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Estudantes mascarados ocupam prédio histórico da UFPR

Para reitor, episódio é uma "mancha na democracia da universidade"

4 nov 2016 - 18h06
(atualizado em 5/10/2022 às 15h51)
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Foto: Rodrigo Félix Leal / Futura Press

Manifestantes ocupam o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), na Praça Santos Andrade, em Curitiba, desde a noite de quinta-feira (3). O local, onde funcionam os cursos de Direito e Psicologia, além de laboratórios e duas pró-reitorias, é o símbolo da cidade. O grupo entrou por volta das 22h30, quando alunos e professores saíam das aulas, e bloqueou o acesso com correntes e cadeados. Houve empurra-empurra e relatos de feridos, mas sem gravidade. O reitor da instituição, Zaki Akel Sobrinho, classificou o episódio como "uma mancha na democracia da universidade".

Outras sete unidades da UFPR, sendo seis na capital paranaense e uma no litoral, também seguem tomadas. Os próprios representantes dos alunos, contudo, consideram o movimento no edifício central diferente, uma vez que ele antecedeu a realização de assembleias. O Centro Acadêmico Hugo Simas (Cahs), do Direito, por exemplo, se reuniria apenas na segunda-feira (7), para deliberar sobre a greve estudantil. Dois partidos do curso, o Democrático Universitário (PDU), com inclinação à direita, e o Acadêmico Renovador (PAR), historicamente mais alinhado à esquerda, também emitiram notas criticando a forma como se deu a ocupação.

Vídeos postados nas redes sociais mostram vidros sendo quebrados e empurrões entre pessoas favoráveis e contrárias à tomada do prédio. Estudantes e docentes relataram que foram mantidos do lado de dentro por cerca de meia hora, mesmo contra vontade. Os manifestantes estavam mascarados e empunhavam uma bandeira nas cores vermelha e preta, dividida diagonalmente, em partes iguais, e identificada como sendo de uma organização antifascista. Um sofá foi colocado contra a porta de entrada para impedir que se veja o que acontece de dentro.

Foto: Rodrigo Félix Leal / Futura Press

A reportagem foi até o edifício, entretanto, os participantes do movimento, que guardavam a porta, disseram que só se pronunciam por meio da página "Ocupa Santos Andrade", no Facebook. Segundo eles, o prédio histórico pertence a toda a comunidade e não apenas a alguns poucos cursos. Por esse motivo, sua ocupação representa um "marco importantíssimo do que vem sendo chamado de 'primavera estudantil'.

"Salientamos que a ocupação possui caráter pacífico, mas que, no entanto, algumas pessoas contrárias ao movimento agiram de maneira violenta, agredindo os ocupantes de forma verbal, moral e física (provocando o ferimento de três estudantes ocupantes, um deles, inclusive, com faca), e ainda forçaram as portas da entrada principal do prédio", relataram.

Em nota, o Cahs informou que foi surpreendido pela ocupação, realizada por universitários e secundaristas. Na tarde de hoje, membros do centro acadêmico se reuniram com os manifestantes, com o objetivo de conseguir uma solução para o impasse. "Houve uma tentativa de negociação, porém, apesar de as/os ocupantes se mostrarem abertos/as ao diálogo, não existe pretensão de desocupar o prédio até o momento", afirmaram. A entidade disse ainda que manterá a assembleia de segunda-feira, pois representa todos os alunos. "Pedimos aos grupos que tenham interesse em levantar seus apontamentos ao movimento que encaminhem ao Cahs, para que possamos fazê-lo".

Foto: Rodrigo Félix Leal / Futura Press

O reitor também se mostrou surpreendido, "pela violência e pela maneira truculenta como algumas pessoas encapuzadas invadiram o prédio". "As ocupações anteriores eram pacíficas, construídas com as comunidades setoriais, tinham até o apoio das unidades setoriais, e agora fomos surpreendidos por uma ação que machucou a universidade, machucou o próprio símbolo da democracia, do espaço republicano", comentou, em entrevista coletiva. Zaki contou que designou uma comissão de negociação e que acredita numa desocupação rápida. 

O reitor descartou, a princípio, pedir a reintegração de posse do prédio. "Já marcaram a posição, já teve repercussão até nacional, e agora é hora de recuperarmos o espaço", opinou. Em relação às pautas dos estudantes, o reitor informou que o Conselho Universitário deve se reunir nos próximos dias para debatê-las e, só assim, se posicionar a respeito. De acordo com ele, a transformação da medida provisória 746 em projeto de lei, como já vem sinalizando o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), seria um avanço. "Isso tranquilizaria a todos, pois a questão seria construída com mais debate, com mais prazo". 

Em todo o país, já são 170 as universidades ocupadas, conforme balanço da União Nacional dos Estudantes (UNE). Além da MP 746, que reforma o ensino médio, com flexibilização de currículo, os jovens protestam contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos gastos públicos e contra o projeto "Escola sem Partido". "A PEC 241, que agora é 55 no Senado, vai acabar com os recursos para Educação e vai acabar com os sonhos da juventude de uma universidade popular, de uma universidade em que caiba toda a juventude brasileira. A palavra de ordem, neste momento, é ocupa tudo", resumiu a presidenta da UNE, Carina Vitral, em nota.

Foto: Rodrigo Félix Leal / Futura Press
Fonte: Especial para Terra
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