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Maior santuário de chimpanzés da América Latina, um refúgio contra os traumas

7 fev 2017 - 09h59
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Afastados dos flashes do público, meia centena de chimpanzés convivem no "santuário" de Sorocaba, uma cidade que se transformou em um refúgio para grandes primatas que sofreram "traumas" durante sua passagem por zoológicos e circos.

No alto de uma torre de cimento, Dolores, uma chimpanzé de 20 anos, dá saltos de maneira compulsiva, aplaude e grita incessantemente perante a indiferença de alguns de seus companheiros. São as sequelas de sua vida circense, que a deixaram "completamente louca", segundo conta o cubano Pedro Ynterian, proprietário desta reserva situada no interior de São Paulo.

A iniciativa surgiu há duas décadas e se professionalizou no ano 2000, quando decidiu associar-se ao Projeto Proteção dos Grandes Primatas (GAP), um movimento internacional que luta pelo direito à vida, à liberdade e à "não tortura" dos chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos.

Da mesma forma que nos zoológicos e circos, no "templo sagrado" os animais estão em cativeiro, mas as condições, ressalta Ynterian, são distintas: não sofrem o "estresse" do público, o tamanho das instalações é superior e a alimentação é ilimitada.

Os chimpanzés são os principais protagonistas deste "santuário" de meio milhão de metros quadrados, mas nele também convivem outros tipos de símios, aves, leões e ursos "resgatados" pelas autoridades regionais de circos e zoos, assim como de redes de tráficos de animais.

"Já não posso receber mais animais. No caso dos macacos e das aves, sou a favor que sejam postos em liberdade. Com os chimpanzés é diferente porque não têm para onde ir. São da África e os africanos os vão aceitar de novo", conta Ynterian, de 77 anos, microbiologista e proprietário de um laboratório testes de gravidez.

Este refúgio brasileiro será provavelmente o novo lar de Cecilia, uma chimpanzé do zoológico argentino de Mendoza que foi fechado ao público no ano passado após uma sequência de mortes.

Após uma disputa jurídica, um tribunal provincial pediu a mudança do chimpanzé, o que pode ocorrer nos próximos meses.

"Para Cecilia isto será totalmente diferente. Se ela tiver saúde para resistir a todo esse processo, ela vai ter uma vida muito feliz", assegura o empresário.

Em Sorocaba, os chimpanzés vivem em uma espécie de fortaleza construída com muros de cimento, dividida em diferentes compartimentos nos quais habitam os exemplares do mesmo grupo.

Em seu interior há gramado, mas não árvores, já que, segundo conta Ynterian, os galhos eram utilizadas pelos animais como ferramentas para saltar as paredes.

No refúgio, os primatas têm à disposição todo tipo de comida, mas da mesma forma que o humanos -com quem compartilham 99,4% do DNA- têm suas preferências: pastel de frango, refrescos e iogurte de cenoura, laranja e mel.

O doutor Ynterian chega ao "santuário" às 3h e prepara diariamente a comida dos chimpanzés, os quais considera parte de sua família, especialmente Guga, um macho dócil e brincalhão de 16 anos que cresceu no refúgio.

Outros chimpanzés são mais nervosos, como Alex e Bob, cujos dentes foram extraídos no circo, antes que as leis regionais proibissem o uso de animais nos espetáculos.

"Nosso primeiro alvo foram os circos, era onde os animais mais sofriam", afirma Ynterian, que assegura que a luta agora está centrada no "lobby" dos zoológicos".

Em 2009, a União Brasileira de Circos Itinerantes (Ubci) apresentou uma denúncia contra o "santuário", acusando o mesmo de realizar experimentos contra a aids, mas uma investigação posterior descartou possíveis irregularidades, segundo confirmou à Agência Efe o Ministério Público (MP) de São Paulo.

De acordo com o MP, na época uma equipe constatou que a entidade cumpria com todas as normas, tratava bem os animais e contava com uma licença do órgão protecionista.

"As denúncias foram completamente infundadas, a vingança de algumas pessoas do circo devido à pressão que o GAP e outras Ong's estavam fazendo para resgatar os animais do circo", recalcou GAP em uma nota enviada a Efe.

Com presença em cinco países, o GAP lançou uma campanha para que os grandes símios -em perigo de extinção- sejam Patrimônio Vivo da Humanidade, o que permitiria uma maior proteção das populações em liberdade, de seu habitat e das comunidades locais e indígenas que habitam em zonas pelas quais campeam estes animais.

EFE   
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