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Sombra de Trump paira sobre Acordo de Paris

23 nov 2016 - 06h01
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A sombra do recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se fez presente na Cúpula das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (COP22), em Marrakech, mas já era vislumbrada desde o dia em que sua vitória foi declarada e os alarmes sobre se os Estados Unidos abandonariam o Acordo de Paris soaram.

O acordo, no entanto, é "irreversível", "irrevogável" e "intocável": esses foram os adjetivos mais repetidos em 11 dias pelos diferentes líderes mundiais que passaram pela cidade marroquina, começando pelo presidente da França François Hollande, seguido pelo secretário de Estado americano, John Kerry, e por membros de governos de potências como China, Índia e Brasil (nesse caso representados pelos ministros Blairo Maggi (Agricultura) e Sarney Filho (Meio Ambiente)).

Durante a longa campanha eleitoral americana, e quando ainda parecia que Trump perderia, a mudança climática foi um dos temas sobre os quais o magnata se mostrou mais politicamente incorreto. Ele, por exemplo, qualificou o fenômeno como "conversa para boi dormir", destinada a diminuir competitividade das empresas americanas e prometendo que seu país sairia do Acordo de Paris e retiraria os fundos prometidos.

Sendo os Estados Unidos o segundo país que mais emite gases poluentes e um dos principais financiadores tanto das políticas de mitigação quanto das de adaptação (fornece mais de 20% de fundos mundiais), a inesperada eleição de Trump caiu como uma bomba entre os integrantes das delegações presentes em Marrakech. Cientistas, ativistas, políticos, médicos e líderes indígenas faziam parte das 25 mil pessoas reunidas na 22ª edição da Conferência do Clima e que, em muitos casos, levam anos de suas vidas se dedicando à luta contra o aquecimento global.

O discurso mais emotivo e comentado dos últimos dias foi o feito na quarta-feira por John Kerry, o enviado de Barack Obama para deixar claro alguns tópicos como o fato de uma "arrasadora maioria" de americanos acreditar na mudança climática e suas consequências, porque "são fatos e não opiniões, muito menos ideologias". Kerry não mencionou o nome de Trump em momento algum, nem o do Partido Republicano americano (onde o tema da mudança climática nunca foi muito popular), mas suas alusões foram mais do que evidentes e arrancaram empolgados aplausos do público que acompanhou seu discurso, muitos deles americanos.

O que sim Kerry expressou abertamente, e que depois foi repetido por outros líderes mundiais, foi que quando se está no poder certas opiniões mudam se comparadas ao que era dito na campanha, dando a entender que Trump poderia repensar suas palavras, pelo menos no tocante à mudança climática que pode alterar a "forma de viver" de todos. Praticamente esse mesmo argumento foi usado ontem pelo ministro do Meio Ambiente da Índia, Anil Madhav.

"Não devemos reagir sobre presunções. Nada foi dito ainda por Trump", afirmou Madhav, acrescentando que os pensamentos mudam quando se assume o poder.

Nem Kerry, nem Madhav, nem François Hollande, nem Ban Ki-moon quiseram mencionar o nome de Trump em seus discursos, para não transformar a questão em algo pessoal, mas todos eles fizeram questão de lembrar que o Acordo de Paris tem alcance mundial e que nenhum país pode desistir facilmente dele, não sem consequências.

Uma eventual saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris legalmente levaria quatro anos, mas o abandono da Convenção da Mudança Climática, o "guarda-chuva" no qual estão representados os 195 estados signatários, poderia acontecer em apenas um ano. Caso aconteça, isso deixaria os Estados Unidos de fora da organização que regula tudo o que diz respeito ao clima. Seria o equivalente a sair do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização Mundial da Saúde (OMS) ou do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Desde a eleição, o novo presidente está recluso em sua Trump Tower, mantendo um prudente silêncio impossível de ser decifrado, e nem mesmos seus assessores imediatos se pronunciaram sobre as significativas questões do clima.

EFE   
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