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Cidadãos de Pequim e a rotina de viver com máscara e purificadores

10 dez 2015 - 06h11
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Logo após se levantar, a primeira coisa que um chinês faz em Pequim é olhar o smartphone. Não para ver as mensagens, mas como está o nível de poluição: se precisa sair com máscara ou se deve ligar o purificador de ar, um eletrodoméstico básico em casas e escritórios dos moradores da capital.

"Toda manhã, olho para ver como está o dia em meu telefone e reviso o purificador de ar que tenho para ver também quão poluído está dentro de casa", explicou Christina, taiuanesa que vive em Pequim há anos, onde trabalha para uma companhia de publicidade.

Hoje o purificador de sua casa estava com o indicador "vermelho", a mesma cor do alerta anunciado pelo governo local para esta semana. Foi a primeira vez que as autoridades decidiram ativar a máxima advertência por poluição na cidade.

"Estava tão poluído dentro quanto fora. Estou avaliando comprar mais uma ou duas máquinas para minha casa, que é grande, pois só essa não está dando conta", comentou Christina, cuja casa, como na maioria das construções de Pequim, não tem janelas bem seladas, o que torna difícil, para não dizer impossível, impedir que o ar externo entre mesmo que as janelas estejam fechadas.

Apesar de algumas companhias terem deixado seus trabalhadores ficarem em casa esta semana, esta taiuanesa teve que ir ao escritório na quarta-feira como em qualquer outro dia. "Como sempre, peguei minha máscara. Em cada escritório há uma máquina que purifica o ar, e nos espaços públicos há duas", explicou.

Esta é a mesma situação de uma funcionária de uma organização internacional. "Todos os dias pego a bicicleta para ir ao metrô e ponho a máscara. Hoje também", contou ela à Agência Efe na hora do almoço, quando decidiu passar dentro do escritório, "blindado" por máquinas que limpam o ar.

Nascida na província de Sichuan, no sul do país, ela está especialmente preocupada com sua filha, de apenas um ano. "Pedi aos meus sogros para que ponham a máquina purificadora a toda potência e que não levem a menina para a rua", explicou.

A medida, que pode parecer exagerada, faz parte de sua rotina na capital. "Sempre que há poluição faço isso, e nos últimos dias, só tivemos um dia em que pude sair com minha filha", lamentou.

Tanto ela como Christina destacaram que a qualidade do ar estes dias não é tão ruim como a da semana passada, embora continue grave.

Por volta das 16h (6h em Brasília) de quarta-feira, os medidores mostravam que a concentração de partículas PM 2,5 - as menores e mais prejudiciais para a saúde - não chegavam a 400 microgramas. A Organização Mundial da Saúde recomenda que não deve passar de 25, mas na semana passada o índice chegou a 666 e o alerta não passou de laranja, o segundo mais grave.

"O governo está respondendo à pressão da população e da imprensa. Muita gente no Weibo (o "Twitter chinês") se perguntava por que até pouco tempo não tínhamos um sistema de alarmes", destacou Chao Chao, um cidadão de Pequim de 23 anos.

Uma das situações mais criticadas, destacou, foi o governo local não ter recomendado então às escolas que fechassem suas portas, como fez quando lançou este alerta vermelho, decretado na terça-feira quando os níveis de poluição eram muito inferiores.

"Na semana passada houve gente que inclusive começou a dizer que o governo estava mentindo", lembrou Christina, enquanto sua filha, de 10 anos, aproveita o tempo em casa. "O alerta vermelho é muito divertido para estudantes", que não precisam ir à escola - embora os deveres de casa sejam enviados pela internet - ao contar à Efe "como é viver em alerta vermelho".

"De fato, o alerta vermelho é como qualquer outro dia de muita poluição, porque também temos que ligar o purificador em casa e colocar a máscara quando saímos. Talvez o que faria diferença seria acabar com a poluição".

EFE   
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