez.

Dúvidas

Apesar das facilidades e vantagens que o sistema oferece, ele ainda é visto com desconfiança por muitos. Apropriações indevidas de Bitcoins já aconteceram no passado devido a brechas de segurança. Seu uso como moeda oficial da Silk Road (rota da seda), um serviço online que funcionava como mercado anônimo para compra e venda de substâncias ilícitas, também não contribui para a imagem do sistema. Recentemente, uma operação do FBI fechou a Silk Road e prendeu Ross Ulbricht, acusado de ser o criador do site. Especulava-se que o mercado ilegal seria responsável por grande percentual das transações na moeda virtual. E de fato, com a notícia, a moeda chegou a registrar queda inicial de 20% em seu valor. Nos dias seguintes, porém, passou a se recuperar e encostar no patamar anterior.

Outra preocupação de investidores é a montanha russa da cotação da moeda, que tem variado bastante. Em julho de 2011, a Bitcoin era vendida a R$ 24,00 no Mercado Bitcoin. Hoje a cotação supera os R$ 300,00. Para Sedrez, no entanto, trata-se de uma oscilação natural. “Há muitas dúvidas por conta dessa variação, mas temos que considerar que cada vez mais lojas estão aceitando, então a moeda está chegando mais próximo de seu valor real. Isso pode pegar de surpresa os desprevenidos, mas quem está mais atento vê com bons olhos”, opina.

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