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Medicina chinesa ameaça os burros da África

1 mar 2017 - 06h03
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Depois do rinoceronte por seu chifre e o elefante pelas presas, uma nova espécie muito menos exótica sofre na África os estragos da demanda asiática: o burro, cada vez mais cobiçado na China pela pele que é atribuída a propriedades curativas.

Perante a escassez de burros no mercado nacional devido à exploração, os chineses recorrem ao continente africano para comercializar peles deste equino e poder seguir fabricando o "E jiao".

Obtido após ferver a pele e vendido em pó ou em tabletes, o "E jiao" é uma gelatina utilizada na medicina tradicional chinesa para prolongar a vida e melhorar a pele e o desempenho sexual, cada vez mais popular entre a crescente classe média do gigante asiático.

Devido à popularidade deste quadrúpede nas zonas rurais, e à porosidade de alfândegas frequentemente corruptas, a África é um dos lugares preferidos dos comerciantes chineses que importam maciçamente pele para fabricar esse produto milenar.

"Os efeitos nas comunidades rurais são devastadores. Os burros são fundamentais para que o povo transporte lenha e água, para a agricultura", disse à Agência Efe Ashley Ness, inspetora da Highveld Horse Care Unit, que combate os massacres ilegais de equinos na África do Sul.

Estas redes obtêm os animais roubando seus proprietários ou os adquirem de donos necessitados de dinheiro rápido. Uma pele de burro inteira como um tapete, sem buracos, pode ser vendida depois na China por cerca de 500 euros.

"Muitas vezes deixam abandonados os corpos e a carne", afirmou Ness, acrescentando que o transporte desde a África do Sul é feito habitualmente por navio do porto de Durban e sem nenhum controle alfandegário.

Países como Níger e Burkina Fasso proibiram em 2016 a exportação da pele de burro à China depois que dezenas de milhares de equinos foram sacrificados. Outros governos, como os do Quênia e Botsuana, optaram por abrir criadouros para suprir a demanda chinesa de forma legal.

Uma das zonas mais afetadas pela febre da pele de burro é o sul do continente.

A polícia sul-africana confiscou em janeiro, em uma propriedade do leste de Johanesburgo, as peles de 3,5 mil animais, a maior quantidade até agora, em uma operação que permitirá avançar na luta contra as máfias dedicadas ao tráfico.

"A cada semana durante todo o ano passado um caminhão vinha e carregava peles", contou à Efe a inspetora Ness, que recebeu de moradores a denúncia que levou à captura, e cita um trabalhador na propriedade como fonte.

Ness calcula que entre 1,5 mil e 3,5 mil peles de burro saíram a cada semana em caminhões durante 2016 desse lugar, no qual foram encontrados dois cidadãos chineses que negaram serem os donos das peles e são investigados pela polícia.

A maioria das peles carecia de documentos que provassem sua procedência ou que os animais foram sacrificados segundo as regulamentações vigentes.

Em outra operação, a polícia sul-africana deteve no mês passado dois indivíduos relacionados com o massacre de mais de 100 burros em uma fazenda da província do Cabo Setentrional. Testemunhas dos sacrifícios denunciaram que alguns animais morreram a marteladas.

Na ação policial mais recente, as forças da ordem interceptaram em 20 de fevereiro, perto de Johanesburgo, uma carga de peles de burro com um valor estimado de mais de 150 mil euros.

A província sul-africana do Noroeste é uma das mais assoladas pelos roubos de burros. Vários proprietários denunciaram à imprensa local ter perdido, nas mãos dos ladrões, a maior parte de seus equinos, enquanto outros celebram a alta do preço deste animal graças à demanda chinesa.

Enquanto isso, o governo provincial trabalha com as autoridades chinesas na criação de vários criadouros para suprir o mercado do país asiático, e criar riqueza e postos de trabalho na região.

"Temos informações de massacres e tráfico de burros, e por essa razão queremos criar um mercado formal e cumprir com todos os requisitos legais", explicou à Efe Patrick Leteane, do governo da província do Noroeste, que espera que o projeto contribua para acabar com o comércio irregular da espécie.

EFE   
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