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Pirâmides, ovnis e bases secretas: os mitos da Antártida

2 mar 2017 - 10h03
(atualizado às 12h45)
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Foto: Getty Images

Vestígios de civilizações ancestrais, naves extraterrestres e bases escondidas no gelo são alguns dos mitos sobre o continente gelado que os cientistas especializados na Antártida querem tirar do imaginário coletivo da população.

"Mais de um século depois das expedições que deram início à conhecida época heroica da exploração polar, a Antártida é ainda uma terra fértil para a ficção científica", disse à Agência Efe o paleobiólogo Marcelo Leppe, pesquisador do departamento científico do Instituto Nacional Antártico Chileno (INACH) e representante chileno no Comitê Científico para a Pesquisa na Antártida (SCAR, na sigla em inglês).

Há cinco anos circula na internet um artigo que fala da suposta descoberta, por "pesquisadores europeus e americanos", de "antigas pirâmides feitas pelo homem sob a grossa camada de gelo e neve da Antártida".

A nota, acompanhada de algumas fotos do Google Earth nas quais é possível ver formações de gelo parecidas com as monumentais construções egípcias, assegura que a descoberta poderia "mudar nossa percepção da história humana para sempre".

Embora não haja mais detalhes sobre a descoberta, a nota foi replicada em mais de 436 mil páginas da internet e divulgada em diferentes veículos de comunicação internacionais.

Longe de civilizações ancestrais, o padrão geomorfológico destas montanhas obedece à "estrutura cristalina das rochas e à erosão das rajadas de vento", explicou o paleobiólogo.

Segundo o cientista, a existência de civilizações antigas na Antártida é "totalmente impossível" já que trata-se de um continente cujas condições são impossíveis para um ser humano sobreviver.

Além disso, estima-se que a Antártida se congelou há pelo menos 23 milhões de anos, muitos milhões de anos antes da aparição dos primeiros Homo sapiens, o que refutaria a possibilidade de os seres humanos a terem povoado antes de seu atual estado de congelamento.

"A Antártida continua sendo uma das últimas fronteiras do conhecimento, um lugar inexplorado e misterioso sobre o qual o povo tende a especular", disse Leppe.

Desde o começo do século XIX, foram escritos muitos livros fantásticos sobre o continente gelado. Edgar Allan Poe iniciou o gênero de ficção científica polar com seu romance "As Aventuras Extraordinárias de Gordon Pym", seguido por Júlio Verne com sua obra "A Esfinge dos Gelos" e continuou com ficções cinematográficas como o filme "O Enigma de Outro Mundo", dirigido por John Carpenter.

"Este continente parece outro planeta, tem zonas inexploradas e, além disso, há pouca gente que pode visitá-lo. Por isso, acredito que é fácil acreditar em explicações esotéricas", afirmou Leppe, dizendo que o cérebro sempre tenta buscar explicações do desconhecido. "Às vezes, é mais fácil pensar que os extraterrestres chegaram".

Do mesmo modo que facilmente são encontradas imagens das supostas "pirâmides antárticas", também é possível achar na internet milhares de páginas que falam da observação de ovnis.

Outro mito que circula pela rede fala de uma "confabulação entre os governantes mundiais" para supostamente ocultar as civilizações encontradas na Antártida.

"Esta informação saiu depois da visita do patriarca russo à base de seu país em 2016. Eu estive com ele, estive comendo com seus compatriotas, oficiou uma missa e foi embora. Me preocupa que as pessoas acreditem nestas coisas tão rapidamente", lamentou o cientista.

Segundo Leppe, a magia da Antártida está em suas "características incríveis", como ser o continente mais alto do planeta - com uma média de 2,3 mil metros sobre o nível do mar -, abrigar sob o gelo o ponto mais baixo da terra - situado a 2,55 mil metros - assim como ter registrado a temperatura mais baixa da história, -89,4 graus, e ser o lugar com mais ventos, com sequências de até 304 km/h.

Além disso, acolhe 90% do gelo de todo o planeta. "Há tanto que se poderia pegar um bloco de gelo do tamanho de uma pirâmide do Egito para cada ser humano", comentou Leppe.

"Acredito que os cientistas devem robustecer nossa interação com os veículos de comunicação para tentar 'viralizar' a outra visão das coisas. Esta é uma das grandes tarefas para nossa ansiada sociedade do conhecimento, porque o grande inimigo da cultura sempre será a superstição", concluiu o cientista.

EFE   
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