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Geleiras dos Alpes italianos se rendem à mudança climática

15 mar 2017 - 06h02
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A situação das geleiras é dramática na Itália, onde quase todo o gelo está derretendo devido à mudança climática e algumas podem desaparecer nas próximas décadas, segundo o Comitê Glaciológico do país (CGI).

"Nos últimos anos, quase 100% das geleiras italianas monitoradas sofreram diversas reduções, fortes contrações, e perderam tanto em extensão como em volume", explicou à Agência Efe Carlo Baroni, coordenador do setor da Lombardia do CGI.

O CGI conta com mais de um século de existência, realiza a cada ano campanhas de monitoramento das massas de gelo do país (a grande maioria delas na cadeia montanhosa dos Alpes, no norte do país) e trabalha com 200 operadores graciologistas, embora todos eles sejam voluntários.

Baroni esclareceu que há alguns anos as geleiras "adquirem espessura ao invés de perder" devido aos "altos e baixos nas temperaturas e precipitações", mas que "a tendência não para", e apontou que o principal motivo da redução das massas de gelo é o aquecimento global.

"O aquecimento global é incontestável por causas que podemos deduzir: há uma evidência de que a emissão dos gases do efeito estufa, sobretudo CO2 e metano, são relevantes para o aquecimento", destacou Baroni.

Como geólogo, Baroni não vê "um problema conceitual na contração ou expansão das geleiras", mas sim em que "nada seja feito para reduzir a poluição, algo extremamente necessário", e embora seja consciente das pressões políticas que rodeiam este tema, "o que é certo é que geleiras estão se descongelando".

Este derretimento das geleiras traz uma série de riscos evidentes que estão aumentando. Tristemente, a Itália é vítima deles, como o deslizamento de terras que deixou dezenas de mortos em janeiro no centro do país. Além do risco trazido pela mobilidade das geleiras, em zonas altas das montanhas, que cada vez são mais visitadas por turistas.

Baroni nomeia casos concretos como o da geleira Adamello (no vale Camonica, entre as regiões da Lombardia e Trentino-Alto Ádige) e do Careser (na cadeia montanhosa Ortles-Cevedale, no vale do Peio, na região de Trentino-Alto Ádige), que é monitorada desde 1967 e que "em poucas dezenas de anos diminuirá muitíssimo, até desaparecer em 2050, aproximadamente".

Outro caso que chama atenção da Associação Italiana de Guias Ambientais Excursionistas, a única de seu âmbito reconhecida pelo Ministério do Desenvolvimento Econômico, é o caminho que percorre Morteratsch (montanha do maciço de Bernina) e que está cheio de sinais que mostram como a geleira foi retrocedendo desde 1845 até hoje, com uma média de 200 metros a cada década.

Seu vice-presidente, Filippo Camerlenghi, fala de uma "situação dramática" em uma geleira que "tem milhares fendas", por isso que a associação chama a atenção das "pessoas para a mudança climática e o fato de que as geleiras estão diminuindo, algo que está tendo muita atenção por parte do público e das escolas".

Além disso, em novembro do ano passado uma equipe de pesquisadores do Instituto para a Dinâmica dos Processos Ambientais do Conselho Nacional de Pesquisa de Veneza (CNR) publicou um artigo que afirma que as geleiras da montanha de Ortles, também na cordilheira Bernina, estão se deslocando após sete mil anos de existência.

O CGI lamenta a falta de interesse das autoridades no monitoramento contínuo das geleiras, em comparação, por exemplo, com o dos vulcões, e da falta de fornecimento dos instrumentos pertinentes.

Além disso, reivindica maior cooperação por parte da administração das regiões, que, segundo Baroni, "adquirem as imagens atualizadas das geleiras, mas não disponibilizam livremente", o que dificulta seu trabalho de comunicação com os países que compartilham os Alpes.

O presidente do CGI, Massimo Frezzotti, declarou em conversa por telefone com a Efe que "não se pode esquecer que as massas de gelo representam a caixa d'água doce durante o verão", razão pela qual as geleiras "alimentam a agricultura e a indústria".

"O que podemos fazer para evitar este descongelamento? Individual e localmente, muito pouco, porque houve alguns projetos que foram criados principalmente para permitir que as pessoas esquiem no verão", lamentou Baroni, enquanto as geleiras dos Alpes continuam descongelando sem pausa. EFE

EFE   
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