PUBLICIDADE

Reserva biológica Indio Maíz, um lar ancestral da Nicarágua sob risco

26 set 2016 - 10h01
Compartilhar
Exibir comentários

No extremo sudeste da Nicarágua, às margens do rio San Juan, fronteira natural com a Costa Rica, está localizada a reserva biológica de Indio Maíz, uma das maiores áreas de floresta tropical úmida na América Central e que nos últimos anos esteve sob espreita e invasão de colonos.

Habitada em 70% de seu território de floresta pelas comunidades indígenas Rama e Kriol, donos ancestrais dessa mata virgem, a reserva biológica é o lar de uma ampla variedade de animais representativos da fauna centro-americana, como a arara-militar-grande, da família do papagaio e que se encontra em perigo de extinção.

Para protegê-la dos colonos que estão tomando posse dessa área, de 2.639,8 quilômetros quadrados de extensão, e traçam caminhos que dividem terrenos dentro da floresta, as comunidades Rama e Kriol, organizadas no Governo Territorial Rama Kriol (GTRK), decidiram determinar e marcar com clareza seus limites instalando cercas perto da linha fronteiriça da reserva.

"A ideia de delimitar nosso território é o de conservar a reserva para nossos descendentes e não só para eles, mas para todos os nicaraguenses, porque estas florestas são de todos", explicou à Agência Efe um dos guardas territoriais da área, Margarito MacCree.

Várias organizações ambientalistas do departamento de Río San Juan, aglutinadas na União de Organizações Ambientalistas pela Defesa da Reserva Biológica Indio Maíz, decidiram apoiar o GTRK e organizaram um "trabalho conjunto de mestiços e Ramas", a fim de conservar essa floresta tropical úmida, certificada em 2003 como reserva da biosfera pela Unesco.

Essas organizações calculam que cerca de mil famílias provenientes do norte do Caribe e do centro da Nicarágua se assentaram dentro da reserva, atraídas por vendedores de terras que comercializam lotes de 21,15 a 32,25 hectares.

Os ecologistas asseguram que a situação está saindo do controle e denunciam um suposto abandono do Ministério do Ambiente e Recursos Naturais (Marena) e do exército da Nicarágua.

Além disso, apontaram funcionários locais como promotores da invasão de colonos em troca de respaldo político e fundos para fazer gestões.

O sistema de compra e venda de terra na reserva Indio Maíz funciona de forma tão desordenada que "houve casos em que uma mesma parcela ou sítio foi vendido a várias pessoas, provocando conflitos que terminaram em morte de uma das partes", disse à Agência Efe o dirigente da ambientalista Fundação del Río, Saúl Obregón.

O grupo de guardas encarregados da nova demarcação do território Rama-Kriol assegura que o GTRK enviou relatórios sobre a situação da reserva às instituições encarregadas do resguardo do mesmo, sem receber resposta.

O GTRK colocou sinais protegidos na Lei do Regime de Propriedade Comunal dos Povos Indígenas e Comunidades Étnicas e "esperam que os colonos façam uma reflexão e não continuem deteriorando a floresta", segundo seus integrantes.

Outra preocupação é que nos últimos 25 anos a floresta do município El Castillo, que faz parte da região de amortecimento da reserva Indio Maíz, foi substituída pelo crescimento da fronteira agrícola.

Segundo Obregón, "calcula-se que, ao ritmo de colonização atual, em 20 anos toda a reserva da floresta tropical úmida será destruída".

A reserva biológica Indio Maíz compreende seis municípios do departamento de Rio San Juan e da Região Autônoma do Caribe Sul, e abriga animais em perigo de extinção como o jaguar (Panthera onca), a anta (Tapirus bairdii) e a arara-militar-grande (Ara ambiguus).

EFE   
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade