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Entidades perderam representatividade com estudantes, diz sociólogo

Para professor da Unicamp, os protestos que tomaram conta do País evidenciam como o movimento estudantil organizado perdeu força

2 jul 2013 - 14h38
(atualizado às 14h38)
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<p>Manifestantes fazem protesto pelas ruas de Fortaleza (CE) pedindo mudan&ccedil;as sociais, como mais investimento na educa&ccedil;&atilde;o</p>
Manifestantes fazem protesto pelas ruas de Fortaleza (CE) pedindo mudanças sociais, como mais investimento na educação
Foto: Bruno Santos / Terra

Distante do ambiente que tornou o movimento estudantil um dos protagonistas da história do País, a juventude atual mostra uma articulação capilarizada, capaz de potencializar as manifestações ocorridas em diferentes cidades brasileiras nos últimos meses. Nesse cenário, fica a dúvida sobre o quanto as entidades estudantis estão se adaptando ao novo perfil dos jovens brasileiros.

Para o professor do Instituto de Filosofia e Ciência Política da Universidade de Campinas (Unicamp) Valeriano Costa, a expansão ocorrida no ensino superior, principalmente nas universidades privadas, mudou o perfil dos estudantes. "O sistema de ensino cresceu muito, o que trouxe um público muito mais heterogêneo para as universidades", comenta. Segundo o Censo da Educação Superior de 2011, o número de estudantes no ensino superior é de aproximadamente 7 milhões, 73% de instituições privadas. No início dos anos 2000, não chegava a 3 milhões o total de universitários brasileiros.

"O movimento estudantil perdeu sua força depois final da ditadura militar, a partir daí ele foi conquistado por um setor da esquerda e virou aparelho de um grupo dentro da política brasileira", comenta Costa. O professor acredita que o aumento de estudantes nas instituições privadas mudou o perfil do universitário brasileiro, e as entidades estudantis não acompanharam a novidade e perderam sua representatividade. Para Costa, este novo  estudante tem um perfil mais moderado, sem partido político, o que diverge das entidades que se posicionam politicamente.

Como se aproximar desse novo universitário?

"Existe uma tradição de luta nas universidades públicas", diz Tamiris Rizzo membro da executiva nacional da Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre (Anel). Percebendo a necessidade de aproximação com os universitários das instituições privadas, a ANEL criou há um ano e meio núcleo para jovens do ensino privado cuja luta é por um ensino superior de qualidade e contra o aumento das mensalidades.

Fundada em 2009, a Anel surgiu a partir de uma insatisfação de setores do movimento estudantil com a União Nacional dos Estudantes (UNE). O processo de ruptura começou em 2007, após o apoio da UNE ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Para Tamiris, a UNE se tornou "uma extensão do governo federal". "A UNE deixou de representar os estudantes em um momento muito importante, deixando de corresponder aos seus anseios", afirma.

A presidente da UNE recém-eleita, Vic Barros, rebate às críticas e afirma que a UNE apresenta uma participação cada vez maior de jovens nos congressos da entidade. Segundo ela, 2 milhões de estudantes votaram para eleger as chapas que disputaram a última eleição. O processo que escolheu a nova presidente teve a participação de 98% das universidades por meio de seus 3.764 delegados. Além disso, a entidade tem representação nos diretórios centrais dos estudantes das principais universidades privadas do País.

Vic comenta um novo fator que interferiu no perfil atual do universitário brasileiro. "O perfil mudou devido à ampliação de programas como Fies e Prouni, então o acesso ao ensino superior, principalmente privado, começa a chegar nas periferias e no interior do Brasil", diz. Para a presidente, a UNE permanece com um posicionamento independente em relação ao governo e não acredita que a Anel represente os estudantes. "Eu não conheço a Anel, nunca passaram na minha sala. A entidade dos estudantes é a UNE, que é construída por universitários de todo o País", sentencia.

Nono contexto social

Em junho, em sua palestra no Fronteiras do Pensamento - evento que reúne pensadores e debate temas da atualidade -, o sociólogo espanhol Manuel Castells comentou que os novos movimentos sociais não têm uma ligação partidária ou institucional. A visão do sociólogo, que esteve em Porto Alegre e São Paulo, atesta o novo perfil dos estudantes brasileiros, que compõem grande parte dos manifestantes que tomaram as ruas do País nas últimas semanas. "Diferentemente do que vimos nos últimos anos, os jovens envolvidos em coletivos e manifestações são estudantes de cursinho, universitários que trabalham durante o dia", conta Tamiris.

Tanto a Anel quanto a UNE garantem que estão atentas à transformação na participação dos jovens no cenário político e que buscam contemplar essas visões ao movimento, agregando lutas diversas, relacionadas ao meio ambiente, software livre, contra a homofobia e o machismo. "Acho que a juventude sempre esteve muito interessada em debater os rumos do País, só que hoje as oportunidades de debater o futuro são maiores se comparadas com a ditadura militar, em que a repressão era uma regra", comenta Vic.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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