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Milhares de imagens de Ganesha contaminam águas indianas durante festival

21 set 2016 - 06h01
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Lagos, rios e praias no sul e no oeste da Índia transbordam de compostos químicos que se desprenderam das milhares de imagens de Ganesha, imersas nas águas por uma multidão de devotos durante os dez dias do Festival Ganesha Chaturthi, dedicado ao deus que tem cabeça de elefante.

Apenas na cidade de Nashik, uma das regiões onde a festividade é mais comemorada, as autoridades municipais recuperaram das águas na quinta-feira passada, cerca de 240 mil figuras, muitas delas com vários metros de altura, além de 169 toneladas de oferendas ao deus.

No primeiro dia do festival, as famílias colocam imagens da divindade nas casas, enquanto grupos religiosos e associações de moradores as exibem em altares temporários, onde são veneradas pela comunidade até o dia escolhido para irem para a água.

O vice-diretor da ONG Toxic Links, Satish Sinha, lembrou que, antigamente, as estátuas eram feitas com argila e corantes vegetais. Hoje em dia, no entanto, a maioria delas é feita a partir de moldes que utilizam gesso, uma forma muito mais rápida e fácil de multiplicar as imagens de Ganesha em grandes quantidades, frente à produção artesanal com argila.

Segundo ele, com o "gesso de paris", um material que não se desintegra, e a industrialização chegaram os problemas ambientais a esta antiquíssima tradição. Mas, mais do que com o material, Sinha se preocupa com o uso das pinturas sintéticas, especialmente por seu alto grau de chumbo, um componente de conhecido "impacto adverso aos humanos".

"Quando uma quantidade tão grande de imagens é colocada em um lugar tão pequeno, a pintura utilizada sem dúvida será transferida à água. E o chumbo é um metal pesado, não se destrói e tem uma vida muito longa", advertiu.

Após analisar diversos aspectos em dois lagos antes e depois do Ganesha Chaturthi, pesquisadores da Universidade Patkar-Varde, no estado de Maharashtra, concluíram que o ritual aumenta os níveis de acidez e metais pesados na água.

Ambos lagos registraram uma forte acidificação, ao passar de índices de pH 6,7 e 6,8 para pH 7,5, segundo o estudo, publicado em 2014 no "International Journal of Science and Research".

"Esta poluição prejudica o ecossistema porque mata os peixes, influencia negativamente nas plantas e bloqueia o fluxo natural da água. Além do mais, isso atua contra a saúde dos humanos, pois contamina as fontes de água potável", indicou o relatório.

Diante da magnitude do problema, o Conselho Central de Controle da Poluição (CPCB), vinculado ao governo, emitiu há seis anos um detalhado pacote de recomendações no qual apelava à utilização de materiais naturais, como dizem as "sagradas escrituras", ou a retirada dos adornos antes de serem colocados na água.

No entanto, as recomendações não são suficientes na Índia e para o vice-diretor da Toxic Links o governo precisa fazer campanhas de conscientização e educação.

"Esse é o desafio nos países em desenvolvimento, há regulações e recomendações adequadas, mas seu cumprimento é pequeno", ressaltou.

A isso se soma o fato de os assuntos "religiosos" serem temas "supersensíveis" no país dos 1.001 cultos. Tanto que o CPCB não quis comentar a questão.

Apesar de ainda se tratar de uma minoria, Sinha afirmou que já observa "algumas mudanças" na sociedade com grupos religiosos fazendo campanhas para diminuir o problema e outros buscam alternativas originais para venerar Ganesha de uma forma "ecofriendly".

Há oito anos, a organização Sprouts Environment Trust, por exemplo, fabrica Ganeshas de argila recheadas de comida para peixes, que depois são pintadas com cores naturais. Em apenas uma hora, as imagens se dissolvem na água, segundo o biólogo e presidente da Sprouts, Anand Pendharkar.

EFE   
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