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O fim precoce da microeletrônica no Brasil

Investir em tecnologia tem sido uma sequência de ciclos no Brasil, um país que prefere manter papéis em gavetas ao invés de inovação.

28 out 2016 - 13h58
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Países que quiseram romper com a pobreza e o atraso investiram em educação e inovação. São exemplos disso a Noruega, Japão, Coréia do Sul dentre vários outros. Foi visando isso que surgiu o programa CI-Brasil. Esse programa teve como intuito gerir e qualificar brasileiros para tornar viável a criação de projetos em microeletrônica no país. Assim, surgiram as DHs (Design House) e os Centros de Treinamentos. A gestão desses centros coube a NSCAD com sede em Porto Alegre (RS) e ao Instituto Renato Archer, o CTI (Campinas-SP).

As DHs se espalharam pelo país, criando projetos para diversas áreas, incluindo TV Digital. A ideia era reduzir o saldo negativo na balança comercial do país, que historicamente é negativo no que tange a tecnologia. Estamos falando de bilhões de reais na balança, sobretudo em importações o que torna mais caro o produto e eleva a inflação.

Se no ponto máximo as DHs somavam pelo menos vinte e quatro instituições no país (2012), em 2016 foi o fundo do poço. Sem recursos, os centros de treinamentos estão sem turmas, DHs foram fechadas, a última delas a SMDH teve suas funções encerradas aos 27 de outubro de 2016. O programa CI-Brasil acabou!

Após seis anos de existência e vários projetos produzidos a equipe da SMDH com formação especializada na área se questiona o que será feito com tudo que foi desenvolvido. Estamos falando da Design House que contribuiu para o projeto NanoSat (lançado em 2014 na Rússia), que desenvolveu o microcontrolador ZR16 e ZR16LP, esse último com projetos em parceira com a Exatron e Imply.

Na outra ponta da cadeia produtiva surgiu a CEITEC, com a finalidade de ser a fábrica dos circuitos integrados no país, representando um movimento tecnológico incrível. Mas desde seu início tem amargado prejuízos.

Qual o motivo por trás do fracasso desse projeto, se no mundo a área continua aquecida e rentável? Afinal, as Design Houses foram criadas e incentivadas para captar esses profissionais, a CEITEC foi criada e mesmo assim nosso mercado é dominado por asiáticos.

O motivo pelo qual hoje temos mais profissionais qualificados e sem perspectivas de atuação na área de especialização é simples: ficamos reféns da burocracia. Sem planos de carreiras, os salários se resumiram a bolsas pagas pelo CNPq.

Erramos ao deixar na mão do CNPq o desenvolvimento de uma cadeia tão complexa. O ministério e suas excessivas normas, regras e editais com prazos e questões fora do contexto global acabou sufocando e dizimando a área que poderia transformar a economia do país.

Um claro exemplo disso são os níveis implementados em forma de bolsas, em que a quantidade de anos na área significava um acréscimo, mas de quanto estamos falando? Estamos falando de um salário de R$3000,00 ou R$3500,00 para profissionais com cinco ou seis anos de experiência.

Fora do Brasil, um mesmo profissional ganha $70 mil (dólares anuais) o que convertendo em reais representa dez vezes o que recebem aqui os bolsistas no primeiro ano do programa.

Num primeiro momento essa bolsa representa uma oportunidade para se qualificar, visto que todo o conteúdo e prática se faz com ferramentas da Cadence, empresa americana líder na área. Depois da qualificação, que dura um ano, vem o mercado de trabalho e a inevitável comparação com outras áreas.

A realidade meus caros é que um recém formado ganha mais que R$2000,00. Um graduado em engenharia tem sua carteira assinada baseada num piso nacional, a CLT garante sua aposentadoria, as empresas oferecem ainda planos de saúde, vale transporte e vale alimentação, o que eleva a renda líquida do profissional.

Mas e os membros discentes do programa, o que ganharam? Ganharam bolsas e nada mais. Sem perspectiva de crescimento a fuga de profissionais cresceu. Crescendo a ponto de não ter mais interesse ou Design House.

A produção de uma DH é o Circuito Integrado, um CI em silício (produto para celulares, tablets, notebooks, etc), diferente da produção de um grupo de pesquisa em universidade, que até podem desenvolver algo assim, mas com a principalmente finalidade de gerar artigos ou trabalhos (dissertações e teses).

As DHs deveriam gerar produtos com alto valor agregado, tirando o Brasil do vergonhoso atraso tecnológico. Com o fim da SMDH, seus projetos entrarão para a história como sendo fruto de um grande trabalho feito por uma equipe de profissionais que agora se veem procurando uma oportunidade, para qualquer área, visto que a sua não existe mais.

O Brasil perde com essa migração profissional, perde em competitividade. A Coréia do Sul é o exemplo de como investir em tecnologia transforma a economia e qualidade de vida de uma nação, nós que já fomos várias vezes tido com o país do FUTURO, amargaremos mais uma vez o atraso.

Precisamos repensar em como gerir a pesquisa e inovação no país. Erramos, perdemos e a consequência será a falta de competitividade, uma balança comercial de exportação de minérios e grãos e importação de tecnologia.

Falam que o país precisa de um estado menor e mais eficiente. Que precisamos de uma indústria inovadora e competitiva. Fizeram uma PEC para limitar gastos, mas não fizeram o mais simples: deixar quem entende liderar a inovação.

Temos profissionais para produzirmos em solo nacional e com tecnologia nacional TVs, celulares, carros, smartphones, tablets. O que nos falta é a liberdade de produção. Deixar que um programa como esse fique a cargo do MCTI, CNPq e similares. Acham que produção é geração e publicação de artigos.

Produção é geração de produtos, patentes. Produtos para problemas nacionais, mercado temos, profissionais também, mas infelizmente temos um governo que desconhece o significação da tecnologia, inovação e ciência de verdade.

Agora ficaremos com os papéis, os artigos, as propostas de projetos. A China, a Índia, a Coréia do Sul e outros, esses ficarão com bilhões do nosso bolso. Com todo o nosso mercado. Não reclamemos então pelos altos preços pagos em equipamentos vindos desses países, nem da demora em chegarem aqui para venda.

O melhor seria voltar a idade média e vivermos sem luz ou internet, pois se nos mantivermos conectados seremos vítimas fáceis da comparação: o que temos aqui e o quem tem eles por lá? Quanto pagamos aqui e quanto eles pagam por lá? O que o governo deles elegem como prioridade e em que o nosso investe?

DINO Este é um conteúdo comercial divulgado pela empresa Dino e não é de responsabilidade do Terra
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