Esqueça o telescópio: veja dicas para ser um astrônomo amador
9 jul2011 - 10h59
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Angela Joenck Pinto
Para alguns, pode parecer que é só comprar um telescópio e mirar para o céu, mas se tornar um astrônomo amador não é nada fácil - e dois anos separam o início da atividade do primeiro telescópio. "Existe uma grande diferença entre o que a gente chama de entusiasta por astronomia e astrônomo amador" diz o engenheiro químico Tasso Augusto Napoleão, um dos fundadores da Rede de Astronomia Observacional (REA) e tido pelos próprios profissionais da ciência como um dos amadores mais ativos e competentes do ramo da astronomia. "O fato de o camarada comprar um telescópio não o qualifica como amador de jeito nenhum. Esse é o entusiasta. E não tem nada de errado em ser entusiasta, pois todo mundo começa assim", explica Napoleão.
A aquisição de um telescópio é, na realidade, o primeiro erro de quem quer ingressar no mundo da astronomia amadora. "Comprar telescópio é justamente coisa de quem não é do ramo. Essa é a pior coisa que você pode fazer. Quase sempre você vai ter um equipamento inadequado para aquilo que você queria, que não vai funcionar. Vai ficar desmotivado e acabar abandonando o interesse pela astronomia", alerta o engenheiro, que aconselha inicialmente que a pessoa observe o céu a olho nu e aprenda a montar um mapa para reconhecer as constelações.
Até o ato de olhar para cima e analisar o céu tem lá suas complicações. A iluminação das grandes cidades, quando feita de modo não adequado, faz com que as luminárias joguem parte da energia consumida para o céu. "Em média, 30 ou 35% é perdido, dependendo do tipo de luminária empregada. O que quer dizer também que nós todos pagamos 35% a mais na conta de luz pública em função disso, e esse é um problema sério que afeta tanto a astronomia profissional quanto a amadora", diz Tasso Napoleão.
Ele cita o remanejamento do observatório da USP como consequência deste problema. "Para você ter uma ideia, o observatório da USP que fica na fronteira da cidade de Valinhos e Vinhedo teve que desmontar o maior telescópio que existia lá e levá-lo para Brasópolis, onde fica o maior observatório brasileiro. E por quê? Porque as cidades de Valinhos e Vinhedo cresceram em volta do observatório e a iluminação é tanta que não dá mais para fazer pesquisa lá", diz. Em cidades grandes, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a observação fica limitada a astros muito brilhantes, como a lua e os planetas. Por isso, para fazer um bom estudo das estrelas, é preciso sair do perímetro urbano e analisar o céu com atenção. Não bastam alguns minutos. É necessário passar pelo menos duas horas observando as mudanças.
Depois de passar alguns meses preparando mapas do céu e reconhecendo constelações, chega a hora de comprar o seu primeiro equipamento: um binóculo. "O binóculo, para a astronomia, é o melhor maneira para você começar, porque é um instrumento com campo de visão muito maior, o que é favorável para o iniciante. É algo que o astrônomo amador vai usar a vida inteira, e é um investimento muito menor do que um telescópio", diz o integrante da REA.
Clubes
Para fazer o melhor uso do seu binóculo e dar o próximo passo no ramo da astronomia amadora, é preciso procurar os clubes e associações da sua cidade - ou região. A Rede Brasileira de Astronomia RBA contabiliza 160 associações registradas em chamados "nós locais".
"É um numero comparável ao de clubes amadores da França, Inglaterra e Alemanha, que são países que, embora tenham população menor, são todos de primeiro mundo. O Brasil não deixa nada a desejar", diz Napoleão.
Engana-se quem pensa que estas associações são pequenos clubes de aficionados. Somente o Clube de Astronomia de São Paulo tem mais de 1 mil associados e possui uma grade de cursos em parceria com a USP. São seis semestres de formação gratuita para astrônomos amadores, com 40 horas/aula em cada módulo. Outros clubes do Brasil têm programações semelhantes, com observações públicas.
A compra do telescópio
Os astrônomos amadores recomendam experiência de, no mínimo, 2 anos de observações antes da compra do primeiro telescópio. "Todo astrônomo amador experiente vai te dar esta mesma recomendação. O camarada que compra um telescópio e nunca usou, vai ter dificuldade de localizar objetos, a não ser que seja a lua, evidentemente", explica o engenheiro. Isso porque o telescópio é um instrumento de campo de visão muito pequeno, e os anúncios para a venda dos equipamentos dão uma noção errada da sua função. e normalmente o leigo se engana sobre a real função do equipamento. "O telescópio não serve pra aumentar nada, é um conceito errado. A função do telescópio é recolher mais luz do que o olho humano. O aumento é dado por uma pecinha que a gente encaixa no telescópio - que se chama ocular - e que tem que ser compatível com o equipamento que você comprou", alerta o amador.
