A relação entre os países que possuem armas nucleares por vezes parece um jogo de esconde-esconde. Confira alguns programas existem pelo mundo, dentro da regulamentação ou não. A relação entre os países que possuem armas nucleares por vezes parece um jogo de esconde-esconde. No começo de fevereiro, a Coreia do Norte realizou seu terceiro teste, seguindo sua lógica de exibicionismo como ameaça contra as sanções internacionais que recebe. Ao contrário das amostras coreanas, Israel esconde a sete chaves seu poderio. O país judeu nega a todo custo a posse de armamentos nucleares. Em 1970, foi criado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, com o objetivo de deter a propagação de armas nucleares pelo mundo. No documento original, só teriam direito a ogivas os países que já as possuíam antes do tratado: Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido. Assim como Israel e Coreia, hoje é sabido que diversas outras nações desenvolvem seu programa nuclear à margem do acordo. O Brasil é um deles, segundo o professor de História Contemporânea da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva. Mas por que esse desejo de possuir ogivas? De acordo com Teixeira da Silva, é muito mais do que um artefato de ataque. "A posse de um arsenal desse calibre funciona como uma arma de dissuasão, de convencimento". A seguir, separamos alguns programas existem pelo mundo, dentro da regulamentação ou não. O maior produtor de armas nucleares também foi o pioneiro e único a fazer uso delas. Os Estados Unidos começaram a desenvolver esse tipo de armamento em 1939, sob ordens do presidente Franklin Roosevelt, durante a Segunda Guerra Mundial. Em agosto de 1945, já governado por Harry Truman, os EUA atacaram Hiroshima e Nagasaki, vitimando mais de 200 mil pessoas. Nos 45 anos seguintes, mais de 70 mil ogivas de 65 diferentes variedades foram criadas pelos americanos. Entre 1940 e 1996, o país gastou ao menos o equivalente a atuais US$ 8,63 trilhões no desenvolvimento desse tipo de armamento. Em 2006, mais de US$ 1,2 bilhão de indenização foi pago aos cidadãos norte-americanos pela exposição causada pelos testes nucleares. Em acordo assinado há nove anos, o governo dos EUA se comprometeu a reduzir seu arsenal a 5.500 ogivas até 2012. Naquele ano, o presidente Barack Obama declarou que o país possuía 5.513. De acordo com a Federação dos Cientistas Americanos, a Rússia possuiria 4.650 ogivas nucleares ativas. Com isso, o país teria o segundo maior armamento, herança dos tempos de União Soviética. Os russos também figuram, junto com os americanos, como os recordistas em testes nucleares já realizados. O programa soviético de desenvolvimento de uma bomba atômica iniciou clandestinamente logo após a Segunda Guerra. Em 1961, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) lançou, em testes, a mais potente arma nuclear da história. Com 57 megatons - equivalente a 57 milhões de toneladas de dinamite -, a Bomba-Tsar foi detonada em uma ilha do Oceano Ártico. A bomba não tinha propósitos de guerra, já que era grande demais, mas apenas uso para propaganda do poder nuclear soviético. Após a dissolução da URSS, Rússia, Ucrânia, Belarus e Cazaquistão ficaram com o controle das armas. A assinatura do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, entretanto, estabeleceu que a Rússia ficaria sendo o estado nuclear enquanto os outros deixariam de ser. Segundo dados de 2010 do site Armas Nucleares Estratégicas da Rússia, o arsenal nuclear do país diminuiu bastante nos últimos anos, passando de dezenas de milhares de cargas nucleares para 2.679 ogivas. Os franceses se tornaram, sob o governo de Charles de Gaulle, em 1960, o quarto país a testar armas nucleares. O início do desenvolvimento das armas se deu logo após a intervenção dos Estados Unidos na Guerra do Suez, em 1956. Atualmente os franceses possuem cerca de 300 ogivas nucleares, e o país ocupa hoje o terceiro posto na lista das maiores forças neste tipo de armamento. A imensa maioria de seu arsenal está em submarinos. Em 1952, o Reino Unido se tornou o terceiro país a desenvolver armamento nuclear, apenas atrás de Estados Unidos e União Soviética. Apesar de não declarar oficialmente o tamanho de seu arsenal, os britânicos teriam aproximadamente 225 ogivas termonucleares, sendo 160 operacionais. Desde 1958, quando um tratado bilateral foi firmado, o Reino Unido e os EUA vêm cooperando e trocando informações quanto a questões nucleares. Há mais de 50 anos os britânicos não desenvolvem mais sistemas de lançamento, pois preferiram adquiri-los dos norte-americanos. O Reino Unido opera exclusivamente com o lançamento por meio de seus submarinos Vanguard. No último dia 25 de fevereiro, a Argentina voltou a acusar os britânicos de levar armas