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Brasil se acostuma à violência nas salas de aula

28 mar 2017 - 13h22
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Mais da metade dos professores do Brasil já presenciou algum tipo de agressão verbal ou física cometida por alunos de 11 a 14 anos contra algum colega e milhares já viram os estudantes levarem armas de fogo para a aula.

Este é o panorama apresentado pela pesquisa Prova Brasil 2015, elaborada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) do Ministério da Educação e aplicada a diretores, alunos e professores de todo o país.

"As agressões contra professores aumentaram muito nos últimos tempos", disse à Agência Efe a secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Fátima Silva, professora da rede pública no Mato Grosso do Sul.

No total, 132.244 professores, mais da metade dos entrevistados, admitiram que já testemunharam episódios de violência dos estudantes contra os companheiros de profissão, porcentagem que chega a 71% quando perguntados sobre agressões físicas ou verbais entre os próprios alunos.

"A questão da violência não é algo específico das escolas. A escola é o reflexo do que acontece na sociedade", argumentou Fátima Silva.

Entre os fatores externos que explicam este comportamento, a professora cita uma crise de "autoridade" na convivência familiar e, sobretudo, a determinação do contexto social no qual cada colégio está imerso.

De acordo com o estudo, 12% dos professores reconhece que alguns alunos vão à aula sob o efeito de drogas e 2.365 viram estudantes comparecer ao colégio, de maneira frequente, com armas de fogo.

"O número é um disparate. Embora a porcentagem seja baixa (1%), nenhum aluno deveria levar armas de fogo para a escola", afirmou o economista Ernesto Martín Faria, pesquisador da Fundação Lemann, que analisou a pesquisa para o portal QEdu, plataforma que detalha os dados oficiais.

A proporção chega a 5% nos casos em que os docentes perceberam que vários de seus alunos comparecem à instituição de ensino com algum tipo de arma branca.

"Há escolas com grande vulnerabilidade em várias regiões do país onde operam facções criminosas fortes", mencionou Martín Faria.

O círculo vicioso começa com bairros com grande vulnerabilidade, poucas políticas públicas e altos índices de violência, onde os filhos de famílias de baixos recursos frequentam, no melhor dos casos, escolas precárias que os dão uma formação insuficiente para chegar ao mercado de trabalho em igualdade de condições com outros.

Os números demonstram uma grande desigualdade no país", analisou Martín Faria, que aposta por "políticas de incentivo com mais recursos e melhores professores". Segundo a pesquisa, 41% dos professores ganha entre R$ 1 mil e R$ 2 mil brutos ao mês.

As regiões esquecidas no plano educativo são as mesmas que se repetem em outros índices de desenvolvimento: Norte, Nordeste e periferias de grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

"As escolas têm muitas dificuldades para fugir, se isolar do contexto de violência no qual vivem", comentou o especialista.

Funcionários do colégio Etelvina de Góes Marcucci, em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, admitiram que a violência nas salas de aula "é uma questão delicada", mas que além disso, o problema mais urgente nesse caso são as drogas e a facilidade que os alunos têm para ter acesso a elas.

A professora Fátima Silva denuncia que este clima serve como desculpa de alguns setores para ressuscitar o debate sobre a maioridade penal, estabelecida em 18 anos de idade no artigo 288 da Constituição brasileira.

"Muitos utilizam isto para tentar remediar o assunto dizendo que o que é preciso fazer é incorporar os adolescentes problemáticos ao sistema penitenciário. Isso é o contrário do que é preciso fazer", considerou.

O paradoxo está em um artigo antes na Constituição, onde se afirma que "é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação e à educação", entre outros recolhidos nesse fragmento.

EFE   
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