Cada instrumento em particular tem um aumento máximo permissível, e se você trabalhar acima deste limite, a visão ficará distorcida, como se a imagem estivesse dentro de um aquário. Isso acontece porque nós estamos dentro da atmosfera da Terra, onde turbulências, ventos e deslocamentos de massa de ar, principalmente na atmosfera superior, influenciam nos resultados e não é possível obter foco. "Mas isso a gente aprende com a experiência. Se quiser ser astrônomo amador, é preciso se dedicar, estudar, se preparar e, acima de tudo, observar muito", conclui.
O prêmio promovido pelo The World at Night (www.twanight.org) é um dos que incentivam os astrônomos amadores. O 1º lugar da categora Beauty of Night Sky 2011 do International Earth and Sky Photo Contest on Dark Skies Importance: a foto "Starry Night of Iceland" mostra o arco da aurora boreal sobre um lago glacial na Islândia
Foto: The World at Night/Stephane Vetter / Divulgação
1º lugar da categoria Against de Light 2011 do International Earth and Sky Photo Contest on Dark Skies Importance: foto "Alps at Night" do céu estrelado acima de uma paisagem alpina com a névoa dominando o entorno do lago Trausee, na Áustria, mostra a briga entre o aumento da poluição luminosa e o céu escuro natural
Foto: The World at Night/Thomas Kurat / Divulgação
2º lugar da categoria Beauty of Night Sky 2011: "Galactic View From Planet Earth" mostra o bojo central da Via Láctea capturada em uma noite estrelada da Austrália
Foto: The World at Night/Alex Cherney / Divulgação
2º lugar da categoria Against de Light 2011: "Isfahan Milky Way" mostra o arco da Via Láctea sobre o centro do Irã e some ao nordeste da cidade histórica de Isfahan
Foto: The World at Night/Mehdi Momenzadeh / Divulgação
3º lugar da categoria Beauty of Night Sky 2011: "Beauty of Southern Sky" mostra uma faixa da Via Láctea acima do vulcão Piton de La Fournaise (Pico da Fornalha, em tradução livre) na Ilha da Reunião, na França
Foto: The World at Night/Luc Perrot / Divulgação
3º lugar da categoria Against de Light 2011: Na foto "Lisbon Sky Lights", as luzes das estrelas e da lua crescente se misturam a trilhas deixadas por aviões no céu, acima da Ponte 25 de Abril, em Portugal
Foto: The World at Night/Miguel Claro / Divulgação
4º lugar da categoria Beauty of Night Sky 2011: "The Great Wall at Night" mostra a Via Láctea nas constelações de Escorpião e Sagitário acima do Wu Saint Gate, na Grande Muralha da China
Foto: The World at Night/Xiaohua / Divulgação
4º lugar da categoria Against de Light 2011: "Venus Above Reunion Island" mostra a deslumbrante luz do planeta Vênus na vista panorâmica de uma montanha no Parque Nacional da Ilha da Reunião, na França
Foto: The World at Night/Luc Perrot / Divulgação
5º lugar da categoria Beauty of Night Sky 2011: "Startraills above an Alien Lake" mostra rastros de estrelas pelo polo norte celeste acima do Lago Mono, na Califórnia, nos Estados Unidos
Foto: The World at Night/Grant Kaye / Divulgação
5º lugar da categoria Against de Light 2011: "Lights From the Hidden City" mostra refletida em nuvens a poluição de luzes de Portland, nos Estados Unidos
Foto: The World at Night/Ben Canales / Divulgação
1º lugar da categoria Beauty of Night Sky de 2010: "Full Moon Rainbow" mostra uma noite enluarada nas cataratas Yosemite, na Califórnia, nos Estados Unidos
Foto: The World at Night/Stephane Vetter / Divulgação
1º lugar da categoria Against de Light de 2010: "Temple Night" é uma fotografia panorâmica de uma noite estrelada no Templo de Poseidon, em Cabo Súnion, em contraposição com a imensa poluição de luzes de Atenas
Foto: The World at Night/Chris Kotsiopoulos / Divulgação
2º lugar da categoria Beauty of Night Sky de 2010: "Light House and Stars" mostra a costa de Oregon, nos Estados Unidos, com uma noite estrelada e o brilho de um farol ao fundo
Foto: The World at Night/Larry Andreasen / Divulgação