nucleares às Malvinas, ilhas disputadas entre os países. A medida, não confirmada pela Coroa, violaria os tratados para uso de armamento nuclear. A fronteira do Paquistão com a Índia é um dos mais possíveis cenários de guerra nuclear. Sabe-se pouco sobre o arsenal indiano, mas já foram realizados testes nucleares bem sucedidos pelo país. O governo da Índia justifica sua posição afirmando que o Tratado de Não Proliferação é "discriminatório", uma vez que legitima os arsenais nucleares já existentes - sem exigir seu desarmamento - ao mesmo tempo em que nega aos demais países o direito de possuir armas nucleares. Índia e Paquistão realizaram uma série de testes nucleares subterrâneos em maio de 1998, reprovados com veemência pela comunidade internacional. Com as explosões - cinco da Índia e seis do Paquistão -, as duas nações passaram a integrar o grupo das potências nucleares declaradas do mundo. Segundo o professor Teixeira da Silva, essa violação é justificada pela geopolítica muito específica dos países, todos aliados dos EUA. "Ou seja, se você tem o aval A Coreia do Norte é o país que anda causando a maior preocupação na comunidade internacional. Um teste nuclear no começo de fevereiro deixou o mundo em alerta e fez com que a Coreia do Sul realizasse manobras navais por precaução. O governo do país nortista ainda avisou que tudo foi só a "primeira etapa" e advertiu sobre ações "mais fortes" se houver novas sanções contra o país no âmbito das Nações Unidas. O ensaio atômico tem como objetivo, segundo os norte-coreanos, "proteger sua segurança nacional e soberania" contra o que chamaram de a "hostilidade" dos EUA, seu inimigo declarado. país asiático se retirou do Tratado de Não Proliferação em 2003 depois de desentendimentos com os americanos. Desde 1994, a Coreia do Norte havia desativado todo seu programa nuclear, inclusive para a produção de energia elétrica, em troca do recebimento de petróleo de outros países. Porém, no fim de 2002, os Estados Unidos acusaram o país de sustentar um programa nuclear secreto, cortando a ajuda energética. Com isso, a Coreia do Norte saiu do tratado e reativou suas usinas. Desde então, a comunidade internacional especula se o movimento havia sido apenas uma barganha do governo para voltar a receber ajuda internacional ou se o país estava mesmo engajado em produzir armas nucleares. De todos os países, Israel é o que mais parece brincar de esconde-esconde. Por não assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, não está exposto a controles da mesma forma que a Índia, o Paquistão e a Coreia do Norte. Diferentemente dos outros países, Israel nunca assumiu publicamente que possui armas nucleares. Oficialmente, o governo dos EUA também não reconhece a existência desse programa. A posição oficial de Israel, repetida por Aaron Sagui, porta-voz da embaixada israelense em Washington, é de que “Israel não será o primeiro país a introduzir armas nucleares no Oriente Médio. Israel apoia um Oriente Médio livre de qualquer tipo de armamento de destruição em massa depois que a paz seja alcançada”. Especialistas dizem que isso significa que o país não fará um teste nuclear nem irá declarar publicamente que tem tal armamento. Porém, estima-se que Israel tenha entre 200 e 300 ogivas. Poucas pessoas têm um conhecimento abrangente do programa israelense e não há vazamentos. Os que participam da pesquisa, obviamente nada divulgam; é considerado crime. Da última vez que ocorreu um vazamento, em 1986, o técnico nuclear Mordechai Vanunu foi sequestrado por agentes israelenses na Itália, levado de volta a Israel para julgamento e condenado a 18 anos de prisão, grande parte deles em solitária. O país pode seguir o exemplo dos mal comportados. E muito rapidamente, segundo o professor Teixeira da Silva. "Em um espaço muito curto de tempo, podemos começar a produzir armas nucleares", alerta. Mas a medida, de acordo com o professor, vai representar a decisão do País de romper com diversos tratados. "O governo que executar os planos do programa nuclear brasileiro, além de violar tratados, também infringirá a legislação brasileira", explica. A constituição de 1988 proíbe o uso da tecnologia para fins não-pacíficos. O Brasil desenvolveu um programa nuclear até o governo de Fernando Collor (1990-1992). Em 1998, aderiu ao Tratado de Não-Proliferação, depois de ter assinado vários outros, como o de Tlatelolco, em 1994, que cria uma zona livre de armas nucleares na América Latina e no Caribe. O programa nuclear brasileiro hoje se resume à geração de energia com duas usinas, Angra 1 e Angra 2, situadas no litoral do Rio de Janeiro e responsáveis por menos de 2% da energia consumida em todo o País. Em 2016, entrará em funcionamento a usina Angra 3. mais especiais de educação