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Cineasta chileno faz retrato íntimo da viúva de JFK em "Jackie"

8 dez 2016 - 13h53
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Uma das principais estreias do fim de ano nos EUA, filme de Pablo Larraín mostra os dias após o assassinato do presidente Kennedy pela perspectiva da então primeira-dama.Ao estrear em setembro no Festival de Cinema de Veneza, o filme Jackie foi aplaudido de pé - tanto pela excepcional interpretação da atriz principal, Natalie Portman, como para o diretor Pablo Larraín. No fim, o prêmio não foi nem para a atriz americana de origem israelense nem para o cineasta chileno: o produtor de TV e roteirista de Nova York Noah Oppenheim foi quem ganhou um Leão de Prata, de melhor roteiro.

Mas a grande surpresa acontecera já antes de o filme começar a ser rodado: ninguém esperava que um diretor chileno fosse ser encarregado dessa história intrinsecamente americana. Mas talvez tenha sido justamente essa perspectiva de fora que tornou o filme tão interessante.

Jackie, que estreou na sexta-feira passada (02/12) nos EUA, não é uma daquelas biografias opulentas, típicas de Hollywood. "Todo mundo conhece a história do assassinato de John F. Kennedy", observa Larraín. "Mas não pela perspectiva de sua esposa."

E foi precisamente essa a abordagem do diretor: ele examinou como "ambas" as Jacquelines Kennedy viveram aquele fatídico dia de novembro de 1963: o ícone da moda e viúva do presidente, e a pessoa privada em estado de luto. O que ela passou nos dias que se seguiram, afundada no luto e sendo o foco das atenções mundiais, ao lado dos filhos traumatizados?

"Rainha sem coroa"

"Jackie era uma rainha sem coroa que perdeu trono e marido", compara Larraín. Por isso, ele optou por concentrar seu filme na perspectiva interna da protagonista, explica.

Poucos dias depois do assassinato, um repórter da revista Life perguntou a Jackie como ela estava. Essa entrevista e os flashbacks são justapostos com cenas mostrando a viúva chocada e traumatizada diretamente após o tiroteio. As sequências têm uma coisa em comum: Portman, como a primeira-dama, está na tela praticamente ininterruptamente, emprestando densidade e foco ao filme.

"A elegante, culta e amada Jacqueline Kennedy é uma das mulheres mais fotografadas do século 20. Mas sabemos muito pouco sobre ela", explica Larraín. A "mulher introvertida e impenetrável" é provavelmente a "mais conhecida desconhecida da era moderna".

Larraín confessa gostar da noção de que ninguém de fato sabe, hoje, como ela realmente era: "Nunca vamos conhecer a sua aura, o brilho em seus olhos". Consequentemente, seu filme só poderia se compor de "fragmentos, pedaços de lembranças, associações, lugares, imagens, pessoas".

De Jackie a Neruda

Em 2015, Larraín ganhara um Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim por seu soturno O clube, que trata de abusos sexuais cometidos por padres no Chile. Também nesse caso, o cineasta sul-americano escolheu uma perspectiva não convencional.

Ao contrário do americano Spotlight - Segredos revelados, O clube não se destaca por ser um thriller eletrizante, mas como um psicograma dos perpetradores, retratando apenas alguns ex-sacerdotes enviados a uma casa isolada por terem cometido crimes contra crianças. O filme é sombrio, mas coerente.

Antes disso, Larraín, que é considerado um dos mais interessantes e ativos cineastas latino-americanos do momento, fizera três filmes tematizando a ditadura de Augusto Pinochet.

Recentemente ele abriu o Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, na Argentina, com sua mais recente produção, Neruda. Após o lançamento de Jackie nos cinemas americanos, a película sobre o poeta chileno e herói nacional Pablo Neruda está agendada para 16 de dezembro. Com essas duas obras, o público internacional terá a oportunidade de conhecer um fascinante cineasta e sua abordagem cinematográfica sobre dois ícones do século 20.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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