2º lugar da categoria Against de Light de 2010: "Milky Way above Romania" mostra a esplêndida Via Láctea acima das luzes de uma cidade na Romênia
Foto: The World at Night/Cristina Tinta Vass / Divulgação
3º lugar da categoria Beauty of Night Sky de 2010: "Stargazers" foi tirada durante uma noite de observação pública em uma colina em Targoviste, na Romênia. A Lua e Vênus podem ser vistos na imagem
Foto: The World at Night/Valentin Grigore / Divulgação
3º lugar da categoria Against de Light de 2010: "Observatory and Capital" é uma foto panorâmica da vista do Observatório Byurakan, na Armênia, com a lua sendo apresentada à direita
Foto: The World at Night/Mahdi Zamani / Divulgação
4º lugar da categoria Beauty of Night Sky de 2010: "Pine Tree Startrails" mostra um pinheiro com o céu estrelado ao fundo. A foto foi tirada na costa atlântica de Portugal com um tempo de exposição de 90 minutos
Foto: The World at Night/Miguel Claro / Divulgação
4º lugar da categoria Against de Light de 2010: "Lights of Los Angeles" mostra uma vista panorâmica da poluição de luzes da metrópole, com apenas o planeta Júpiter brilhando minimamente à esquerda no céu
Foto: The World at Night/Ali Douraghy / Divulgação
5º lugar da categoria Beauty of Night Sky de 2010: "Starry Night of Croatia" uma grande-angular em preto e branco do céu repleto de estrelas no Parque Nacional Sjeverni Velebit, na Croácia
Foto: The World at Night/Vid Nikolic / Divulgação
5º lugar da categoria Against de Light de 2010: "Lights vs. Stars" mostra o contraste entre as luzes da cidade e o céu estrelado. As constelações de Orion e Touro são visíveis ao lado contrário da poluição de luzes
Foto: The World at Night/Fredrik Broms / Divulgação
O americano Tom Lowe recebeu o prêmio de Fotógrafo de Astronomia do Ano 2010 do Real Observatório de Greenwich, no Reino Unido, por causa de uma imagem que mostra a Via Láctea. Apesar do prêmio, Lowe não ficou totalmente satisfeito com a foto, principalmente por causa da luz artificial disparada por acidente que ilumina a árvore em primeiro plano. O prêmio é aberto para profissionais e amadores
Foto: Divulgação
Anthony Ayiomamitis (Grécia) registrou a lua cheia atrás das ruinas do templo de Poseidon, no sul de Atenas, e ficou em quinto lugar
Foto: Divulgação
Dhruv Arvind Paranjpye (Índia), 14 anos, foi o vencedor na categoria Jovem Astrônomo com este fotografia de um eclipse anular. Este evento ocorre quando a Lua está longe demais da Terra para cobrir totalmente o disco solar - ao contrário do que ocorre em um eclipse total. O observatório alerta que é necessário equipamento especializado para observar o Sol com segurança. Observar o astro com telescópio, binóculos, câmeras e até com o olho nu pode causar danos e, em casos mais graves,
Foto: Divulgação
Edward Henry (EUA) fez este registro da galáxia de Andrômeda, uma das mais parecidas e próximas da Via Láctea (apesar de a luz que sai de lá levar cerca de 2,5 milhões de anos para chegar até nós)
Foto: Divulgação
O concurso Hidden Treasures, o observatório ESO, prêmio as melhores imagens processadas por amadores. A partir de registros dos telescópios do ESO, os participantes corrigiam distorções causadas pela atmosfera e adicionavam cores às imagens que eram originalmente em tons de cinza. A imagem vencedora mostra o complexo nebuloso M78 em Orion. O russo Igor Chekalin foi o grande vencedor da competição e ganhou uma viagem para o Telescópio Muito Grande, em Paranal, no Chile
Foto: Divulgação
A foto mostra as galáxias NGC3169, NGC3166 e NGC3165. O Prêmio Tesouros Escondidos 2010 de astrofotografia teve cerca de 100 inscritos
Foto: Divulgação
Foto da galáxia NGC6729 levou o terceiro lugar. Os participantes escolhiam entre as fotos do banco de dados do ESO e tinham que corrigir distorções, retirar marcas indesejadas e colorir e ressaltar os dados astronômicos